Consolidação continua na Néos | Após consolidar ativos e passivos...

Edição 359

Quase três anos após consolidar numa única entidade ativos e passivos da Faelba, Celpos e Fasern, fundações patrocinadas por distribuidoras de eletricidade da Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, respectivamente, a Néos se prepara para incorporar uma quarta entidade, a Faceb, patrocinada pela distribuidora elétrica de Brasília. “Estamos tomando as providências para finalizar essa incorporação”, diz o presidente da Néos, Augusto da Silva Reis. “Esperamos concluir esse processo em pouco tempo”, conclui.
Com um patrimônio de R$ 1,43 bilhão e pouco mais de 2 mil participantes, a Faceb vai se juntar a uma entidade com patrimônio que ao final de julho somava R$ 3,65 bilhões e quase 18 mil participantes ativos e assistidos. Além da incorporação da Faceb, sobre a qual Reis diz não poder fornecer maiores detalhes a não que o último ponto pendente é em relação ao plano de saúde deles, que é de autogestão, a Néos também negocia a absorção da gestão do plano CD da Elektro, que atualmente é feita pela Vivest, e a criação de um plano família, ainda em fase de estudo.
A incorporação da Faceb segue o mesmo modelo trilhado na incorporação da Faelba, Celpos e Fasern em 2018, quando as três fundações originais foram consolidadas para dar início à Néos. Embora a Néos tenha nascido oficialmente em 2018, até março de 2020 não passava de uma “casca” na definição de Reis, pois cada fundação mantinha em funcionamento os seus próprios planos de benefício. Isso só mudou nessa data com a criação do primeiro plano de Contribuição Definida (CD) da Néos, que passou a ser oferecido de forma conjunta aos novos funcionários de todas as empresas do grupo, enquanto os antigos CDs da Faelba, Celpos e Fasern foram fechados para novas adesões, assim como os BDs, que já estavam fechados.
“Eu costumo dizer que o nascimento efetivo da Néos aconteceu em 2020, com a criação do novo CD”, explica Reis. Ele foi aberto à adesão de empregados de 41 empresas do grupo, incluindo não só as três empresas de distribuição mas também as outras das áreas de geração e transmissão de energia. Atualmente o CD Néos tem um patrimônio de pouco mais de R$ 1 bilhão, já sendo o maior dos sete planos da fundação –os outros são os três CDs e três BDs das fundações originais.

Costura – A consolidação das três fundações em uma só exigiu uma costura delicada que, ao mesmo tempo em que visava dar maior eficiência à entidade, não descuidava de evitar situações de mal-estar entre os dirigentes. Dessa forma, para compor a primeira diretoria da Néos foram convidados diretores das três fundações originais, sendo que a diretoria administrativo financeira ficou com Marcílio Quintino, vindo da Celpos, a de Seguridade com Liane Chacon, vinda da Fasern, e a presidência com Reis, que era da Faelba. A diretoria de investimentos foi ocupada por Alexandre Vita, que tinha passagens pelos comitês de investimento ou conselhos deliberativos das três fundações, além de ter trabalhado na tesouraria do grupo Neoenergia.
A escolha da capital da Bahia para sediar a nova entidade, segundo Reis, foi unânime, uma vez que a Faelba representava mais de 50% do tamanho das três fundações somadas. “A fundação da Bahia era a maior, tinha mais de 50% do patrimônio e do número de participantes de todas as três somadas, então foi uma escolha natural”, diz Reis.
Segundo ele, a Néos tem hoje um quadro de 50 funcionários, incluindo os quatro diretores, representando cerca de 70% do número de funcionários que somavam as três na época da incorporação. Os 30% de funcionários que não foram incorporados à Néos foram realocados para atividades nas suas patrocinadoras de origem. “Ninguém ficou desempregado”, garante Reis.
Além da escolha da sede e da nova diretoria, o processo de consolidação da entidade teve que encarar a questão da tecnologia como uma das suas principais dificuldades, uma vez que cada fundação original utilizava um software de gestão que não falava com os demais. O sistema escolhido para consolidar ativos e passivos foi o da Sinqia e cada fundação teve que migrar para ele, num processo de adaptações e ajustes que durou mais de um ano e meio, terminando só em março do ano passado. “Hoje estamos rodando os sete planos no mesmo sistema, em voo de cruzeiro”, conta o presidente da Néos
Ele afirma que essa integração foi realmente a mais difícil de fazer, uma vez que cada fundação tinha suas particularidades e as regulações, normas e resoluções da previdência complementar estão sujeitos à mudanças frequentes. “É um desafio permanente”, diz Reis. Segundo ele, um exemplo disso é a Resolução 50 do Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), que dispõe sobre o benefício proporcional diferido e que permite ao participante fazer resgate de parte das contribuições. “Esse ponto, por exemplo, foi um dos que exigiram mudanças significativas no sistema”.

Carteiras – Outra mudança importante na incorporação das três fundações originais foi a consolidação das suas carteiras de investimentos, na época formada por 54 fundos de investimentos, alguns abertos e outros exclusivos, com estratégias às vezes sobrepostas e outras vezes até conflitantes. De acordo com o diretor de investimentos, Alexandre Vita, foi necessário um trabalho de reorganização das estratégias e hoje a fundação mantém apenas nove fundos exclusivos, sendo três para atender às necessidades dos planos BDs e seis para os planos CDs, além de meia dúzia de fundos abertos (ações, exterior, florestais, imobiliários e um FoF de FIPs).
Os três fundos exclusivos direcionados aos BDs são de renda fixa, casados com suas necessidades atuariais. Já dos seis exclusivos direcionados aos CDs, três são de renda fixa (um com um pouco de IMA-B, um de crédito privado e um de caixa), dois de renda variável (um mais passivo, próximo do Ibovespa, e outro mais ativo) e um multimercado estruturado. É a partir das cotas desses fundos, além da alocação nos abertos, que cada plano CD monta suas estratégias para atender aos perfis de investimento definidos pelos participantes –os quatro CDs têm perfil de investimento.
“Essa estrutura, além de organizar nosso operacional, também viabiliza a incorporação de outras entidades pela Néos”, explica Vita. “Eventualmente, no caso de incorporação de novas fundações, talvez seja necessário aumentar a quantidade de fundos para conseguir uma diversificação maior, mas por enquanto o número de fundos que temos comporta nossa atual estrutura de planos”.

Faceb e Elektro – No momento a Néos está dando os ajustes finais ao processo de incorporação da Faceb, patrocinada ex-Companhia de Eletricidade de Brasília (CEB), que mudou de nome para Neoenergia Distribuidora de Brasilia (NDB) ao ser privatizada em dezembro de 2020. “A incorporação está quase concluída, mas não posso dar detalhes”, diz Reis. “A principal dificuldade é em relação ao plano de saúde deles, que é de autogestão”.
Além da incorporação da Faceb, a Néos também negocia a transferência da gestão do plano CD da Elektro, que atualmente é feita pela Vivest. Embora o CD da Néos já seja oferecido aos novos funcionários da Elektro, o CD da empresa incorporada pela Neoenergia em 2017 ainda se mantém ativo na Vivest. “A transferência de gestão desse plano depende de algumas decisões, de alguns esclarecimentos. Por exemplo, eles querem saber como é nossa governança, se terão assento no Conselho etc”, explica Reis. “Estamos conversando e resolvendo essas questões”.
Com a incorporação da Faceb, a transferência do CD da Elektro e a criação de um plano família que está em fase de estudo, além de outras iniciativas que ainda não vieram a público, a Néos espera chegar a um total de 14 planos em funcionamento em breve. “Nossa atual estrutura, com alguns ajustes, comporta isso”, garante Reis

Rentabilidade – A Néos fechou o primeiro semestre deste ano com uma rentabilidade de 8,16% no CD da Néos, de 9,21% no CD da Fasern, de 8,61% no CD da Celpo e 8,08% no CD da Faelba. “Superamos os benchmarks em dois CDs e ficamos muito próximos disso em outros dois”, explica o diretor financeiro, Alexandre Vita.
Segundo ele, os benchmarks dos planos CDs são diferentes entre si, variando de acordo com o perfil de investimentos dos participantes. Assim, no Rio Grande do Norte, onde o perfil médio dos participantes é mais agressivo, o plano tem mais ativos de risco na média e portanto um benchmark maior. Para Pernambuco e Bahia, com perfis médios de participantes mais conservadores, o peso dos ativos de risco nos planos, assim como nos seus benchmarks, são menores.
Segundo Vita, a volatilidade da renda variável foi a principal responsável por dois CDs não alcançarem seus benchmarks no semestre. O desempenho da bolsa de valores castigou os planos CDs no 1º trimestre, mas a partir do 2º trimestre a recuperação do mercado acionário permitiu que dois deles atingissem o benchmark enquanto outros dois ficaram próximos disso. No caso dos três planos BDs, a rentabilidade está atrelada basicamente ao carregamento de títulos públicos de longo prazo, levando a que batessem suas metas atuariais sem sustos.
“A gente não fica comparando muito a rentabilidade dos planos, pois como os CDs têm perfil de investimento, e a depender da maior ou menor concentração dos participantes em ativos de risco o resultado do plano é afetado, a comparação não tem muito sentido”, diz Vita. “Assim como não comparamos com os BDs, que basicamente carregam títulos públicos”.
Segundo ele, as perspectivas de investimento do próximo período estão atreladas, de forma bem significativa, ao que decidem os participantes nos perfis de investimento. “Nos BDs devemos seguir o ALM e nos CDs dependemos dos mandatos indicados pelos participantes nos perfis de investimento”, explica.
Dos R$ 3,65 bilhões da Néos ao final de julho, quase R$ 1,97 bilhões estavam nos quatro planos CDs e R$ 1,63 bilhões nos três planos BDs, com o resto no PGA.