CalPERS discute se adota novo modelo de gestão de investimentos

O fundo de pensão dos funcionários públicos da Califórnia (CalPERS), um dos maiores do mundo com US$ 556 bilhões em ativos, pode estar prestes a promover uma das mudanças mais significativas na gestão dos seus investimentos da última década. Seu diretor de investimentos, Stephen Gilmore, propôs substituir o tradicional modelo de Strategic Asset Allocation (SAA) por uma abordagem mais flexível conhecida como Total Portfolio Approach (TPA).

A TPA é adotada, entre outros, pelo fundo soberano australiano Future Fund e pelo fundo de pensão neozelandês NZ Super. Gilmore ocupou cargos de liderança em ambos antes de ser recrutado para trabalhar no CalPERS, em meados do ano passado.

A proposta de mudança, que deve ser votada pelo conselho do CalPERS em novembro,  reacendeu um debate internacional sobre a melhor forma de gerir grandes volumes de capital.

O modelo SAA, predominante entre fundos de pensão e investidores institucionais, baseia-se em dividir a carteira em classes de ativos — como ações, títulos e imóveis — e definir percentuais fixos de aplicação. Cada segmento é gerido por especialistas com metas próprias, em uma estrutura estável e previsível.

Já o TPA propõe uma gestão integrada e dinâmica, em que o foco deixa de ser “quanto investir em cada ativo” e passa a ser “quanto risco o fundo está disposto a assumir”. Em vez de seguir proporções rígidas, o portfólio busca superar uma carteira de referência — normalmente composta por ações e títulos — substituindo gradualmente ativos conforme as oportunidades de risco e retorno.

A abordagem também oferece mais liberdade para investir em ativos menos convencionais, como infraestrutura, derivativos e moedas. Segundo a consultoria Willis Towers Watson ouvida pela publicação australiana Financial Review, o modelo TPA pode incrementar até 1,8 ponto percentual ao retorno anual de um fundo.

Apesar do entusiasmo de alguns, o TPA enfrenta resistência. Um especialista na área de investimentos de fundos de pensão classifica a metodologia como uma “reformulação de teorias antigas”, derivada da teoria de portfólios dos anos 1970. Mesmo defensores do modelo, como Brad Dunstan, co-CIO do NZ Super, reconhecem que ele exige mais colaboração, dados sofisticados e gestores com visão ampla.

O interesse crescente por essa estratégia — também adotada pelo fundo soberano de Cingapura, o GIC, reflete uma busca por modelos mais ágeis em um cenário de retornos incertos nos mercados de ativos públicos e questionamentos sobre a rentabilidade dos ativos privados.

A votação no CalPERS será acompanhada de perto por investidores do mundo todo. Caso o fundo californiano adote o TPA, pode abrir caminho para uma nova era de gestão de investimentos institucionais, que substitua a rigidez da alocação fixa pela agilidade da análise de risco.

No fim, a disputa entre SAA e TPA sintetiza uma questão maior: se a disciplina e a estabilidade ainda são as melhores armas dos grandes investidores ou se a flexibilidade e a adaptação passaram a ser a nova estratégia.