Edição 113
O Credit Suisse First Boston Garantia (CSFB) está em negociações avançadas com quatro empresas para lançar um outro tipo de debênture no País. O banco quer trazer para o Brasil o conceito de negociação com papéis de empresas “high yeld”, amplamente utilizado no exterior. Essas empresas têm um rating menor que as empresas “investment grade” (risco baixo), e em consequência desse risco maior oferecem taxas de remuneração mais altas.
As empresas “high yeld” têm forte presença no setor em que atuam, um market share bastante representativo, acionistas fortes e apresentam grande potencial de crescimento. “Essas empresas precisam obter crédito farto e aumentar a sua alavancagem para crescer”, diz o diretor de pesquisa para mercados emergentes do CSFB, Luiz Arruda.
Entre as empresas brasileiras consideradas “high yeld” estão a GloboCabo e a Trópico. As debêntures da GloboCabo já foram, no passado, uma das mais disputadas pelo mercado. Já a Trópico, fabricante de equipamentos de telefonia, também é uma das cotadas para emitir debêntures pagando taxas de juros mais elevadas. A Trópico tem como acionistas a Promon Engenharia e a Cisco System, empresas consideradas fortes nos setores em que atuam. Entre os setores com companhias que mais se enquadram no perfil de “high yeld” estão o de telecomunicações, transporte ferroviário, elétrico e da mídia. “São os grandes emissores no mundo inteiro”, lembra Arruda.
O executivo destaca que o risco implícito no mercado de dívida corporativa faz com que o investidor, no mercado externo, não compre papéis com remuneração que não estejam pelo menos 2% acima das taxas de juros paga pelos títulos públicos federais. Ele entende que um dos motivos que impede incremento maior do mercado brasileiro de debêntures é a má precificação dos títulos.
O diretor do CSFB considera ainda que o risco de adquirir um papel privado que paga IGP-M mais juros de 12% ao ano não compensa ao investidor, que prefere comprar papéis públicos. Para ele, o spread entre os papéis privados e públicos é muito baixo. As Notas do Tesouro Nacional (NTN-C), também indexadas ao IGP-M, pagam, em média, o indexador mais 10,5% a 11%.
O exemplo coreano na queda das taxas de juros
O diretor de pesquisa para mercados emergentes do CSFB, Luiz Arruda, avalia que o crescimento do mercado de debêntures no País está intimamente ligado à queda das taxas de juros. Ele lembra que, em 1990, a Coréia praticava taxas de juros nominais de 19% e reais de 11%, muito semelhante às taxas brasileiras praticadas hoje. Já em 1996, quando os juros recuaram para 11% nominais e 8% reais naquele país, houve a explosão do chamado mercado de dívida corporativa, que cresceu nada menos que 300%. Arruda acredita que assim que o processo de queda de juros se consolidar no Brasil, o mercado de debêntures pode triplicar dos atuais R$ 35 bilhões num período de cinco anos.