Edição 242
Ambiente de juros reais baixos e diversificação dos investimentos com ativos no exterior e estratégias mais especializadas não são novidade para os fundos de pensão do Chile, onde são conhecidos pela sigla AFP – Administradora de Fondos de Pensiones. Desde meados da década de 90 que a redução dos juros reais acompanhada de mudanças na regulação dos investimentos do sistema chileno provocou uma forte mudança nas carteiras das AFPs.
A experiência de transformação do perfil dos investimentos e a necessidade de capacitação dos profissionais e gestores dos institucionais no Chile nas últimas duas décadas é o foco da apresentação do diretor para a América Latina (excluído o Brasil) da asset BlackRock, Axel Christensen, que participa do painel “Ambiente de queda de juros e a influência na política de investimentos dos fundos de pensão”, do Congresso da Abrapp.
O executivo vai apresentar sua experiência como gestor da maior AFP chilena, a Cuprum, onde atuou entre 2002 e 2007, inicialmente como responsável pelos investimentos no exterior e depois como diretor de investimentos. Por coincidência, a gigante Principal Group anunciou a aquisição da Cuprum no início de outubro, ampliando sua atuação na América Latina.
A importância da regulação dos investimentos é um dos aspectos centrais na mudança do perfil das carteiras dos fundos de pensão, principalmente, no segmento de investimentos no exterior. No Chile, existia uma primeira regulação de 1992 que já permitia a aplicação em ativos estrangeiros, porém, nos primeiros anos nenhuma AFP se aventurou no novo segmento. “As primeiras regras sobre investimentos estrangeiros permitiam a aplicação apenas em papéis de rating triplo A. Não valia a pena investir fora do Chile, pois os títulos públicos davam melhores retornos com riscos mais baixos”, diz Christensen.
Foi na segunda regulação sobre investimentos no exterior, que flexibilizava as regras sobre a classificação dos ativos, que as AFPs começaram diversificar suas carteiras. “Foi um processo gradual, levou cerca de 5 anos para as primeiras aplicações no exterior, mesmo assim, no início eram investimentos de pequeno porte”, diz o diretor da BlackRock.
A Cuprum começou em 1997 com cerca de 2% do patrimônio, foi aumentando gradualmente até chegar a 10%. Foi depois do processo de Reforma da Previdência, quando também foi mudada a resolução dos investimentos das AFPs, que as aplicações no estrangeiro cresceram para níveis mais representativos. Atualmente, as cinco principais AFPs do país possuem carteiras robustas de investimentos no exterior, com uma média 40% do patrimônio aplicado em ativos e fundos de fora do Chile.
Além dos investimentos no exterior, o executivo da BlackRock pretende abordar outras estratégias adotadas pelas AFPs, tais como a aplicação em ETF (Exchange Traded Funds), que são fundos passivos de índices. Por outro lado, também vai tocar no tema da seleção de gestores mais especializados que possam dar um retorno “alfa” para as carteiras. “Os ETFs são muito adequados para aumentar o processo de diversificação de maneira mais rápida e fácil. A adoção de estratégias passivas abre espaço depois para a contratação de gestores mais especializados, que é um processo mais difícil e demorado, mas que também é válido para gerar um retorno alfa”, diz Christensen.
Modelos internos – O diretor da BlackRock aborda também em sua apresentação a importância do desenvolvimento de modelos internos sólidos, que permitam uma tomada de decisão com maior responsabilidade pela equipe interna dos fundos de pensão. “É importante escutar as recomendações das consultorias e assets, mas a tomada de decisão final cabe à equipe interna”, diz. Ele lembra que a equipe da Cuprum recebia a visita de diversas assets estrangeiras que vinham com “receitas prontas” para enfrentar o cenário de queda dos juros da economia.
“Percebemos que muitas delas davam para nós as mesmas recomendações que falavam para seus clientes nos EUA ou Europa. Por isso, a maioria não era adequada para a situação do mercado chileno”, recorda Christensen. Por isso, o executivo reforça a necessidade de construir modelos e processos internos embasados na experiência local.
Em um cenário de queda dos juros diversificação, inclusive para investimentos no exterior, os profissionais e gestores dos fundos de pensão precisam de um olhar mais global. “Tivemos que contratar novos profissionais, com uma visão mais global do mercado e da economia”, diz. Outro ponto importante é o esclarecimento e a construção de acordos com os conselhos e comitês de investimentos. “É preciso prepará-los para os ajustes nas carteiras, sobretudo da renda fixa para segmentos mais diversificados”, diz.