Edição 243
Com o objetivo de alcançar rentabilidade acima das metas atuariais mesmo com os juros da renda fixa mais baixos, os fundos de pensão começam a realizar de forma mais regular e em menores intervalos de tempo uma análise de performance mais sistemática de seus gestores. Em reuniões periódicas são checados relatórios, projeções e são definidas novas chances para que determinado contratado melhore o desempenho ou seja substituído. Aparece como critério principal de permanência nas fundações o track record das assets, ou seja, o histórico dos resultados apresentados pelas equipes de gestão.
Na Previdência Usiminas, por exemplo, 2012 tem sido um ano de aprendizado quando se trata de avaliar o trabalho das assets terceirizadas. Devido à incorporação dos recursos e equipe da Fundação Cosipa (antiga Femco) em julho deste ano, o fundo de pensão dos funcionários da siderúrgica passou a administrar quatro planos de benefícios – antes eram dois. Além disso, a entidade está se preparando para reavaliar o histórico de 15 novas assets (responsáveis por 5% da carteira atual – entre fundos abertos e exclusivos) que vieram da Femco.
A presidente que comanda a fundação desde o último mês de abril, Rita Fonseca, conta que está em processo de seleção para escolher uma consultoria. A empresa terá a tarefa de assessorar o fundo de pensão na avaliação e monitoramento das carteiras e de seus benchmarks, que compõem o patrimônio atual de R$ 6,2 bilhões. Até a finalização do processo de seleção, Rita diz que a intenção é permanecer com as mesmas gestoras, mas que a atenção será redobrada, principalmente enquanto estiverem sendo finalizados os estudos de Asset Liability Management (ALM), que irão determinar as novas metas e estratégias do fundo.
Já na Sociedade de Previdência Complementar do Sistema Fiesc (Previsc), que atende principalmente membros da indústria de Santa Catarina, totalizando 28 patrocinadores e 17 planos, a presidente Regídia Alvina Frantz, prefere evitar a concentração de recursos nas mãos de poucos gestores. Atualmente, 20 assets se dividem para realizar a gestão de um patrimônio de R$ 723 milhões. Entre eles estão, por exemplo, o Fator, BTG Pactual, Claritas e JGP. “Primeiro realizamos uma ronda quantitativa no mercado para procurar os especialistas em cada segmento de investimento. Depois verificamos os resultados de cada um deles em um período de seis a 36 meses, além de conferir a participação de outros investidores na asset ou produto e, em alguns casos, pedimos uma apresentação presencial para aprovação interna do comitê de investimentos da entidade”, explica.
Ela conta que o volume de ativos destinado a cada asset depende da sua performance e que há uma análise mensal dos retornos. “Se no primeiro trimestre ficar abaixo das expectativas esperadas, no trimestre seguinte fazemos uma reunião com a gestora para compreender o que está acontecendo. E no terceiro já avaliamos a possibilidade de redução do valor dos recursos sob responsabilidade de determinada empresa”, diz.
A avaliação pode levar a redução de até 50% dos ativos ou até a troca do gestor. O fundo terceirizou a carteira que estava sob responsabilidade da equipe interna e usou os mesmos critérios para contratar a Mauá Investimentos e o BNP Paribas este ano. Em compensação, dispensou em agosto passado a gestão da Quest Investimentos. Em seu lugar foram chamados a Plural e a SulAmérica Investimentos.
A Fundação Enersul, fundo que teve sua patrocinadora recentemente comprada pelo Grupo Rede, mas que ainda não realizou nenhuma alteração em sua estrutura, confia seu patrimônio de R$ 330 milhões a três assets: a GAP Investimentos, o JGP e o BNY Mellon ARX Investimentos. A administração da renda fixa fica por conta da BB DTVM. O gerente de investimentos, Cléber Sadalla Araújo, detalha que tem conversas trimestrais sobre os resultados obtidos pelos terceirizados e que a consultoria Aditus ajuda no acompanhamento de carteiras quinzenalmente.
Em 2010, o Fator e a Schroders perderam espaço para as três assets atuais da fundação. “Cobramos planos estratégicos para os nossos ativos e formas criativas e seguras de realocar os recursos. Na época a performance das duas gestoras não atendeu nossas expectivas e necessidades”, diz Araújo.
A fundação Randonprev que administra os planos de benefícios de funcionários das empresas do grupo Randon, por sua vez, adota uma postura comparativa entre os gestores contratados, além da troca de impressões feitas pela equipe interna de investimentos, diretoria e conselho deliberativo. “Apresentamos em reuniões o desempenho dos concorrentes e deixamos muito claro quais aspectos temos e queremos melhorar”, diz o diretor-superintendente da Randonprev, Ademar Salvador. Com R$ 230 milhões em ativos sob a responsabilidade do Itaú (38%), Bram (54%) e Fator (8%), o comitê também participa de eventos promovidos pela sua consultoria de investimentos Towers Watson que tem como objetivo promover o intercâmbio de informações sobre o mercado. “Vamos continuar com benchmarks e ainda iremos estudar um possível remanejamento de ativos. Isso vai depender das novas escolhas de investimento que serão feitas no próximo ano, temos que avaliar nossos futuros retornos e riscos.”
Metodologia própria – A direção do Sebraeprev, fundo de pensão ligado ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que soma 6,4 mil participantes, 30 patrocinadores e patrimônio de R$ 360 milhões, desenvolveu uma técnica própria para análise de assets.
O diretor-presidente Edjair de Siqueira Alves afirma que os gestores são avaliados mensalmente e quem apresentar os melhores resultados a cada três meses aumenta a alocação mensal de recursos em R$ 2 milhões. Já aqueles que tiverem dois semestres de desempenho fraco podem perder 10% dos recursos que administram. E se a cada dois anos o gestor não atingir suas metas, ele é substituído. Fora isso, também é feita uma reunião mensal que compara os resultados entre os outros gestores. “É complicado considerar um período pequeno para avaliar ações de longo prazo, por isso utilizamos essa revisão por semestre”, diz.
O método é usado desde o início de 2012 e integra o contrato feito com os gestores. Hoje, cuidam da carteira do Sebraeprev a BB DTVM, Bram e o Itaú, além de uma carteira mais ativa de renda variável coordenada pela SulAmérica, Rio Bravo, Bogari, BTG Pactual, Franklin Templeton e Vinci. O fundo conta também com a assessoria da consultoria Aditus. O Sebraeprev contrata ainda o monitoramento de risco de investimentos e controles internos da Risk Office.
Alves enumera como critérios de contratação das companhias, a verificação do volume de recursos administrados pela empresa, a estabilidade das equipes operacionais e a marca que a companhia carrega. É considerada a tradição e a trajetória em determinadas áreas para definir os contratados para realizar a gestão dos recursos.