Bolsa em alta anima os investidores | Os resultados de outubro me...

Edição 127

A alta do mercado acionário, com o Ibovespa acumulando uma valorização de 17,92% em outubro, animou os investidores institucionais, que viram uma parte dos prejuízos acumulados durante o ano se diluírem um pouco na alta do mês. Algumas fundações, basicamente aquelas que têm a meta atuarial fixada em INPC, vislumbraram pela primeira vez em muitos meses a possibilidade de fechar o ano com
a meta batida – ou próximo disso.
É o caso da Eletros, fundo de pensão da Eletrobrás. Com o Ibovespa a 9.800 pontos no dia 7 de novembro, a fundação estava perto de bater sua meta, estabelecida em INPC. Para isso, seria necessário que a bolsa continuasse sua trajetória de alta e chegasse aos 10.500 pontos. “Se a bolsa chegar a 10.500 pontos nós batemos a meta”, avaliava o gerente de investimentos da Eletros, Luiz Guilherme Nobre Pinto.
A fundação possui 18% dos seus investimentos totais em ações, buscando acompanhar o IBX e não o Ibovespa. Com essa estratégia, conseguiu perder menos durante esse período, pois enquanto o Ibovespa acumula queda de 26,07% no ano até final de outubro, a queda do IBX no mesmo período é de 3,72%. A queda da carteira de renda variável da fundação é de 10,57% no período, já computando a alta de outubro.
Entretanto, a carteira de renda variável da fundação, que representa 68% dos investimentos totais, deu um belo resultado, acumulando valorização de 145,38% do CDI no período. Isso por conta da compra de papéis indexados ao IGP-M e cambiais, que representam 34% e 13% da carteira de renda fixa, respectivamente. “Conseguimos pegar toda a valorização do câmbio no ano”, conta Nobre Pinto.
A opção da Eletros pelos papéis em IGP-M, mesmo tendo a meta fixada em INPC, explica-se pelo estudo de Asset Liability Management (ALM) feito em 1996, o qual estabeleceu o casamento de alguns passivos de longo prazo com esse tipo de papel. “Fomos uma das primeiras fundações brasileiras a aplicar o ALM aos nossos balanços”, diz Nobre Pinto.
Outra que tem tido bons resultados no ano, considerando que a meta atuarial de 2002 já está batida, é a Ceres, fundo de pensão da Embrapa. Com R$ 750 milhões em ativos totais, dos quais 60% estão em renda fixa e 20% em renda variável, a Ceres optou por duas operação de trava na renda variável, em abril e julho do ano passado, quando o Ibovespa estava em torno de 14 mil pontos. Essas operações são feitas comprando-se e vendendo-se, simultaneamente, opções de índices futuro de Ibovespa.
Realizadas pela CD Corretora, as operações estabeleciam travas em 11 mil e 19 mil pontos, estabelecendo ganhos financeiros se o Ibovespa ultrapassasse os limites das travas. Como o vencimento dos contratos deu-se em 16 de outubro, com o Ibovespa a 9 mil pontos, 2 mil pontos abaixo da trava de 11 mil, as operações trouxeram à Ceres um ganho financeiro de R$ 11,4 milhões. “O contrato custou R$ 20 mil e proporcionou um ganho de mais de R$ 11 milhões”, entusiasma-se o gerente de investimentos, Leonardo Paulo de Oliveira.
Dessa forma, as perdas da fundação no mercado a vista de bolsa foram quase anuladas pelos ganhos da operação de trava. Esses ganhos permitiram transformar os 40% de queda registrados na carteira de ações entre abril do ano passado e setembro último em uma queda de apenas 8%, conta Oliveira. “Estamos esperando o melhor momento, mas certamente vamos renovar a operação”.
A queda de 8% que a fundação registra na renda variável está sendo anulada pelos bons resultados da carteira de renda fixa, a maior parte comprada em papéis com indexação em IGP-M. “Hoje já estamos acima da nossa meta atuarial, que é de INPC + 6%”, diz Oliveira. “Dificilmente fecharemos o ano abaixo dela, só se acontecer algo muito grave na reta final do ano”.
Segundo o diretor comercial para clientes institucionais do Itaú, João Estanislau F. de Castro, a alta do mercado acionário está trazendo alguns fundos de pensão de volta à renda variável. “Mas, por enquanto, ainda é algo muito incipiente”, diz.
De acordo com ele, a alta de outubro foi por conta dos níveis de preços totalmente depreciados em que se encontrava o mercado, mas é difícil que essa tendência de alta se sustente. Afinal, embora os preços continuem depreciados, o custo de oportunidade de investir nas bolsas ainda é elevado, dado à atual remuneração da renda fixa, com juros bastante atraentes. “O que temos visto são movimentos cautelosos, mas positivos, de volta às bolsas”, diz Estanislau.
Para Adriano Koelle, diretor comercial da Schroders, asset especializada em renda variável, os fundos de pensão locais estão de volta às bolsas, mas moderadamente. Uma das razões para essa moderação são os inúmeros papéis indexados a IGP-M que invadiram o mercado nos últimos meses, com os quais os institucionais fizeram a festa. “Os papéis com correção em IGP-M inundaram o mercado”, diz Koelle.
Mesmo assim, a Schroders tem tido expressivos ganhos de volumes. Em setembro do ano passado ela recebeu R$ 40 milhões em novos investimentos, em outubro mais R$ R$ 16,6 milhões, a grande maioria provenientes de fundos de pensão locais. No acumulado do ano, até final de outubro, já são R$ 290 milhões em novos investimentos. A expectativa é que os novos investimentos prossigam nos próximos meses, provenientes dos fundos de pensão e dos clientes pessoas físicas. “Os estrangeiros vão demorar mais a voltar, eles vão esperar definir o novo governo antes de voltar”, diz Koelle.
A Schroders administra R$ 1,3 bilhão em ações, dos quais R$ 1 bilhão de investidores externos e R$ 300 milhões do mercado local.