Consultorias a todo o vapor | A série de mudanças que devem estar...

Edição 108

As consultorias de fundos de pensão nunca viveram um período tão agitado e promissor. Todo o leque de mudanças implementadas nos últimos meses tem levado os profissionais da área a um expressivo aumento do trabalho: as contratações da custódia centralizada, que fazem aumentar a demanda por contratos de gestão e análise do risco; a definição da política de investimentos, as mudanças no novo Demonstrativo Analítico de Investimentos e Enquadramento das Aplicações (DAIEA), entre outras exigências da Resolução 2.829 que devem estar prontas até o final deste ano, mais que dobrou o trabalho para os profissionais do setor.
As saídas para dar conta do aumento da demanda foram contratar pessoal, se desdobrar em horas extras, montar novas estruturas e fazer parcerias com empresas que prestam serviços similares ou que possam agregar novos. “Estamos em ritmo de trabalho bastante acelerado. Pelo menos até o final do ano não teremos folga”, comemora o consultor da Towers Perrin, Felinto Sernache.
Para atender ao crescimento da demanda, a Towers firmou uma parceria com a recém-criada Net Quant Financial Information Technology. A empresa, que começou a operar com a entrada em vigor da Resolução 2829, no final de março, é focada em sistemas de gestão e de controle de risco e em análise de performance de investimentos.
A parceria visa facilitar o trabalho de consolidação dos investimentos e a confecção de relatórios gerenciais e foi a melhor maneira de entrar mais rápido neste promissor mercado. “Em vez de criarmos uma empresa e levarmos cerca de dois anos para ganhar mercado, importamos tecnologia pronta”, raciocina Sernache. Os sócios da Net Quant são ex-integrantes da canadense Algorithmics, também especializada em análise de risco.
Para dar conta das solicitações dos fundos de pensão, a Towers, mais focada em consultoria atuarial, precisou montar uma nova estrutura interna, com um consultor senior e uma analista de investimentos. Já em parceria com a Net Quant, a Towers criou também uma espécie de clube de investimentos, com15 fundações, que vão trocar experiências e discutir em conjunto a execução de relatórios gerenciais e de elaboração da política de investimentos. “Será um treinamento para que os fundos de pensão se acostumem com o funcionamento das novas regras do sistema. A idéia é ajudar as fundações na tomada de decisões”, conta Sernache. O objetivo é encerrar o ano com 30 fundações no “clube”.
Segundo Juan Zeballos, sócio da Net Quant, “o ambiente regulatório” que vem dominando o mercado de previdência complementar está estimulando o mercado a criar soluções alternativas para gestores e fundos de pensão. Ele avalia que, embora os fundos de pensão estejam na “reta final” para entregar os serviços exigidos pela 2.829, existe ainda um longo caminho a ser percorrido. “Essa não é uma corrida de 100 metros. É uma maratona que está apenas começando”, compara Zeballos. Ainda segundo ele, a “guerra de preços” que vem acontecendo para contratar os serviços das fundações só poderá ser avaliada se foi benéfica daqui a algum tempo, quando as fundações tiverem maior tranqüilidade para avaliar a qualidade dos serviços prestados.

Sem tempo – O volume de trabalho da empresa de consultoria Performance Portfólio, a PPS, dobrou. O principal sócio, Everaldo França, já tinha deixado de praticar o seu principal hobby – jogar handball – por causa do aumento da carga horária de trabalho na consultoria. Nos últimos três meses, ele também teve que reduzir as horas livres que passa com os quatro filhos. “Só sobra tempo aos sábados e domingos. Fim-de-semana, para mim, ainda é sagrado. Não sou um workaholic”, insiste.
Nos últimos três meses, o tempo de permanência em seu escritório, no Bairro do Itaim, em São Paulo, é cada vez menor. O consultor passa a maior parte do tempo se locomovendo entre um cliente e outro. De uma carteira fixa de seis fundos de pensão, que atendia em agosto, Everaldo pulou para uma carteira de dez fundações. Entre os quatro novos clientes está a Fundação Volkswagen, para quem realiza um trabalho de avaliação do desempenho dos gestores dos seus fundos exclusivos. Além disso, também avalia o desempenho dos gestores dos fundos da empresa patrocinadora, a Volkswagen do Brasil. “São 12 fundos para serem avaliados da fundação mais a consolidação das carteiras, e mais 14 fundos do Grupo. É um trabalho minucioso e que requer bastante tempo”, diz França.
Outro serviço bastante trabalhoso da PPS está sendo feito para a SPC (ver box), além de outros dois novos contratos mantidos sob sigilo. A equipe foi mantida, apesar da carga: oito pessoas. Everaldo ainda encontra tempo para dar aulas no curso de MBA da Faculdade Instituto de Administração (FIA-USP) e no MBA de corporate banking do Instituto Mauá de Tecnologia.
Depois da corrida para a contratação da custódia centralizada, as fundações estão de olho no cronômetro para definir a política de investimentos. A consultoria Rabbat, Prandine & Associados (RPA) que o diga. Uma equipe de oito pessoas está fechando a política de investimentos de 30 fundações, das quais 15 são clientes novos. “Cada relatório tem uma redação final de cerca de 60 páginas”, conta o consultor Sérgio Malacrida.
Nos últimos dois meses ele chegou a passar a semana inteira fora de São Paulo, visitando fundações por diversas capitais do País. O consultor da RPA, que neste período só falou com seu filho Pedro, de 7 anos, por telefone, chegou a ficar o dia inteiro de um sábado trancado com a equipe de investimentos em uma fundação de Brasília.

Soluções na Internet – Segundo a diretora da RiskControl, Eduarda de La Rocque, a procura pelos serviços aumentou cerca de 30% desde o início do segundo semestre. Para atender à demanda, a consultoria ampliou a sua equipe de oito para 11 pessoas nos últimos três meses. Duas pessoas foram contratadas para atender exclusivamente os clientes que utilizam o serviço da consultoria na Internet.
Confiante na demanda por serviços na Internet, a estratégia da Risk Control é priorizar os serviços na rede. Eduarda conta que, para ganhar escala e reduzir custos foi lançado recentemente a RiskControl Web, que oferece dois serviços: a geração de relatórios e a implantação do sistema de risco na fundação. A consultoria também implanta soluções na Web para a geração de relatórios especialmente por parte das fundações de menor porte. “O objetivo é fazer com que os fundos de pensão menores façam simulações on line sobre troca de posições, usando o modelo de risco como parte do processo de gestão”, destaca. “Os serviços na Web são bastante promissores, pois trazem maior agilidade, permitindo diversas simulações de risco simultâneas”, explica.
Já para a consultoria internacional Barra, o aumento da demanda pelos seus serviços não foi tão expressivo, da ordem de 10%. Segundo o consultor Fernando Lifsic, o crescimento não é maior porque a consultoria está muito focada no modelo de gestão das carteiras. “Neste nicho, a demanda segue um ritmo de crescimento uniforme”, diz Lifsic.
Ainda assim, a Barra observou aumento das consultas pelos seus serviços por parte das fundações e dos bancos contratados pelas entidades para fazer a custódia centralizada. As instituições financeiras oferecem em seu pacote de serviços o trabalho das consultorias de risco externas. Mesmo os bancos que têm sistemas de risco próprios disponibilizam esta facilidade para não perder o contrato da custódia. A Barra está fazendo ainda alguns trabalhos informais para a SPC, como seminários sobre modelos de gestão. A SPC, aliás, está dividindo o “bolo” dos seus serviços com diversas consultorias (ver box).

Filão compartilhado
O acúmulo de trabalho está fazendo com que a SPC distribua serviços entre diversas consultorias. A Rabbat Prandine & Associados (RPA), por exemplo, está elaborando o novo DAIEA (ver página 16). Já a RiskControl foi contratada pela SPC para fazer a análise da carteira do risco dos fundos de pensão sob intervenção ou em liquidação extra-judicial.
A Performance Portfólio, por sua vez, cuida da elaboração das normas que vão regulamentar e padronizar o cálculo das cotas dos ativos, conforme determina a Resolução 2829.
Segundo o consultor da PPS, Everaldo França, hoje, as informações que os fundos de pensão enviam para a Secretaria chegam de forma desordenada. “Não existe padronização. Não se sabe, por exemplo, se nos cálculos das cotas já estão descontados o IR e as taxas de administração cobradas pelos gestores”, explica.
As cotas devem ser calculadas por carteira e por tipo de plano. A nova fórmula para o cálculo das cotas estará pronta nos próximos dias e será utilizada a partir do ano que vem no DAIEA, que deverá ser enviado eletronicamente a partir do ano que vem à SPC.