Estamos ganhando… Vamos mudar | O Chase Manhattan embarca c...

Edição 76

Em time que está ganhando não se mexe, certo? Errado! No caso do Chase Manhattan, que no ano passado obteve a notável marca de 84% de retorno sobre o patrimônio no Brasil, é justamente nessa hora que a mudança está se dando. “Estamos reinventando o nosso business”, afirma o diretor-superintendente do Banco Chase Manhattan, Jair Ribeiro.
Ele considera que há bons motivos para isso. O primeiro leva o nome de nova economia, um conceito que Ribeiro define como sendo uma mescla das novíssimas empresas .com que estão surgindo e das tradicionais empresas manufatureiras ou comerciais que já existiam e estão conseguindo se ajustar ao ambiente. É da combinação entre essas duas classes de empresas que está nascendo a nova economia. E o Chase quer estar no centro dela.
Segundo Ribeiro, a nova economia está mudando os paradigmas de todos os negócios, mas no caso do setor bancário a mudança será mais radical. Outros negócios ainda combinam o moderno e-commerce com as tradicionais atividades de fabricação, transporte e armazenagem de produtos, mas no caso do setor bancário os negócios envolvem apenas ordens, recibos e transferências eletrônicas de dinheiro. Não há produtos físicos para transacionar, apenas representações de valor. “A atividade bancária é onde a nova economia vai chegar mais rápido”, prevê Ribeiro.

Interatividade – Segundo ele, para estar na vanguarda dessa mudança o Chase está colocando a questão da tecnologia da informação no centro das suas preocupações. A idéia é ter um sistema que utilize o máximo possível das vantagens da Internet, dando aos clientes a maior interatividade nas suas relações com o banco. Assim, além de simplesmente acessar suas posições de investimento on-line, os clientes do Chase poderão fazer stress-test dessas posições ou analisar a sua volatilidade em um período de tempo escolhido por ele, por exemplo, diz Ribeiro.
Ao mesmo tempo, o Chase tem investido no aprimoramento de uma ampla gama de serviços financeiros capazes de atender integralmente às necessidades dos grandes clientes (seu foco), desde a montagem de uma operação internacional de colocação de títulos para uma empresa até a administração dos recursos captados por ela enquanto não são direcionados à sua destinação final; desde o aconselhamento na gestão das grandes fortunas até a administração dos recursos dos fundos de pensão. Em suma, o foco de um banco de investimento.
E o Chase está se propondo a ser um dos maiores do mundo nessa área. A Internet é um meio para isso, avalia Ribeiro. No ano passado, por exemplo, o Chase chegou ao 6º lugar no ranking dos advisors de operações de fusões e aquisições nos Estados Unidos, contra um 15º lugar obtido em 1995 e um 30º lugar no começo da década. Nos Estados Unidos, único lugar do mundo onde mantém uma atividade de varejo, sua estratégia daqui para a frente é priorizar as atividades de banco de investimento. No resto do mundo, onde só atua nessa área, a ordem é se especializar cada vez mais.
A razão é simples. O negócio de banco de investimentos cresce a taxas mais elevadas que as atividades de varejo e, por outro lado, oferece riscos menores. Nos últimos anos, o Chase teria tentado comprar tanto a corretora Merrill Lynch quanto a Morgan Stanley, segundo especulações do mercado. Nenhuma das negociações foi em frente. Mas elas seriam fundamentais na estratégia do Chase, de tornar-se um agressivo banco de investimentos no maior mercado de investimentos do globo, os EUA, segundo o analista da Austin Asis, Luiz Miguel Santacréu.
Para Santacréu, o Chase precisa fazer a lição de casa e absorver uma grande corretora no mercado dos EUA, assim como fez o Citibank há pouco menos de dois anos ao negociar uma fusão com o Traveller, que trouxe junto a Salomon Smith Barney. O Citi, então um grande banco de varejo, agregou ao seu negócio a placa e a expertise da Salomon. “O Chase é um banco que está sempre se movendo, e agora está dirigindo seus negócios para a direção do banco de investimento”, diz Santacréu. “Mas precisaria conquistar uma grande placa nessa área”.
Aparentemente o banco não desistiu da idéia. Ultimamente, ele informou estar negociando a compra do banco de investimentos inglês Robert Fleming, que controla no Brasil a empresa de gestão de recursos Fleming Graphus. Mas essa compra daria ao Chase uma projeção forte no mercado asiático, que é a verdadeira especialidade do Fleming, e não nos Estados Unidos. “Mesmo que a compra do Fleming venha a se concretizar, ela não resolve os problemas do Chase nos Estados Unidos”, analisa Santacréu.

Mudanças – No caso da América Latina a situação é um pouco diferente, pois a feição do Chase é tipicamente de um banco de investimentos, embora a aquisição de uma corretora importante nos Estados Unidos pudesse ajudar a incrementar negócios na região. Aqui, devido a um envolvimento antigo que foi mudando de foco ao longo do tempo, o banco ganhou uma fisionomia distinta da que mantém nos Estados Unidos.
O Chase foi um dos maiores credores dos países da América Latina, financiando suas dívidas externas até a primeira crise do México, quando mudou de posição e passou a negociar seus créditos no mercado de conversão de dívida. Tornou-se então um dos grandes negociantes desse mercado. Com a recuperação do México e a volta das empresas latino-americanas para o mercado, o Chase passou a ser uma das maiores casas de emissão de eurobonds e euronotes, posição que mantém até hoje. Ao mesmo tempo, ingressou no rico mercado das fusões, incorporações e privatizações das empresas, como
advisor.
A participação nesses mercados consolidou suas feições na América Latina, como um banco tipicamente de investimentos. Nos Estados Unidos, a mudança para esse perfil ainda está em processo, impulsionada em grande parte pelos negócios que vem desenvolvendo na área de Internet. Embora seja hoje o 3º maior banco dos Estados Unidos, com ativos de US$ 370 bilhões, 5 mil clientes corporativos e 30 milhões de clientes de varejo, um quarto dos seus lucros do ano passado, ou US$ 772 milhões, vieram da pequena Chase Capital Partners (CCP), que tornou-se conhecida sobretudo pelos investimentos que fez em empresas de Internet como a Patagon e a Starmedia.
Outra empresa com foco em Internet que está ajudando o Chase a mudar seu posicionamento nos Estados Unidos é a Chase H & Q (resultado da compra da boutique de investimentos Hambrecht & Quilst no ano passado), que tem se notabilizado por realizar os maiores lançamentos primários de ações de Internet naquele mercado, entre os quais das companhias Yahoo, Netscape e
Starmedia.
Ambas agregam, além dos resultados financeiros de seus próprios negócios, outros valores intangíveis ao Chase. A CCP traz, através das empresas nas quais detém participações, novas idéias, novos conhecimentos e parcerias na área de Internet, que são fundamentais para a evolução do negócio bancário. O mesmo acontece com a Chase H & Q, que além de fazer os lançamentos primários de empresas da crista da onda da Internet traz para a área de investimentos do banco esses clientes de alta tecnologia.

Possibilidades – Essa sinergia com a área de Internet é, na verdade, a mais recente mudança de rumo do banco, tanto nos Estados Unidos quanto nos outros países. “Ao entrarmos na área de Internet, estamos abrindo uma série de novas possibilidades, de novos negócios”, analisa Jair Ribeiro. “O banco, que tinha um foco voltado exclusivamente para grandes clientes, abre uma brecha para essas empresas da nova economia, que entram pequenas hoje mas podem se tornar grandes amanhã”, diz. “E isso impulsiona nossa constante modernização”.
Segundo Ribeiro, que foi o fundador e dirigia o Banco Patrimônio até o início do ano passado – quando esse foi comprado pelo Chase –, não existe hoje uma instituição que lidere claramente a área de bancos de investimentos no Brasil. “Há um vácuo nessa área, e nosso objetivo é preenchê-lo”, diz. “Vamos fazer isso usando nosso foco e nossa sinergia com as empresas da nova economia”.

Recursos sob gestão mais do que dobraram em 1 ano
Desde a absorção do Patrimônio, em março do ano passado, o volume de recursos administrados pelo Chase Manhattan mais que dobrou, passando de R$ 2 bilhões (R$ 1,1 bilhão do Chase mais R$ 900 milhões do Patrimônio) para R$ 4,5 bilhões em março último (R$ 4,369 bilhões em 31 de dezembro do ano passado – ver ranking TOP ASSET). A rentabilidade dos negócios no ano passado foi excelente, representando um retorno de 84% sobre o patrimônio, basicamente em função das operações da tesouraria com câmbio no início de 99.
O objetivo do banco é manter o ritmo de crescimento das operações neste ano, tanto na área de administração de recursos como na área de corporate finance, perseguindo a meta de firmar-se como o maior banco de investimentos do mercado brasileiro. Para tanto, segundo o seu diretor-superintendente, Jair Ribeiro, o Chase conta com quatro trunfos: uma placa forte; gente especializada; capital; e distribuição global. “Nossas operações vão crescer muito neste ano”, diz Ribeiro.

Operações realizadas – As operações do Chase já estão em alta neste ano. Em janeiro último o Chase realizou três operações importantes, sendo uma captação no valor de R$ 350 milhões para a Globopar; outra de R$ 500 milhões que foram usados pela Wirpool para recomprar ações da Brasmotor e Multibrás; e a terceira para a República do Brasil, dividida em duas tranches de R$ 1 bilhão cada.
Em fevereiro, o Chase assessorou a criação da Bradespar, uma empresa de participações do Bradesco que permitiu tirar do seu balanço negócios no valor total de R$ 2,6 bilhões, entre os quais as participações na CSN, Globocabo, VBC, Vale do Rio Doce e Scopus.
Em março, o Chase está co-liderando uma operação de colocação de commercial paper da Telecentrosul, no valor de R$ 900 milhões, que serão usados para comprar a participação da CRT no negócio.