Edição 68
Para fugir da concentração excessiva em títulos públicos, CDBs e fundos de renda fixa tradicionais, os fundos de pensão estão começando a diversificar suas carteiras de investimento e ampliar sua exposição a ativos de maior risco. Com a queda da taxa de juros verificada ao longo deste ano e o aumento dos índices de inflação, que em última instância influenciam as metas atuariais dos planos de benefício definido, algumas fundações já mostram disposição para financiar negócios que embutem o conceito de venture capital, os quais representam investimentos de risco.
Um sinal dessa tendência são os investimentos feitos por dois fundos de empresas emergentes administrados pelo Banco Fator, cujos cotistas são, em sua maioria, fundações. “Está crescendo o interesse dos fundos de pensão por investimentos em private equity de empresas emergentes”, conta o diretor de private equity do Fator, Sidney Chameh. Segundo ele, nenhuma fundação que participa desses dois fundos mostrou interesse em sair e há outras interessadas na criação de novos private equities.
O fundo de private equity da FIEE-MG conta com a participação da Previ (Banco do Brasil), Forluz (Cemig), Casfam (Fiemg), Fasbemge (Bemge), Previminas (multipatrocinado), Crediprev (Credireal), BNDESpar e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Seu objetivo é investir em empresas emergentes de Minas Gerais, e o primeiro aporte de capital foi realizado em meados deste mês de novembro, a favor da ATT/PS Informática. O Fator selecionou a empresa em conjunto com a Federação das Indústrias de Minas e, logo em seguida, os cotistas aprovaram o investimento de cerca de R$ 2 milhões nesta companhia – que atua na área de integração de tecnologia de informação.
A ATT é uma empresa mineira que presta serviços de consultoria, suporte técnico e desenvolve sistemas para os setores bancário, empresas de planos de saúde e para os próprios fundos de pensão. “A disponibilidade de capital de risco para empresas emergentes no Brasil é uma novidade que possibilita o desenvolvimento imediato de novas tecnologias que não seriam oportunidades no amanhã”, diz Pérsis Rocha, presidente da ATT. A empresa tem nove anos de existência e faturou R$ 21,5 milhões no ano passado.
Para o gerente de investimentos da Crediprev, Marcus Guilherme de Freitas, o FIEE traz boas oportunidades para as fundações porque segue a orientação de investir em empresas com bons produtos e projetos, mas que não possuem recursos suficientes para se expandir. Desta forma, os riscos são mais altos mas as perspectivas de rentabilidade são bastante atraentes. “Os fundos de pensão estão percebendo a necessidade de promover a diversificação dos investimentos e, por isso, começam a destinar uma parte dos recursos para aplicações com possibilidade de retorno maior que a renda fixa tradicional”, afirma o gerente da Crediprev.
O segundo fundo de private equity da Fator, destinado a investir em empresas emergentes de Santa Catarina, realizou sua primeira injeção de capital no final do primeiro semestre deste ano. O FIEE-SC investiu aproximadamente R$ 2 milhões na empresa de informática Logocenter, adquirindo 20% de seu capital. O fundo está fechando negócio com mais uma empresa catarinense da área têxtil e a expectativa é que o investimento seja concretizado no início do ano que vem. “As perspectivas apontam para a realização de investimentos em mais cinco empresas por parte de nossos dois fundos de empresas emergentes”, diz Frederico Greve, analista de private equity do Fator.
Prazo – Os fundos de Santa Catarina e de Minas Gerais têm o prazo de três anos, que termina no final do ano que vem, para efetuar os investimentos nas empresas emergentes. Depois disso, os fundos podem contar com até sete anos para desfazer as aplicações realizadas. Um dos itens de maior preocupação levado em conta no processo de seleção das companhias é a perspectiva de saída do investimento. Há três possibilidades principais para negociar a participação: conseguir um comprador institucional, revender para os sócios e abrir o capital. Esta última opção inclui a possibilidade de emitir ações nos Estados Unidos através da Nasdaq, que é a bolsa norteamericana de empresas de tecnologia.
“Acreditamos que as duas empresas escolhidas pelos nossos fundos não devem apresentar problemas futuros de negociação, pois pertencem a um ramo bastante promissor, que é o da tecnologia de informação”, declara Sidney Chameh. O diretor do Fator concorda que os riscos dos negócios de cada empresa são altos se comparados aos de investimentos tradicionais, mas que o retorno global do fundo acaba compensando. Os fundos do Fator possuem o critério de investir em empresas com faturamento anual inferior a R$ 50 milhões, o que permite apenas a seleção daquelas realmente emergentes.
Incubadora – O diretor financeiro da Previsc, Carlos Renato Cruz Lima, defende a idéia de que os fundos de empresas emergentes deveriam reforçar a característica de capital de risco. “O Brasil não possui uma tradição de venture capital como existe nos Estados Unidos e seria interessante se houvesse o desenvolvimento deste mercado nos próximos anos”, afirma. O diretor possui uma proposta, que está sendo discutida entre os fundos de pensão catarinenses, de criar um projeto de incubadora acoplado ao fundo de empresas emergentes do Fator.
A idéia é desenvolver uma ampliação do FIEE-SC que destine recursos para projetos de empresários que detêm conhecimentos na área de informática, em especial no segmento de internet. “O fundo entraria com os investimentos e participaria ativamente da administração da nova empresa que seria formada a partir da injeção do capital”, explica Cruz Lima. O fundo deveria nomear inclusive um executivo para atuar dentro da empresa. Desta forma, o fundo teria a função de uma “incubadora” para ajudar a desenvolver projetos “embrionários” que apresentassem boas perspectivas de crescimento. “Nos Estado Unidos é muito comum os fundos de venture capital alcançarem excelentes taxas de retorno. Se duas entre dez empresas selecionadas apresentarem ótimo desempenho, a performance do fundo já se torna satisfatória”, diz o diretor da Previsc.
Embora algumas fundações estejam dispostas a aumentar o risco de uma parcela de sua carteira de investimentos, outras caminham no sentido contrário por razões diversas. A Fusesc, por exemplo, apesar de também participar do FIEE-SC não pretende entrar em outros fundos de empresas emergentes.
O motivo principal para esta decisão é a orientação de aumentar a liquidez das aplicações da entidade em virtude da implantação de um novo plano de contribuição definida. “Estamos procurando aumentar a liquidez de nossos recursos para facilitar o processo de transição de plano e, por isso, não devemos ampliar os investimentos em private equity”, revela Mauro Tubias Benedet, diretor financeiro da Fusesc.