Edição 264
Para começar a investir no exterior, o fundo de pensão Petros adotou uma opção diferente das demais fundações que já estão alocando recursos em fundos de assets globais. A entidade multipatrocinada (Petrobras e demais patrocinadoras e instituidores) com patrimônio total de R$ 67 bilhões, decidiu abrir um fundo exclusivo que deve atingir R$ 300 milhões até meados do ano que vem. Na prática, a fundação criou um FIC (fundo de investimento em cotas) que está selecionando cotas de feeders locais que, por sua vez, aplicam recursos em ativos internacionais. O investimento inicial foi de R$ 75 milhões alocados em três feeders.
O administrador e gestor do fundo exclusivo é a BB DTVM. A Petros conversou com algumas assets e chegou a cotar as taxas em três grandes instituições. Ao final do processo, acabou selecionando a BB DTVM que ofereceu a taxa de administração mais baixa. E as primeiras aplicações ocorreram também em feeders que a própria asset do Banco do Brasil lançou em parceria com gestoras globais que possuem atuação no mercado doméstico. A fundação aplicou recursos nos feeders que investem em fundos da BlackRock, J.P. Morgan e Schroders.
Uma quarta aplicação foi analisada, em um fundo da Franklin Templeton, mas ainda não foi realizada devido ao tamanho do patrimônio, que segundo a equipe da Petros, é muito pequeno. O feeder da BB DTVM em parceria com a Franklin Templeton apresentava patrimônio líquido de R$ 22 milhões (dados de setembro de 2014) e como o limite legal é de até 25% do fundo, o valor a ser alocado pela fundação seria muito reduzido.
O FIC criado pela fundação, aliás, coloca um teto máximo menor que o definido pela legislação (Resolução 3792). O limite que consta do regulamento é de até 20% do patrimônio do feeder. Além disso, o regulamento define outro limite de até R$ 60 milhões em cada feeder. “Fomos mais conservadores que a regulamentação em termos de limites. Colocamos o teto de 20% do patrimônio de cada feeder, sem contar o seed money de cada fundo”, diz Newton Carneiro da Cunha, diretor de investimentos da Petros. Ele se refere ao capital próprio das gestoras do fundo, que em alguns casos aportam recursos para alavancar a captação inicial de recursos.
É o caso da BlackRock, que colocou US$ 50 milhões de seed money em seu produto no exterior – Global Equity Income – oferecido para os fundos de pensão brasileiros. Até o mês de setembro, o feeder contava com patrimônio de R$ 350 milhões, mas para a Petros, o valor considerado para o limite de investimento deveria descontar o capital próprio. A direção do fundo de pensão não quis revelar o valor aportado em cada um dos três feeders até agora.
Para as futuras alocações, a Petros está analisando as opções existentes atualmente no mercado doméstico. “Estamos analisando as opções do mercado, mas avaliamos que ainda não há muitas alternativas”, diz Cunha. O dirigente se refere que ainda não há muitas assets que lançaram os feeders locais e, quando isso acontece, o montante do fundo ainda não é muito volumoso para justificar uma alocação do fundo de pensão. A equipe de investimentos deve continuar avaliando as opções e espera pelo lançamento de outros feeders da própria BB DTVM. A asset do Banco do Brasil está em processo de negociação com um segundo grupo de assets globais para o lançamento de novos produtos que acessam ativos no exterior (ver box).
FIC exclusivo – Depois de analisar as opções de estruturação da carteira de investimentos no exterior, a Petros chegou ao modelo de um fundo exclusivo de aplicações em cotas. A justificativa é que o fundo exclusivo permite um melhor controle na gestão e do risco das aplicações devidos às facilidades operacionais. “O fundo exclusivo tem a vantagem da facilidade do controle da gestão e das informações, sendo que o custo adicional é ínfimo”, diz o diretor de investimentos da Petros. O diretor não quis revelar o valor da taxa, mas adiantou que está na casa dos basis points (unidade centesimal).
A ideia surgiu desde o início das conversas com outros fundos de pensão, a partir de 2012. Uma das primeira propostas era a de constituição de um único fundo de investimentos para abarcar diversas fundações que quisessem investir no exterior. No ano passado, as conversas foram avançando e ao final, chegou-se a um modelo de constituição de diversos feeders, sendo um para cada fundo ou gestor no exterior. O modelo foi desenhado pelo grupo de fundações liderado pela Previ e que culminou na criação dos quatro feeders da BB DTVM em parceria com as assets globais.
A Petros, porém, preferia a proposta de criação de um fundo próprio. E foi assim, que deu origem ao modelo do FIC exclusivo. “Seguimos a ideia inicial que era a criação de um fundo próprio dos fundos de pensão. Mas acabamos com a constituição de um fundo exclusivo.
Não há grandes diferenças na alocação dos recursos e seleção de fundos no exterior, mas conta com as facilidades operacionais”, diz Cunha. Ele explica que é como se fosse criada uma caixa separada das demais carteiras da fundação em que é possível um melhor acompanhamento das informações.
Segundo a direção da fundação, não há restrições legais para a criação de um fundo exclusivo para investir no exterior. Para dirimir possíveis questionamentos, a questão foi analisada pela área jurídica da fundação e, além disso, foi contratado um parecer externo de um escritório de advocacia especializado em previdência complementar e investimentos. Não foi realizada consulta direta para a Previc, pois segundo a equipe de investimentos da fundação, outras entidades já tinham consultado o órgão para questões semelhantes. Por isso, não seria necessário consultar novamente a Previc.
Aprendizado – Apesar de considerada de pequeno porte, em comparação com o patrimônio total da Petros, a carteira de investimentos no exterior tem a função de abrir uma nova experiência na gestão de recursos. “É uma experiência nova, importante para acumular aprendizado, pois vai permitir o contato com ferramentas de análise dos gestores globais”, diz Ricardo Pavie, gerente de novos projetos da Petros. Ele explica que no médio e longo prazos, o aprendizado com as aplicações no exterior vai ajudar com o processo de tomada de decisões da equipe de gestão da fundação.
Além da experiência, a nova carteira representa o início de um processo de diversificação dos ativos de renda variável. O principal índice utilizado pela maioria dos gestores globais, pelo menos para os fundos oferecidos até agora, é o MSCI World.
É um benchmark que trabalha com mais de 1000 ações de empresas atuantes nos principais mercados mundiais. Muitas empresas são de setores, como de tecnologia e saúde, que possuem baixa representação na bolsa doméstica.
A diversificação de riscos também é permitida por causa da exposição cambial. Os fundos no exterior possuem exposição às principais moedas do mercado estrangeiro (dólar ou euro), o que deve ajudar no futuro, à desconcentração em relação aos ativos atrelados ao real.
BB DTVM prepara segunda rodada de parcerias com gestores globais
A BB DTVM está preparando a estruturação de novos fundos no exterior em parceria com assets globais. Em um encontro realizado no Rio de Janeiro, a asset do Banco do Brasil convidou pelo menos sete gestoras internacionais, que são as seguintes: UBS, Pictet, MFS, Claritas-Principal, BNP Paribas, J. Safra Sarasin e Nordea.
O objetivo é selecionar algumas assets para oferecer opções de investimentos no exterior. A BB DTVM fica responsável pelo feeder (fundo local) e em alguns casos pela distribuição, enquanto as gestoras globais entram com as opções de fundos no exterior. Os novos fundos são voltados principalmente para captação de recursos junto aos fundos de pensão.
A asset do Banco do Brasil já possui quatro fundos em parceria com assets globais, lançados no final do ano passado, todas elas com presença local – BlackRock, J. P. Morgan, Schroders e Franklin Templeton. Além dos fundos oferecidos pela asset do BB, diversos outros gestores estão oferecendo produtos de investimentos no exterior (ver matéria).