Ganhos fora do Brasil | Fundos de pensão avaliam alocações em ati...

Edição 298

 

Os fundos de pensão que até então se encontravam confortáveis em estratégias mais conservadoras, baseadas em compras de títulos públicos, devem começar a diversificar seus investimentos rumo ao mercado internacional. De acordo com o consultor e diretor da PPS Portfolio Performance, Everaldo França, até mesmo os fundos de pensão que já investiram no exterior e reduziram a alocação vão retornar para essa classe de ativos por consciência de que é necessário partir para a diversificação em ativos fora do país. “No ambiente de juros que o Brasil se encontrava, ninguém precisava diversificar. O fato é que hoje, com juros menores e perspectiva de mais queda, é preciso rever as estratégias. Temos que olhar o que fazem os investidores de outros países, por exemplo, que estão no cenário de juros mais baixos há mais tempo. Eles diversificam muito”, diz França.
Uma das entidades que já começou esse movimento há algum tempo e agora planeja ampliar seus investimentos no exterior é a Previ-Ericsson. Com um patrimônio total de R$ 1,27 bilhão, a entidade possui 4% desse volume aplicado em ativos internacionais fracionados em três fundos de gestores diferentes, e o alvo do fundo de pensão é ampliar o percentual para 6% do patrimônio aplicado no exterior, incluindo mais três gestores na carteira. “A decisão de investir fora do Brasil vem de querer diversificar em mercados mais evoluídos e estáveis”, diz o diretor superintendente da Previ-Ericsson, Rogério Tatulli. “O Brasil, apesar das altas taxas de juros, é um mercado de risco e 2018 será um ano de volatilidade ainda maior por conta das eleições”, comenta.
A Previ-Ericsson iniciou os investimentos no exterior em 2012. Apesar de alguns ajustes, reduzindo ou eventualmente ampliando os investimentos conforme a estratégia elaborada para o cenário apresentado em cada momento, a entidade manteve sua posição na classe de ativos e hoje conta com dois fundos de renda fixa, sendo um gerido pela Western Asset e um pela Pimco, além de um fundo de renda variável com foco em Europa gerido localmente pela Votorantim Asset Management (VAM) em parceria com a Allianz. “Teremos ainda este ano mais um fundo de ações com foco nos Estados Unidos e para ano que vem queremos ficar mais expostos a câmbio”, destaca Tatulli.

Estreantes – Outras fundações estão começando agora a aplicar em ativos fora do Brasil. A Capef, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Nordeste, é uma delas. A tendência de manutenção de juros mais baixos aliada à busca por maior diversificação de riscos levou o comitê de investimentos da entidade a aprovar a alocação no segmento. A estratégia estava em análise dentro do fundo de pensão desde 2016, devido à sua melhor relação risco/retorno para a carteira de investimentos, baixa correlação entre os mercados, diversificação em setores econômicos diferentes e uma melhor relação entre dólar e real. “Além disso, quando uma crise interna mais acentuada se apresenta, geralmente vem acompanhada de uma desvalorização do real e vemos o investimento no exterior como uma certa proteção para fazer frente a uma adversidade mais extrema”, diz o diretor de administração e investimentos da entidade, Marcos Miranda.
Hoje, a alocação recente feita pela entidade fora do Brasil foi apenas na carteira do seu plano de contribuição variável, o CV I que conta com cerca de R$ 690 milhões em patrimônio. A proposta de alocação definida na política de investimentos da Capef prevê aplicação de até 3% no segmento investimentos no exterior, mas inicialmente foram aplicados cerca de 2,33% dos recursos do plano distribuídos em três fundos, sendo um que investe em ações de empresas multinacionais sediadas na Europa, um fundo com foco em infraestrutura com investimento global e um fundo de renda fixa guiado por avaliação de crédito, alterações nas taxas de juros e volatilidade. Os gestores dos fundos são Rio Bravo, Deutsche Asset Management e Western Asset Management.
A fundação Real Grandeza também estudou ao longo deste ano o início da implementação em sua carteira de investimentos de aplicações em ativos no exterior. Atualmente, o fundo de pensão está com a posição zerada nessa classe de ativos, apesar de já constar em sua política de investimentos a permissão para uma aplicação de até 2% do patrimônio no segmento. Sempre adotando uma posição mais conservadora, a fundação agora se pauta pela sustentabilidade da queda da taxa de juros e pela convicção de que não será mais viável apenas comprar títulos públicos para gerar ganhos à carteira. “Uma das alternativas que vemos é o investimento no exterior, que é um investimento ainda novo e deve ser analisado com cuidado”, diz o presidente da entidade, Sérgio Wilson Fontes.
Por ter esse perfil conservador, a entidade, que aprovou a entrada de investimentos no exterior no portfólio no ano passado, passou o ano de 2017 estudando a classe de ativos, conversando com outros fundos de pensão que já aplicam em outros países e com gestores internacionais mais consolidados nesse segmento, além de elaborar um manual que será submetido ao comitê de investimentos e ao conselho deliberativo da fundação para aprovação. “Em linhas gerais, olhamos o investimento internacional como alternativa de diversificação ainda dentro de renda variável”, explica a gerente de análise de investimentos da Real Grandeza, Patricia Queiroz. O manual fala sobre vedações, por exemplo, de fundos internacionais que estejam domiciliados em países considerados paraísos fiscais pelas autoridades brasileiras. “Também não olharemos fundos com gestor, administrador e custodiante do mesmo grupo econômico. Além disso, temos outros critérios, como tamanho do volume sob gestão, rentabilidade do fundo, risco de imagem, entre outras coisas”, explica Patricia.
Os executivos da Real Grandeza reiteram que até a finalização do processo de aprovação do manual e início do processo de seleção dos gestores ainda deve levar um tempo. Contudo, Patrícia destaca que em termos de cenário, é algo que ainda será feito para obter conhecimento sobre as reais vantagens de investir fora do país. “A questão da diversificação é importante. Então começamos, ainda que pouco, a caminhar nessa direção, pois hoje nossos recursos são todos alocados no Brasil”, complementa.

Produtos – Tanto para quem está começando agora quanto para quem está ampliando os investimentos fora do Brasil, a proteção cambial – hedge cambial – tem sido uma alternativa para fugir da volatilidade da moeda. Esse tipo de produto costuma ser adotado em período de grande volatilidade e os fundos de pensão têm optado por ele, como foi o caso dos últimos investimentos da Previ-Ericsson. Mas Rogério Tatulli destaca que, para 2018, o fundo de pensão deve ficar mais exposto a produtos sem proteção cambial, aproveitando a volatilidade do período eleitoral no Brasil para obter ganhos com a variação do câmbio. “Vamos ainda selecionar mais dois gestores no nosso portfólio e um deles irá gerir um produto novo, que tem uma característica de multimercado com moeda, juros e commodity”, diz Tatulli.
Esse movimento mostra também que os investidores já estão olhando cada vez mais para produtos que fogem do tradicional equity, ou seja, investimento em bolsa internacional, e partindo para investimentos em renda fixa e multimercados no exterior. “Em período de elaboração de políticas de investimento, a maioria dos investidores têm olhado como alternativa os investimentos no exterior separando os benchmarks com características de renda fixa e os benchmarks com características de renda variável”, diz o consultor da I9, Jordanno Santos.