A política econômica do ministro Paulo Guedes e companhia impactou positivamente os preços dos ativos no mercado financeiro. Mesmo com um PIB que não deve ter crescido muito mais do que 1% em 2019, a percepção dos investidores sobre o trabalho em curso na área econômica resultou em uma valorização de 31,5% do Ibovespa e de 12,8% do IMA-Geral. O bom desempenho da bolsa e da renda fixa deixou os investidores bastante satisfeitos, e os fundos de pensão mais ainda. Isso porque fundações que até então vinham amargando déficits em seus planos conseguiram revertê-los graças aos resultados obtidos no mercado.
A FIPECq, EFPC da FINEP, IPEA, CNPq, INPE e INPA, chegou a ter um déficit de R$ 263 milhões em 2015 no seu plano de Benefício Definido (BD) de R$ 1,5 bilhão. Em 2018, o rombo havia diminuído para R$ 29,1 milhões. Em dezembro passado, fechou no azul em R$ 55,5 milhões após uma rentabilidade do portfólio de 15,45% ante uma meta atuarial de 9,17%.
No Infraprev o pico do déficit foi em 2016, quando as contas fecharam no vermelho em R$ 154 milhões no plano de Contribuição Variável (CV) de R$ 3,6 bilhões. Em 2018, o déficit havia caído para R$ 47 milhões. Em 2019, o plano fechou com superávit de R$ 37 milhões após um rendimento da carteira de 15,66%, o maior desde 2009, frente a meta de 9,05%.A superintendente interina do Infraprev, Juliana Koehler, afirma que o superávit teria sido ainda maior se não fosse a redução da meta atuarial de 5,50% para 5,30% promovida para o exercício de 2020. “Tivemos de diminuir a meta para nos adequar à realidade do mercado, o que acaba gerando um incremento do passivo”, diz Juliana. “Sem isso, o superávit teria sido de R$ 100 milhões”.
Para reverter o quadro de desequilíbrio financeiro encontrado em 2016 a estratégia foi aumentar a diversificação da carteira, porém com uma atenção redobrada em governança e controles de riscos, afirma a superintendente. O Infraprev aderiu recentemente ao código de autorregulação em governança de investimentos da Abrapp e se prepara para obter o selo. Uma das razões para o déficit nos anos anteriores foram aplicações em Fundos de Investimento em Participações (FIPs) que não performaram conforme o esperado.
Preparado para assumir mais riscos, o Infraprev aumentou ao longo de 2019 de 11% para 19% sua exposição em renda variável, com um mix entre gestão própria e terceirizada. “O ALM indicava uma exposição menor em ações, mas entendemos que seria preciso um pouco mais para superar a meta”, diz Juliana. “Após o período de maior incerteza quando das discussões sobre a reforma da Previdência, começamos a aumentar a parcela em bolsa”, complementa. A decisão não poderia ter sido mais acertada – a rentabilidade da carteira de ações do Infraprev foi de 35,5% no ano passado, superando em quatro pontos percentuais o Ibovespa.
A fatia de 10% aplicados em estruturados foi outro destaque positivo, ao render 24% em 2019. Nesse caso, contribuiram os multimercados e os FIPs, com investimentos em infraestrutura, florestas e educação. Também com um bom desempenho, o investimento no exterior subiu 34,8%, mas representa menos de 1% do portfólio.
Com o objetivo de ampliar o superávit conquistado, o fundo de pensão planeja aumentar a alocação em multimercados estruturados e no exterior. “Iniciamos a alocação global via ETF como forma de aprendizado e agora vamos buscar fundos de gestão ativa”, diz Juliana. Para aumentar a exposição a ativos de maior risco, a renda fixa seguirá perdendo espaço – saiu de 70% em 2018 para os atuais 62% e deve chegar em 60% até dezembro.
A EFPC da Infraero também vai reestruturar sua carteira imobiliária, com a alienação de imóveis e o redirecionamento para fundos imobiliários. “Temos uma concentração de imóveis no Rio de Janeiro, onde a vacância ainda é alta”, afirma a superintendente. Já a alocação em bolsa não deve ultrapassar o patamar atual, considerado adequado pela fundação. “Vamos buscar a superação da meta, mas controlando bem o risco”, diz Juliana. “Nosso plano já é maduro e não traremos volatilidade excessiva para a carteira”.
No caso da FIPECq, quando o déficit alcançou o pico de R$ 263 milhões em 2015, foi o momento em que a página começou a ser virada. Ao se deparar com o tamanho do desafio, a direção da entidade entendeu que era chegada a hora de profissionalizar a gestão da EFPC, encerrando com a tradição de ter membros da diretoria vinculados aos patrocinadores ou aos participantes. Para isso, uma empresa de headhunter foi contratada para buscar profissionais qualificados no mercado.No mesmo ano Claudio Munhoz assumiu a presidência da FIPECq. O profissional é graduado em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) com pós-graduação em previdência privada pela University of Pennsylvania Wharton School. Ele atuou na criação da BrasilPrev e foi diretor administrativo da BB Previdência e da Previ, além de ter sido superintendente de saúde e diretor de seguridade da Sistel.
Assim que chegou, Munhoz identificou a necessidade de reduzir os custos administrativos da entidade – de 32 funcionários em 2015 o número passou para 13, com boa parte das tarefas operacionais sendo terceirizadas. “Tínhamos profissionais com salários acima da média do mercado”, diz o dirigente. Após o trabalho de enxugamento, os custos caíram aproximadamente 50%. “O objetivo ao reduzir as despesas era permitir uma rentabilidade maior, já que a fundação se financia através dos recursos garantidores”, afirma Munhoz.
Além da austeridade fiscal, a busca de rentabilidade também foi priorizada com a contratação de reforços, começando com o convite a Claudinei Perez para ocupar a diretoria de investimentos em 2017. Com cerca de 30 anos de experiência no mercado, Perez tem passagens por BB-BI e Maxblue Investimentos (instituição criada em parceria entre BB e Deutsche Bank para clientes de alta renda), além de ter sido diretor financeiro dos frigoríficos Minerva e Mercosul.
“Quando cheguei a fundação possuía uma carteira própria de renda variável que sequer superava o Ibovespa”, afirma Perez. A decisão então foi vender essa carteira e, com o auxílio da Aditus, desenhar um novo modelo para identificar os melhores fundos de ações, com retornos superiores ao benchmark e menor volatilidade.
Sob os cuidados dos gestores selecionados, o portfólio de renda variável da FIPECq rentabilizou 45% em 2019; a carteira própria, a título de comparação, se fosse mantida teria rendido 21%. “A carteira própria tinha uma exposição grande em Vale, que teve um desempenho ruim”, diz o diretor de investimentos. Assim como os fundos de bolsa, os multimercados também passaram por uma renovação com o mesmo intuito de alcançar maiores retornos com menos risco. No ano passado, a carteira de multimercados da EFPC rendeu 8,96%; o portfólio anterior teria rendido 5,93%.
O FIP da Crescera (antiga Bozano Investimentos) foi outra contribuição importante. A carteira de estruturados do fundo de pensão teve um retorno de 35,7% em 2019, em grande medida devido ao IPO de US$ 300 milhões na bolsa americana Nasdaq em julho da empresa de educação médica Afya, uma das investidas do fundo.
“Para 2020 estruturamos um fundo exclusivo junto à i9, que vai tornar mais ágil as trocas dos fundos em nossa carteira”, diz o presidente da FIPECq. “Dado o cenário desafiador previsto para este ano, sentimos que seria preciso reforçar a estrutura para fazer as mudanças na velocidade necessária”, afirma Munhoz.