Especialistas discutem previdência à trabalhadores de baixa renda

O 46º Congresso Brasileiro de Previdência Privada (CBPP) apresentou na última quinta-feira (23/10) um painel com a visão de especialistas da Índia e do Reino Unido sobre previdência fechada voltada à trabalhadores de baixa renda e informais. O painel contou com a participação do indiano Gautam Bhardwaj, cofundador da PinBox Solutions Singapore, e da inglesa Helen Dean, ex-CEO do National Employment Savings Trust (Nest), além do economista brasileiro Raul Velloso.

Bhardwaj contou que a Índia tinha cerca de 80 milhões de trabalhadores com acesso a benefícios previdenciários em 2005, embora mais de 300 milhões de jovens tivessem capacidade de poupança. O país tinha uma projeção de 350 milhões de idosos até 2050 e um custo previdenciário que poderia chegar a US$ 220 bilhões anuais caso nada fosse feito

Para reverter esse cenário, o governo indiano criou um sistema digital de baixo custo, supervisionado pelo órgão regulador, que dotou cada cidadão de uma conta previdenciária única e portátil que o acompanha independentemente de eventuais mudanças de emprego.

Com isso a Índia conseguiu, em duas décadas, mais que dobrar o número de trabalhadores que contribuem para a própria previdência. Um dos pilares dessa transformação foi o programa Atal Pension Yojana (APY), criado em 2015, que oferece microbenefícios para trabalhadores de baixa renda e atualmente já cobre cerca de 69 milhões de pessoas.

Reino Unido – Já a ex-CEO da Nest contou eu o Reino Unido também enfrentava um cenário de baixa cobertura previdenciária e envelhecimento acelerado no início dos anos 2000. A solução veio em 2012 com a introdução da inscrição automática nos planos privados. A medida, considerada na época um “experimento nacional”, se mostrou extremamente eficaz. Segundo Dean, mais de 20 milhões de trabalhadores haviam sido incluídos até 2021, com uma taxa de permanência superior a 85%. Hoje, 79% da população britânica considera a adesão automática positiva, e 2 milhões de empregadores oferecem o benefício.

Para Dean, o modelo funciona porque transforma a inércia em aliada. “A maioria das pessoas não toma uma decisão ativa sobre poupar, mas, quando a adesão é automática, a maioria acaba poupando”, observou. Ela ressaltou, porém, que o sistema britânico enfrenta hoje lacunas que o Brasil pode antecipar, como baixos níveis de contribuição e cobertura insuficiente entre autônomos e trabalhadores de plataformas digitais.

Brasil – O Brasil tem hoje cerca de 40 milhões de trabalhadores sem acesso à previdência e poderia gerar US$ 100 bilhões em poupança de longo prazo, em uma década, se apenas um quarto deles começasse a contribuir regularmente.

“O Brasil não começa do zero — ele parte de uma base sólida”, afirmou Bhardwaj, ao defender que experiências de países como Índia e Reino Unido mostram que é possível transformar desafios demográficos em oportunidades de desenvolvimento.

O economista Raul Velloso chamou atenção para o avanço rápido do envelhecimento populacional brasileiro, que já se aproxima dos níveis observados na Europa, e para o aumento acelerado dos gastos previdenciários municipais — com média de crescimento anual de 12,5% entre 2011 e 2018. Segundo ele, o peso das despesas com aposentadorias está comprimindo o investimento público e limitando o crescimento econômico. “Sem uma resposta estrutural, a conta continuará se expandindo e travando o potencial do país”, alertou. A Abrapp tem articulado, junto ao Congresso e aos órgãos reguladores, propostas que aproveitem essa infraestrutura para criar planos simplificados, acessíveis e integrados digitalmente. O objetivo é permitir que o trabalhador informal ou de baixa renda possa aderir de forma rápida e flexível, com contribuições proporcionais à sua capacidade financeira.