Fundações recorrem mais a consultorias | Mercado instável e compe...

Edição 92

Contratar consultores de investimentos já não é mais privilégio das grandes fundações. De acordo com esses especialistas, a instabilidade dos mercados, aliada à concorrência com produtos de previdência aberta e a rigidez crescente dos órgãos reguladores, está levando entidades de todos os portes a cercar-se de embasamento técnico para implementar estratégias de investimento, abrindo espaço para players que atendem a distintos bolsos e necessidades.
“Os fundos de pensão são muito cobrados, por isso precisam ter uma retaguarda para tomar decisões. Basear-se em recomendações de consultores dá mais transparência para participantes e patrocinadora, confiança de que os critérios utilizados não foram tendenciosos ou coisa parecida”, comenta o gerente de investimentos da fundação Celos (Celesc), Zulmar Pereira.
Com R$ 450 milhões de patrimônio, a Celos contratou recentemente a consultoria paulista PPS para avaliar o desempenho de sua carteira de renda variável e realizar uma due diligence em 11 gestores pré-selecionados pelos especialistas da entidade. O objetivo é elaborar um ranking para ser utilizado em processos de escolha de novos gestores ou na troca dos atuais. “Estamos crescendo e vamos precisar de novos parceiros”, diz Pereira.
A conquista do contrato com a Celos foi apenas um dos quatro negócios obtidos no ano passado pela PPS, que até meados de 2000 contava com apenas um cliente, a Previ-Siemens. Somaram-se à carteira, então, a fundação Petros (Petrobrás), Previ-Bayer (Bayer) e Uniprev (Universidade Federal de Alfenas), essa última em parceria com uma administradora de recursos de pequeno porte, chamada Capital. Para o economista e professor Everaldo França, um dos sócios da PPS que decidiu deixar o emprego numa tradicional empresa de commodities agrícolas, “esse mercado está se abrindo rapidamente e deve crescer muito nos próximos anos”.
Outra fundação de pequeno porte, com patrimônio de R$ 180 milhões, que decidiu contratar uma consultoria foi a Aceprev (Acesita). No final do ano passado, fechou negócio com a Risk Control, do grupo BBM. Nesse caso, o detonador da decisão foi a resolução 2.720, que exige das fundações o envio periódico de informações minuciosas sobre o desempenho das carteiras de investimento. O trabalho da Risk Control será analisar semanalmente o risco contido nas carteiras e produzir relatórios de distintos ângulos (risco por carteira, por administrador etc.). “A 2.720 foi revogada, mas as resoluções posteriores mostraram que o conceito de avaliação de risco veio para ficar”, comenta Fábio Schettino, diretor financeiro do fundo.
A Aceprev é o primeiro cliente da Risk Control no segmento de fundos de pensão em 2 anos de existência da consultoria. De acordo com a responsável pela Risk Control, Eduarda la Roque, outras três entidades estudam fechar negócios com a empresa. “As exigências das novas legislações de investimento aceleraram um consenso que existia entre as fundações, de dar cada vez mais transparência e segurança à gestão dos ativos”, observa.
A Risk Control também acertou recentemente uma parceria com a área de custódia do Santander, que irá utilizar o seu software para emitir os relatórios de risco aos seus clientes fundos de pensão, cuja exigência deve ser mantida pela Secretaria de Previdência Complementar na reedição da 2.720. “Estamos trabalhando também para chegar às fundações de maneira indireta, através de distribuidores, para atender às diferentes demandas de serviço e preço das fundações”, explica ela.
A estratégia de expansão da empresa do grupo BBM se dá até mesmo por meio de parcerias com potenciais concorrentes, como no caso da Agrif, mostrando que existe espaço para todos nesse segmento. Especializada na análise de fundos abertos, a empresa está criando uma área voltada à análise de desempenho de carteiras de fundações, para o que contará com o software da Risk Control, entre outras ferramentas.
Para isso, a Agrif está apostando na abertura de um escritório em Recife, para atacar o público do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Para tocá-lo, a empresa se associou ao executivo Osvaldo Luiz Morais, que passa a ser um de seus diretores. Idealizador do projeto, Morais, que até o início de janeiro era interventor da fundação Banorte, está apostando todas as suas fichas na empreitada, tendo se desligado de sua antiga função. “As fundações pequenas e médias, muitas das quais estão no Nordeste, Norte e Centro-Oeste, estão mal assistidas em geral, por estarem longe do eixo Rio-São Paulo, e têm fortes limites de orçamento para poder contar com funcionários especializados. Elas ficam ‘entre a cruz e a caldeirinha’, e nós percebemos esse vazio. Temos certeza de que os primeiros contratos virão num curto espaço de tempo, porque existe demanda”, explica Morais.
Em breve, a Agrif pretende criar uma equipe especializada também no Rio de Janeiro, para atender às pequenas e médias entidades do lado de baixo do país.