Consultoria compartilhada | Enquanto grandes fundos de pensão mes...

Edição 117

Aliado ao crescimento da procura por consultorias de investimentos, sobe também o conceito de “consultoria compartilhada” em fundos de pensão. Isso significa que, apesar de recorrerem cada vez mais a empresas especializadas, as fundações têm feito adaptações aos modelos de serviços financeiros disponíveis no mercado e investido em profissionalização interna para atender à legislação. Com isso, conseguem um serviço adaptado às suas necessidades específicas.
A consultoria Towers Perrin registrou ultimamente uma maior procura por projetos “sob encomenda”, o que não era comum no passado. “A política nos fundos de pensão está cada vez menos burocrática e mais profissional”, diz o diretor da Towers, Felinto Coelho. Já Marcelo Rabbat, da PRA, defende que esse nicho do setor já nasceu com modelo de atendimento totalmente personalizado. “Cada fundo tem uma realidade diferente”, afirma.
Para as fundações, o modelo compartilhado permite maior autonomia de procedimentos. “Apesar de contarmos com os serviços de uma consultoria, nós definimos o processo de seleção de gestores levando em conta critérios específicos da Sistel”, diz o diretor financeiro da fundação, Carlos Alberto Cardoso Moreira. Mesmo tendo sua própria equipe de análise de risco, a Sistel contrata os serviços da Prandini Rabbat e Associados, (PRA), líder neste nicho de mercado. Segundo Moreira, a contratação de consultorias é uma forma de manter-se sempre atualizado em termos de informações.
A Petros é outra que conta com seus próprios profissionais na área de análise de risco, embora não dispense os serviços de uma consultoria. São 16 profissionais em gestão e análise de risco, que operam em sintonia fina com a equipe da Financial Consultoria Econômica (FCE), consultoria recém-contratada para fazer o trabalho de ALM (Asset Liability Management) – processo que integra os investimentos às necessidades do passivo. Antes da contratação da consultoria, ocorrida no início de abril, eram 25 profissionais envolvidos com a área de gestão e análise de risco.
A Fundação São Rafael, dos funcionários da Xerox, começa a dar os primeiros passos no relacionamento com consultorias. Neste mês de abril, decidiu contratar pela primeira vez uma empresa de consultoria de investimentos: a PPS Portfólio Performance. A única experiência do fundo de pensão da Xerox com esse tipo de negócio havia ocorrido em 1997. Mas, naquela época, a fundação optou pela contratação de um profissional autônomo do mercado. Desta vez, depois da formatação da política de investimentos do patrimônio, avaliado em R$ 385 milhões em dezembro de 2001, haverá um acompanhamento mais contínuo dos passos da São Rafael no mercado financeiro.
O diretor da fundação, Peter Rasch, acredita que há espaço para a expansão do nicho de consultorias de investimentos. “Eu acho que haverá um crescimento principalmente em controle de risco, porque não faz sentido investir em softwares de análises nem sofisticar-se tanto dentro de casa. Nos EUA, cada fundo de pensão utiliza diversas consultorias”, afirma. “A tendência é que isso se repita no Brasil”.

Preços – O que pode definir muitas vezes a opção por uma consultoria de investimentos ou pela realização de um trabalho por conta própria é o custo, segundo o gerente da mesa de operações da Petros, Marcelo Pelegrino. “Em áreas que não dominamos também há a contratação de consultorias, mas o fator que mais pesa é o custo”, afirma.
A Mercer Human Resource Consulting, com 70 fundos de pensão em sua carteira, não fecha um único contrato há mais de seis meses. Para o consultor da empresa, Lauro Araújo, o motivo da estagnação nos negócios é o leque muito reduzido de aplicações financeiras no mercado. Ele aponta ainda o problema de custos altos. “O consultor só pode agregar valor quando o produto é mais sofisticado, mas não há muitas opções no País”, diz.
Segundo Araújo, o crescimento dos fundos de pensão no Canadá por exemplo, que foi iniciado há seis anos, só ocorreu porque o governo local permitiu a aplicação de 30% dos recursos fora do País. Araújo explica ainda que hoje nenhum fundo de pensão brasileiro está disposto a pagar R$ 10 mil apenas para a seleção de um gestor de fundo DI, que tem funcionamento bem simples. No entanto, ele acredita que a possibilidade de novos investimentos no exterior e a queda da taxa de juro no mercado podem alavancar esse leque de opções e esquentar um pouco o setor. “Mas num cenário de juros altos o cliente não se sente incentivado a buscar algo criativo com maior risco”, afirma.

Otimismo – Mais otimista, Everaldo Guedes de Azevedo França, da PPS Portfólio Performance (que conta com uma carteira de 11 fundos de pensão), acha que ainda não foi formada no País uma cultura de consultorias de investimentos, mas acha que a tendência é de expansão nesse segmento. “Com o crescimento do tamanho dos próprios fundos, será necessária maior diversificação de gestores. Outro motivo é que muitas fundações têm migrado de fundos abertos para fundos exclusivos”, afirma. Essa migração acabou aumentando o trabalho das asset management, na opinião do gerente do BNL Pedro Forato. “Antes você tinha um fundo aberto que atendia a vários clientes, mas hoje são todos fundos exclusivos”, diz Forato, que vê com bons olhos o trabalho das consultorias. “Acho que o processo de seleção de gestores, feito pelas consultorias de investimentos, premia aqueles que têm mais consistência”.
O sócio da ARX Capital, José Alberto Tovar, é outro que acredita que as consultorias de investimentos cresceram na esteira de uma maior exigência técnica do mercado, que cresceu com a Resolução 2.829. “Não basta apenas julgar quem teve boa rentabilidade, mas porque ganhou e como ganhou isso, levando em conta o risco ajustado”, afirma. A ARX chegou ao mercado em 2001 e conquistou três fundos de pensão como clientes. Além disso, está envolvida em quatro processos de seleção de gestores.
Ainda segundo as assets, o envolvimento cada vez maior das consultorias na área de seleção de gestores acabou aumentando a concorrência e forçando a derrubada das taxas de administração. Mas, segundo Forato, do BNL, o mercado já começou a perceber que essa queda foi exagerada, colocando em risco a existência de várias assets especialistas. “Chegamos a ficar fora de um processo, uma vez, porque não nos interessava ganhar o cliente com uma taxa tão baixa”, afirma.

A hora das comparações
A efervescência no nicho de consultorias começou em meados do ano passado, com a aprovação da Resolução 2.829, que regulamentou a política de investimentos dos fundos. Só para se ter uma idéia da movimentação no mercado, em meados de 2001 a consultoria PRA chegou a ter 20 processos de seleção de gestores. Desde o início deste ano a PRA já analisou 8 processos. Segundo Rabbat os negócios vão bem porque, normalmente, os fundos de pensão só começam a trocar de administradores no segundo trimestre.
No Clube de Investimentos da Towers, formado por 15 fundos de pensão, também já começou a fase em que os administradores questionam a aderência do fundo à política de investimentos da fundação. “Agora começam as comparações, é hora de chamar o gestor para conversar”, afirma Coelho. O clube é um modelo de consultoria conjunta que oferece marcação a mercado, análise de risco (Value at Risk- VAR) e comparação de rentabilidades.
Para Rabbat, nessa nova onda de realocação de recursos, os gestores mais agressivos têm perdido espaço na hora de seleção de fundos de pensão, porque não cabem no perfil exigido pelas fundações (veja tabela acima). Uma dificuldade encontrada na seleção dos gestores é que, com a onda de fusões e aquisições, diminuem as opções de gestores no mercado. “Há perda de alternativas”, diz Rabbat.
Araújo, da Mercer, acredita que o encolhimento do setor ainda vai continuar. “O mercado brasileiro não comporta a quantidades de gestores, há poucos produtos”, afirma. Neste caso, o maior desafio das consultorias de investimento é checar se o potencial gestor do fundo de pensão pode ou não ser vendido futuramente. Tudo isso é feito para tentar assegurar aos fundos de pensão uma manutenção futura da atual política de investimentos e gestão da asset a ser escolhida.