Edição 298
As indefinições que permeiam o ano de 2018, com o quadro eleitoral indefinido, a forte valorização já apresentada pelo mercado acionário brasileiro e global e a queda da taxa de juros a níveis que não serão mais suficientes para fazer frente às metas atuariais gera uma combinação que levou uma série de fundos de pensão a formar nos últimos meses reservas de liquidez com novos recursos oriundos de contribuições e realizações de lucros. Eletros, Eletra, Derminas e Fundiágua estão entre as entidades que mantém parcela significativa do patrimônio em caixa até que um ambiente mais claro e oportunidades mais atrativas se apresentem no mercado.
Na fundação da Eletrobrás, a Eletros, que soma um patrimônio de aproximadamente R$ 4,46 bilhões, o diretor financeiro Luiz Guilherme Pinto afirma que cautela é a palavra de ordem para 2018. “Com o cenário incerto por conta das eleições e a bolsa já tendo apresentado forte valorização, a Eletros está em compasso de espera”, pondera o dirigente. Pinto lembra que nos últimos anos a fundação manteve uma exposição significativa no mercado acionário, que se mantém por volta de 15%, acima da média do mercado se excluídas as maiores entidades. O diretor financeiro afirma que, assim como já fez no ano passado, não está descartada a possibilidade de realizar operações de hedge na bolsa para evitar perdas em caso de um movimento mais forte de realização por parte dos investidores.
Segundo Pinto, nos planos CD e CV do Eletros, que juntos somam cerca de R$ 2,53 bilhões, os recursos líquidos, em CDI ou em títulos de curto prazo, chegam próximos a 75%. “Além da parcela de 15% em ações temos 5% em imóveis e 5% em empréstimos, e uma participação residual de menos de 1% em um fundo que compra cotas de FIPs da Hamilton Lane. O restante da carteira está bastante líquida”, afirma o diretor financeiro. Ele explica que, por conta da queda nos prêmios da renda fixa, a carteira de títulos longos teve redução importante durante o ano de 2017 e hoje esse investimento responde por apenas 4,3% do portfólio nos planos CD/CV da Eletros, percentual que era de 51,2% em setembro do ano passado.
A opção de iniciar o investimento no exterior, prossegue Pinto, também não desperta grande interesse, uma vez que as bolsas globais também estão próximas de suas máximas históricas. “No momento vemos como vantagem na estratégia de investimento no exterior a diversificação pelo câmbio, mas para conseguir isso não precisamos investir em um fundo de ações no exterior, basta alocar em um fundo cambial”, nota o dirigente.
O cenário de incertezas previsto para 2018 contrasta com o observado no acumulado de 2017, quando todos os seis planos de benefícios da Eletros estão batendo com folga suas respectivas metas atuariais, graças ao bom rendimento apresentado no período pela renda fixa e renda variável.
PDV – A Eletra, fundação da Celg (Companhia Energética de Goiás), também tem um colchão de liquidez acumulado no momento que soma cerca de R$ 90 milhões, e que segundo Wisley Pimenta, diretor administrativo-financeiro da entidade, poderá migrar parcialmente para fundos multimercados estruturados a depender da situação política. A Eletra já tem 3% dos recursos no segmento através do fundo da Arx e tem recebido outras gestoras que devem passar a compor seu portfólio. “Nossa intenção é pulverizar a carteira, temos encontrado bons fundos no mercado e pretendemos diversificar”.
O dirigente explica que a reserva de liquidez foi formada nos últimos meses para fazer frente ao Programa de Demissão Voluntária (PDV) promovido pela maior patrocinadora da Eletra, a Celg Distribuição, que foi encerrado em 31 de outubro de 2017, após a privatização da empresa no final do ano passado, quando passou a ser controlada pela Enel Brasil. No PDV cerca de 600 empregados, e R$ 107 milhões, deixaram a Eletra, volume expressivo frente aos 1,3 mil participantes ativos que se mantiveram na empresa.
O fundo de pensão da Celg tem uma posição em ações de 7% de um PL total de R$ 770 milhões, terceirizado com as assets Bogari, Kinea, Vinci e XP. Pimenta ressalta que a entidade não cogita aumentar esse percentual, e pode até diminuí-lo ao longo dos próximos meses caso o cenário já incerto de 2018, por conta das eleições, se torne ainda mais nebuloso caso as reformas que o governo tenta aprovar não forem para frente. “Em 2018, por se tratar de ano político e com muitas incertezas, teremos muita cautela e não pensamos em fazer grandes movimentações na carteira”, diz Pimenta.
No acumulado de 2017 os planos de benefícios da entidade tem conseguido retorno acima de suas metas. O BD, com patrimônio de R$ 81 milhões, já fechado e com apenas 128 assistidos, teve rentabilidade de 9,43% em 2017 até setembro, enquanto no CV a valorização foi de 8,69%, ante uma meta de 5,5% para o período.
Aguardando – A Fundiágua, com patrimônio de aproximadamente R$ 750 milhões, também tem um colchão de liquidez de cerca de R$ 60 milhões em seus dois planos de Benefício Definido (BD) que, dependendo do desenvolvimento da situação política em 2018, poderão ser alocados em ativos de maior risco para fazer frente à queda dos juros. Mário de Figueiredo Neto, gerente de investimentos da fundação, conta que nesse caso a intenção é direcionar os recursos para fundos multimercados estruturados e de renda variável.
No plano de Contribuição Definida (CD), de natureza mais líquida por receber aportes mensais da ordem de R$ 4 milhões, o processo de seleção dos gestores de multimercados já foi realizado, em maio de 2017, quando foram contratadas Kinea, Modal e Garde, que receberam no total cerca de R$ 25 milhões. Já na renda variável o processo de seleção de novos gestores, que deverão ficar responsáveis por aproximadamente R$ 20 milhões da Fundiágua, está em fase final de apuração. Essas estratégias de maior risco adotadas pelo plano CD devem ser replicadas em menor escala também nos BDs nos próximos meses, afirma Mário. “Vamos fazer alocação em ativos de maior risco, mas visando apenas aqueles que apresentam maior liquidez, e também com toda cautela necessária dado o cenário de incertezas principalmente por conta da política em 2018”, diz Neto.
O gerente de investimentos ressalta que a cautela necessária para fazer os investimentos de maior risco ganha ainda mais importância no caso do plano BD 2, que iniciou em 2017 processo de equacionamento de seu déficit de R$ 90 milhões, com contribuições extras de 10,3% por parte de participantes e patrocinadora, e que deve perdurar pelos próximos 14 anos.
A Fundiágua também tem conseguido com folga cumprir suas metas em 2017. O plano BD 1, já fechado, teve rendimento de 15,23% em 2017, até setembro, contra uma meta de 5,76%, enquanto o BD 2, também fechado, teve rendimento de 9,06% ante a meta de 5,69%. E no plano CD, de R$ 470 milhões, que tem como referencial o CDI, que rendeu 8,03% de janeiro a setembro, o retorno alcançado foi de 10,89%.
CDI – Na Derminas a história não é diferente da observada nas demais fundações, e a entidade do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DERMG) tem hoje cerca de 10% de seu PL de R$ 453 milhões em ativos de alta liquidez, provenientes principalmente dos rendimentos da carteira de títulos públicos.
Adilson Soares, gestor de investimentos da Derminas, explica que, pelo fato da meta atuarial, de INPC mais 4,5%, ser um pouco menor do que a média do setor, até o momento a fundação ainda tem conseguido fazer frente ao seu passivo mantendo parte de sua alocação no CDI. No ano até outubro o retorno da carteira do fundo de pensão corresponde a 130% de sua meta.
“Até o momento o CDI tem sido suficiente para pagarmos as contas, mas é uma situação que não deve durar muito mais tempo”, pontua Soares. Por conta dessa perspectiva, para 2018 a tendência é que a fundação direcione essa liquidez para novos fundos de ações e multimercados estruturados. O segmento de renda variável representa atualmente apenas 1,4% do portfólio total da Derminas, distribuído em fundos fechados da Sul América e Kinea que seguem a estratégia de valor.
Já o multimercado estruturado responde hoje por 2,5% do PL, alocado no fundo Galileo do Safra. Dentro do segmento de multimercados estruturados, o gestor não descarta a possibilidade de o incremento se dar via fundos que ofereçam exposição ao exterior, posicionamento que a Derminas ainda não tem, mas já previsto em sua política de investimentos.