Edição 288
Com a recuperação significativa da bolsa e melhores oportunidades em renda fixa para planos que estão marcados a mercado, os fundos de pensão saíram do período de dificuldades e de resultados negativos vistos em 2014 e 2015 para um início de recuperação neste ano. Segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), o sistema deve encerrar 2016 acima da meta, que deve ficar em 14,5% no fim do ano. “As taxas de juros começaram a cair e isso produz um ganho para quem está marcado a mercado. Isso, atrelado à recuperação da bolsa, foram os principais pontos da melhoria nos resultados este ano”, diz o presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto, que deixará o comando da entidade com a posse do novo presidente em janeiro.
A Abrapp projeta três cenários para o fim de 2016 (veja tabela ao lado). O primeiro considera que a bolsa fechará em 58,4 mil pontos; outro em 64,9 mil pontos; e um terceiro, ainda mais otimista, em 71,4 mil pontos. Pena Neto acredita que o cenário mais provável seja o segundo, no qual a rentabilidade ficaria em 18,23%. “Podemos dizer que este ano já houve uma melhora, com os fundos de pensão conseguindo respirar melhor diante de suas obrigações”, diz Pena Neto.
Individualmente, as entidades também estão mostrando resultados positivos e até bem acima da meta, em alguns casos, superando a média do sistema. A Real Grandeza, por exemplo, registrou 22,17% de rentabilidade no plano de benefício definido (BD) entre janeiro e novembro, contra uma meta de 12,07%. O fundo de pensão mantém a alta rentabilidade apesar de uma política conservadora, da qual não abrirá mão (veja matéria na pág. 32). “Com o histórico de títulos públicos em alta, demos um passo importante para manter a rentabilidade alta este ano”, diz o presidente da fundação, Sergio Wilson.
Próximo ano – Ao contrário da estratégia da Real Grandeza de manter o conservadorismo, Pena Neto acredita que, apesar dos resultados positivos, essa folga diante da meta atuarial não se sustentará a menos que os fundos de pensão voltem a tomar mais risco. “Para 2017, dependendo do cenário, os fundos de pensão ainda estarão com pé atrás, conservadores, tentando aproveitar oportunidades em títulos públicos. Se houver uma clara tendência de queda da taxa de juros e estabilização da economia, teremos que voltar a pensar na tomada de risco”, diz o executivo. Segundo ele, o começo de 2017 ainda deve trazer oportunidades em renda fixa, mas isso pode mudar ao longo do ano.
Pena Neto lembra dos anos de 2012 e 2013, quando houve um boom de investimentos em renda variável, estruturados e exterior movido pela necessidade de rentabilidades maiores. “Isso mudou em 2014, com juros subindo e a economia em dificuldade. Mas a tendência é que o ciclo de recuperação e, portanto, de diversificação, volte a ocorrer”. O executivo salienta que os fundos de pensão ainda não deram esse passo mais rigoroso em relação aos investimentos, pois não é o momento disso ocorrer.
Estruturados – O presidente da Abrapp salienta a necessidade dos fundos de pensão voltarem a investir no segmento de estruturados, principalmente nos fundos de investimento em participações (FIPs), que acabaram tendo a imagem prejudicada por conta de alguns fundos que não deram certo. Alguns, inclusive, são alvo de investigação de órgãos reguladores, principalmente após a CPI dos fundos de pensão, que culminou em uma operação da Polícia Federal para apurar irregularidades nos investimentos. “Por causa de alguns desvios de conduta, os FIPs viraram sinônimo de mau investimento”.
Pena Neto defende a retomada desses investimentos, mas alerta que o risco deve ser medido. “Estamos em um negócio onde risco faz parte do dia a dia. Não teremos investimentos com altas rentabilidades sem risco. Estruturados têm que ser uma boa parte do portfólio de fundos de pensão. Para isso, do nosso lado, teremos que fazer análises com cuidado, e do lado regulador, ele deve garantir que medidas sejam tomadas em casos específicos de desvios de conduta”, complementa. Para ele, o país está em um momento de necessidade de investimentos na economia real, e alguns segmentos podem trazer boas oportunidades, como o de infraestrutura, energia elétrica e rodovias. “Havendo ambiente regulatório adequado, os fundos de pensão devem investir”, complementa Pena Neto.
Cenários para 2016
Ibovespa Rentabilidade
58,4 mil pontos – 15,87%
64,9 mil pontos – 18,23%
71,4 mil pontos – 20,59%
Fonte: Abrapp