Edição 124
O fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) nas aplicações de bolsas pode resultar em uma onda de migrações dos institucionais de fundos de renda variável para carteiras administradas, num movimento inverso ao ocorrido há cerca de cinco anos atrás, quando eles deixaram as carteiras rumo aos fundos para fugir do CPMF. Agora, com a isenção nas bolsas, não precisam mais dos fundos e podem voltar às carteiras.
Ainda não há casos de migrações concretizadas, mas as fundações estão fazendo seus cálculos para isso. A Ceres, dos funcionários da Embrapa e Emater, já pensa em fazer esse caminho de volta. “A nossa tendência é de migrar de um fundo de renda variável para uma carteira administrada, mas isso ainda não está decidido, estamos estudando”, conta o diretor financeiro da fundação, Cleuber de Oliveira. A Ceres contabilizava cerca de R$ 200 milhões em ativos de renda variável.
Segundo o diretor comercial do BMG, Bruno Amadei, a tendência é que haja um movimento na direção das carteiras administradas, principalmente nas carteiras menores, onde os custos dos fundos pesam mais. Afinal, um fundo tem que pagar anualmente R$ 35 mil à CVM e cerca de R$ 5 mil à uma auditoria, além de R$ 600 por trimestre à Anbid. Numa carteira administrada esses custos não existem, embora o gestor tenha que se preocupar em contabilizar todas as operações. “Se eu tiver que fazer novos produtos, vou propor carteira administrada”, diz Amadei.
Ele acha que as carteiras maiores podem continuar com seus fundos, devido às vantagens de contabilização que apresentam. “Além disso, para um fundo grande os valores de CVM, auditoria e Anbid são perfeitamente suportáveis”, avalia.
Segundo o diretor da RP&A, Marcelo Rabbat, “dos 10 novos clientes que fecharam contrato conosco ultimamente, todos estão me pedindo estudos sobre migração de fundos para carteiras administradas”. Outro que acha que poderá haver essa migração, principalmente nas carteiras menores, é o diretor comercial da Bradesco Asset Management (Bram), José Roberto Castro Santos. “Temos tido várias consultas de nossos clientes sobre a possibilidade de fazer a migração para carteira administrada”, conta Santos. “Acho que isso vai acontecer, principalmente nas carteiras abaixo de R$ 10 milhões”.
A Petros esteve numa situação inversa no início do ano. Com ativos de renda variável da ordem de R$ 2,4 bilhões, a fundação pretendia migrar cerca de R$ 1,3 bilhão, correspondente à sua carteira de giro (exclui a carteira de participações), para fundos de investimento. “Começamos a estudar o assunto, mas chegamos à conclusão que, com o fim da CPMF para as bolsas, os fundos deixariam de ser interessantes”, conta a diretora de investimentos da Petros, Eliane Lustosa. “Então, achamos melhor continuar com a carteira administrada”.
Outro que chegou a pensar em migrar para fundos no início deste ano foi o Aerus, fundo de pensão do grupo Varig. Mas, da mesma forma que a Petros, suspendeu os planos ao constatar que, com o fim da CPMF, os fundos de investimento perdiam completamente seu atrativo. “Não mudamos para fundos de investimento no começo do ano porque tínhamos a expectativa do fim da CPMF para breve”, conta o diretor financeiro do Aerus, Beni Faermann. “Mas, achávamos que o fim da CPMF vinha antes, demorou demais”.