Edição 119
A marcação a mercado de títulos públicos, feita pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima), já virou benchmark para as fundações. Isso porque inclui todas as expectativas e vencimentos, até mesmo daqueles papéis menos líquidos. Até o mês passado, esse trabalho de coleta da cotação diária de títulos cambiais indexados ao IGP-M, LTNs e LFTs incluia apenas os 25 dealers do Banco Central e mais dois brokers do mercado. Agora, com a nova marcação a mercado difundida por toda a indústria de fundos, também as asset management começam a fazer parte do universo pesquisado. Segundo a superintendente técnica da Andima, Valéria Areas Coelho, serão incluídos inicialmente 10 fundos, entre os de maior patrimônio, para um período de testes que deve durar cerca de um mês. “Resolvemos incluir as assets porque elas são as maiores carregadoras de títulos públicos do mercado e são formadoras de preços de papéis”, afirma.
Caso venha a ter sucesso, a experiência ainda terá de passar pelo crivo do comitê de precificação de ativos da Andima. Paralelamente a isso, a entidade auto-reguladora do mercado de renda fixa começou a desenvolver um processo de marcação a mercado de CDBs. “Hoje não existe nenhum parâmetro no mercado e cada banco tem sua própria cotação”, diz.
O início – Valéria explica que a idéia de divulgar a marcação diária de todos os títulos públicos tomou fôlego em 1999, quando o Banco Central divulgou 21 medidas de incentivo ao mercado secundário de títulos públicos. “Na época, 15 instituições participavam da nossa coleta de informações”, diz. Atualmente o sistema funciona da seguinte forma. Diariamente, os dealers e brokers enviam as cotações para a Andima, por meio de sistema eletrônico, que é instalado em cada instituição financeira. A partir daí, essas informações passam por dois filtros. Um tenta detectar erros de digitação, outro exclui desvios padrão. “Se achamos que um número razoável está entre 4 e 6, retiramos tudo o que está fora desse intervalo”, afirma ela. Aí, é calculada a média e depois ocorre a devolução das informações para o mercado.
O envio desse material é feito pela Rede de Telecomunicações (RTM), uma intranet do mercado montada pela Andima. Com isso, todas as 160 associadas da instituição têm acesso aos dados. Mas não há nenhuma estimativa sobre o número de bancos que realmente utilizam essa marcação como parâmetro diário. “O problema do mercado secundário é que os bancos carregam os títulos até o vencimento e não há negócios”, afirma.
A pesquisa diária tem cerca de três a quatro páginas, mas o universo é bastante amplo. Por exemplo, no caso das LFTs a Andima divulga a expectativa de preço para os mais de 100 vencimentos do papel. “Nós não utilizamos Selic porque ela só mostra o que é negociado”, afirma ela, complementando que com a nova marcação os papéis mais ilíquidos passaram a ter referência de preços. Atualmente, a coleta e controle das informações divulgadas ficam sob a responsabilidade de dois técnicos e quatro estagiários da Andima. Para eles, a única preocupação é a de padronizar as informações.
Dificuldade – A uniformização dos dados, no entanto, é a principal dificuldade na futura marcação a mercado de CDBs, que está em gestação na Andima. Isso porque cada CDB leva o rating do banco que o emitiu. “Não sabemos ainda como tratar isso porque há preços diferentes de CDBs, emitidos por bancos diferentes enquanto em títulos públicos sempre há um só emissor”, afirma a superintendente.
Apesar das dificuldades técnicas, a tendência apontada por Valéria é de que cada vez mais o mercado secundário adote a marcação a mercado para todos os ativos. “O próximo passo é a marcação das debêntures”, diz.
A Funcef é uma das fundações que utilizam a marcação a mercado da Andima. Para o gerente de operações financeiras do fundo de pensão, Wagner Guido, a principal vantagem do levantamento é o fácil acesso a informações de títulos menos líquidos. Além disso, o gerente acha que esse referencial reflete uma posição mais conservadora. “Se o gestor marcar com critério próprio e ficar fora do mercado, pode prejudicar o cotista, o melhor é seguir o mercado”, afirma.