Edição 250
Há quase 17 anos na Basf e apenas seis meses no comando dos investimentos do fundo de pensão dos funcionários da indústria alemã, o gerente de tesouraria Antonio José D’Aguiar acaba de enfrentar um importante desafio: convencer o colegiado da multinacional de que a contratação de gestores de pequeno e médio porte com foco mais estrategista agregaria valor ao portfólio de renda variável da fundação. “Preparei um mapeamento completo dos rendimentos dos últimos onze anos do fundo para avaliar de forma crítica as estratégias internas dos últimos meses, além de elencar também as oportunidades e riscos reais dos produtos disponíveis no mercado atual. Apresentei de forma didática à diretoria e aos conselhos detalhes sobre a estrutura das assets envolvidas e seus históricos de desempenho no segmento”, explica D’Aguiar.
O processo de convencimento ocorreu principalmente com a utilização de números reais e estratégias claras de que gestores menores também podem gerar bons ganhos. “Todo mês fazíamos [sua equipe de investimentos] uma apresentação de uma nova casa que havíamos visitado, mostrando rentabilidade e planejamento para preservação de capital. Acredito que contra fatos não há argumentos”, defende. Grandes pesquisas e levantamentos também foram realizados para que os conselheiros pudessem conhecer melhor o assunto. Nesta etapa, a participação de outros diretores familiarizados com o setor de finanças pode ajudar no esclarecimento de dúvidas e no compartilhamento dos conhecimentos específicos sobre os produtos e o novo posicionamento da carteira.
Agora com o apoio do comitê deliberativo da fabricante, do conselho fiscal e da diretoria executiva, o gerente tem até este mês de agosto para selecionar dez novas gestoras, entre as quais irá distribuir 5% dos recursos do patrimônio, avaliado atualmente em cerca de R$ 900 milhões. A renda variável responde por 30% do total de alocações da fundação. Os novos gestores devem receber, em um primeiro momento, cerca de R$ 40 milhões.
De acordo com o responsável pela coordenação dos investimentos na entidade, toda essa mudança é parte de um treino com objetivo de conhecer a indústria, sentir como os gestores irão reagir a um novo cenário econômico, em que o Brasil e o mundo passam por problemas econômicos quase estruturais. “Trata-se de um período de aprendizagem para decidir se mais tarde iremos interromper ou intensificar esse movimento de diversificação dos gestores.”
Processo de Seleção – As assets que participam deste processo seletivo estão passando por uma avaliação minuciosa que leva em consideração aspectos como estrutura das equipes, performance das casas em momentos de crise, além de sua imagem entre os participantes do setor. Estão na mira da fundação nomes como Modal, SulAmérica, Bogari Capital, Kondor, Victoire Brasil, Gávea Investimentos e JGP. “Para conhecer a dinâmica do segmento, pesquisamos e descobrimos mais de 400 assets no Brasil. Ao final visitamos mais de 30 gestores”, diz.
Inicialmente, foram os gestores especializados em fundos multimercados que chamaram a atenção do fundo de pensão. A modalidade de multiestratégia ganhou visibilidade na Basf, por ser considerada de baixa volatilidade e apresentar bons retornos. Depois se destacaram também os gestores especializados em fundos de small caps. Antes dessa nova administração do portfólio e também para outras modalidades, a fundação trabalhava com apenas três gestoras, o BNP Paribas, Bradesco (Bram) e Western, que irão permanecer entre os contratados. Para ele, as novidades da gestão visam uma adequação ao cenário atual, para sair das carteiras tradicionais de renda fixa ou de ações atreladas aos principais índices da BM&FBovespa (Ibovespa e IBr-X). Por isso, a opção pela procura de assets que buscam geração de “alfa”. “As antigas taxas de juros reais a 16% nos deixavam despreocupados. Hoje com uma taxa mais baixa e uma bolsa com dificuldade, temos que buscar outras alternativas”, diz.
O prazo máximo para que as novas alocações sejam realizadas é dezembro, por conta de trâmites internos da fundação que envolvem análises jurídicas dos contratos.
Adaptação – Com o gerente, também são novos no fundo de pensão dois funcionários que formam a área de investimentos da instituição. Um é auxiliar de análise de investimentos e outro se dedica a uma tesouraria exclusiva criada para o fundo, efetuando pagamentos e recebimentos. Três meses antes da entrada do novo executivo, o ex-funcionário do fundo da CSN, Alan Rodrigues do Santos, também chegou à equipe interna do fundo, composta por 12 pessoas, e ajuda com informações sobre a área nas tomadas de decisão.
“Santos me aconselha nas escolhas que envolvem o funcionamento prático da instituição e, por outro lado, eu completo o time com uma análise mais aprofundada das alocações, sempre de olho na preservação de capital”, afirma.
Ele também trouxe da tesouraria da empresa a experiência em hedge e captação, o que o ajudou a otimizar o desempenho dos investimentos da fundação. D’Aguiar substituiu Horácio Coser Filho, que agora presta serviços em outra área da companhia patrocinadora.
Outro executivo da companhia, Alexandre Nunes, um brasileiro contratado para atuar no fundo de pensão da empresa na Alemanha e que possui passagens pelo mercado financeiro no Brasil e histórico no atendimento a family offices, também tem sido essencial na estruturação deste novo processo dos investimentos. “Eles [funcionários da matriz alemã] disseram que trabalham com a mesma lógica no fundo da matriz e de outros países onde a marca está presente, pulverização do risco, essa é a principal meta das carteiras.”
Sem reduzir o tamanho da renda fixa desde que entrou na entidade, o executivo fez algumas modificações também nesta área. Dos 70% do patrimônio que estavam concentrados em IMA-S (75%) e IMA-B (25%), houve realocação para IMA-B 5 e IMA-B 5+. Cada uma destas carteiras recebeu 25% de renda fixa, enquanto o IMA-S ficou com 50% e o IMA-B foi zerado. Os próximos passos da fundação estão relacionados a análises de alternativas como private equity e fundos imobiliários, além de oportunidades de investimentos no exterior (ver box).
Alternativas no exterior para 2014
A exemplo de outras fundações brasileiras, o fundo de pensão da Basf também está colocando em seu radar as possibilidades de investimentos no exterior. O responsável pela escolha dos ativos da fundação da empresa alemã diz que vê com bons olhos a compra de opções estrangeiras.
Apesar de se tratar de uma ação nova para o mercado no Brasil, ele aponta que a oportunidade permite uma diversificação dos portfólios. Por ser um tema considerado embrionário pelo executivo, o dirigente conta que uma eventual parcela de alocação de recursos da fabricante seria pequena, apenas para complementação da carteira.
“Nos próximos três meses espero concluir estudos sobre este tipo de investimento para apresentar ao conselho. Essa é uma movimentação que ficará para o ano que vem”, diz D’Aguiar. O gerente comenta ainda um ponto importante na discussão sobre a aposta em mercados externos: a conversão do câmbio. A variação cambial pode ser considerada boa ou ruim, a depender do momento em que as operações são realizadas e o cenário econômico não é considerado bom para uma entrada em bolsas internacionais por parte do fundo da Basf. “Penso na proteção de 100% do patrimônio e nesse movimento. Por isso é preciso conhecer melhor o assunto, ver planos pontuais para que futuramente fiquemos em uma situação desenquadrada das regras. Nosso primeiro passo, deve ser por meio de fundo”, finaliza.