Baixa tensão no segmento elétrico | Mesmo com o racionamento, fun...

Edição 111

Surpreendentemente, o desempenho das ações do setor elétrico num ano marcado pela contenção de energia elétrica foi melhor do que se podia esperar em 2001. O racionamento não foi tão rigoroso quanto precificado inicialmente nas ações negociadas em Bolsa, e a política do governo de recuperar as margens das empresas por meio do aumento das tarifas acabou estimulando a alta dos papéis, especialmente no final do ano. O Índice de Energia Elétrica (IEE) chegou a cair 25,6% (4 de outubro), mas encerrou o ano com valorização de 5,8% – desempenho mais vigoroso que o do Ibovespa: queda de 11%.
Fundos de pensão que têm investimentos no setor elétrico, como Eletros, Eletroceee e Aerus, levaram um susto com a forte precificação para baixo das ações do setor logo após o início do racionamento, em março do ano passado. Alguns chegaram a vender parte da carteira investida no setor. Mas quem não se precipitou acabou lucrando. A Eletros encerrou o ano contabilizando ganho de 11,9% na parcela investida em ações do setor elétrico. A rentabilidade foi maior que a da carteira total de renda variável, de 9,6%. No final do ano passado, o fundo de pensão dos empregados da Eletrobrás mantinha 27,6% da sua carteira de renda variável alocada em papéis do setor.
A maior posição se mantém em ações da Copel, com 7% da carteira (cerca de R$ 9 milhões), seguidas por papéis da Eletrobrás ON, com 3% (R$ 4,4 milhões). Os papéis preferenciais de Copel chegaram a perder 17% do seu valor após a notícia, em novembro, de que a venda da empresa não seria concretizada, mas encerraram o ano em alta de 10,5%, o que contribuiu para impulsionar a rentabilidade da parcela investida no setor. Sua maior perda foi com a Eletrobrás ON, cujos papéis encerraram 2001 com desvalorização de 6,3%. Ao longo de todo o ano, o prejuízo com os papéis ordinários chegou a ser de 23,5%. Nos preferenciais da Eletrobrás, a queda foi mais substancial: 28%, no final de maio de 2001, dois meses após o anúncio do racionamento. Apesar das perdas com Eletrobrás, a Eletros não pretende se desfazer dos papéis, afirma o gerente de investimentos Luiz Guilherme Nobre Pinto. “As ações estão baratas e não vamos vender a esses preços”, diz. Mesmo após as mudanças, o gerente da Eletros avalia que o mercado “precificou o pior, mas as regras não devem ser tão prejudiciais quanto pareceram inicialmente”.
A Fundação Aerus também computou ganhos na parcela de recursos da renda variável aplicada em papéis do setor elétrico. A fundação registrou rentabilidade de 3,36% no pedaço investido no setor, correspondente a 18% das aplicações na renda variável. Desempenho bem mais satisfatório que a carteira global de renda variável, que perdeu 5% em 2001. O diretor financeiro da Aerus, Benni Faermann, que durante 6,5 anos foi diretor de investimentos da Eletros, não revela em que papéis do setor elétrico aplicou em 2001. Ele diz que a fundação ainda espera os desdobramentos das novas mudanças antes de decidir as estratégias de investimentos. “O mercado se ressentiu, mas ainda não estão muito claros os impactos das mudanças sobre o desempenho das empresas do setor.”
A Eletroceee, fundo de pensão da CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica/RS), embolsou ganho significativo com os papéis preferenciais de Cemig em 2001: 19,8%. No final de 2000, a empresa mantinha 450 milhões de ações da empresa com valor de mercado de R$ 12,6 milhões e encerrou 2001 com os mesmos valendo R$ 15,1 milhões. O ganho é ainda maior se considerado que o custo no final de 2000 foi de R$ 13,9 milhões e no final de 2001 foi de R$ 13,7 milhões para a mesma quantidade de ações. A fundação apostou nos papéis de Cemig ao longo do ano e aumentou a exposição de 450 milhões de ações para 700 milhões em carteira, o que incrementou a parcela investida no setor elétrico e os seus ganhos. Os papéis preferenciais da Cemig, que atingiu queda máxima de 25,5% em maio, dois meses após o anúncio do racionamento, encerraram 2001 com valorização de 19,3%. Já os papéis ordinários subiram 37%.
Em janeiro deste ano, a Eletroceee mantinha 16,6% da sua carteira de ações (R$ 250 milhões) aplicados em apenas dois papéis: Cemig PN (8,9%) e Copel PNB (7,7%). De acordo com o analista de renda variável da fundação, Joel Freire, a idéia é carregar na carteira tanto Cemig como Copel até o final de 2002. Ele lembra, porém, que, no caso de Copel, cujo ganho foi bem mais modesto (cerca de 6%), novas compras ou vendas do papel vão depender da definição, ou não, do processo de privatização da empresa. Com as novas regras para o setor, os especialistas, contudo, descartam, pelo menos para este ano, a venda da empresa.

“Balde de água fria” – No final de 2001, quando os preços das ações do setor apresentaram recuperação, a previsão era de novas altas dos papéis em 2002. O raciocínio era simples: a queda do dólar no fim do ano iria baratear os preços da energia comprada e reduziria as dívidas das empresas do setor; enquanto o reajuste das tarifas e os empréstimos programados do governo ao setor iriam favorecer novas altas das ações. A expectativa com a venda da Cesp Paraná e a Copel também deveria impulsionar os preços dos papéis no mercado.
Mas as novas medidas anunciadas no início deste ano jogaram um “balde de água fria” nessas expectativas. Os analistas voltaram a recomendar a venda das ações, principalmente a das empresas geradoras. A previsão dos especialistas é de que elas deverão sofrer mais com as mudanças, já que a expectativa anterior era de que suas receitas cresceriam com a venda de energia a preços mais altos a partir da liberação gradual das tarifas, em 2003. Para o analista do Banco Brascan, André Segadilha, as novas medidas jogaram por terra as chances de privatizar Copel e Cemig. “O governo mostrou que não está disposto a vender as estatais e dificilmente os governos estaduais terão força para contrariar uma decisão federal, que acabará delineando uma tendência para o setor.”
O desempenho dos papéis das duas empresas na Bolsa ficarão prejudicados ao longo deste ano, aposta o analista. Alguns especialistas observam, porém, que a decisão do Governo de não privatizar as suas geradoras dá sobrevida às integradas, como Copel e Cemig, que vinham sendo “empurradas” para a venda como uma forma de competir com as geradoras federais. Para Segadilha, do Brascan, o fracasso da venda da Copel e da Cesp Paraná revelou fragilidade do setor, o que ajudou a depreciar os preços na Bolsa no período. O pedido de concordata da gigante norte-americana distribuidora de energia, a Enron Corp., no final de 2001, mostrou vulnerabilidade do setor também no exterior. Mas o analista entende que o fator Enron impactou pouco o desempenho dos preços das ações brasileiras.

Cemig no lucro – A Fundação Copel encerrou 2001 com 20% (cerca de R$ 44 milhões ) dos recursos da carteira própria de ações (R$ 220 milhões) aplicados em papéis do setor elétrico. A carteira de ações fechou o ano com desempenho positivo de 1,3%. A fundação não tem computado separadamente a performance da parcela investida no setor, mas a média da carteira registrou ganhos. Dos R$ 44 milhões aplicados em papéis do setor, 16% (R$ 7 milhões) estão alocados em três papéis: Copel, com 8%, ou R$ 3,5 milhões; Eletrobrás com 4,5%, ou R$ 2 milhões; e Cemig, com 3,5%, ou R$ 1,5 milhão. A valorização média dos seis papéis, entre preferenciais e nominativos, ficou positiva em 13,6%. A fundação tinha em 2000 quase a mesma posição nas três empresas. Com esse desempenho, os planos da fundação Copel são de manter esses papéis em carteira também em 2002. Pelo menos por enquanto. “Nossa estratégia é de longo prazo. Acreditamos na recuperação dos preços”, diz o analista de renda variável, Juan Beltran.
A Celos, fundo de pensão dos empregados da Celesc, Cia. de Eletricidade de Santa Catarina, amargou prejuízos com ações da sua patrocinadora, que registraram uma das maiores baixas do setor: as preferenciais fecharam 2001 com queda de 20,5% e as ordinárias, 13%. A Celos tem 39% da carteira própria de ações aplicada em papéis do setor elétrico, da qual 29% estão investidos em ações da Celesc. Mesmo com a movimentação das ações da sua patrocinadora na carteira ao longo do ano para tentar reduzir as perdas, a fundação encerrou o ano com perda financeira de 15% nesses papéis. Apesar disso, continuar com as ações da Celesc em carteira é uma posição estratégica, segundo o gerente de investimentos, Zumar Pereira. “A fundação mantém papéis da patrocinadora para garantir vaga no Conselho caso a empresa seja privatizada”, afirma. Entre ações e debêntures conversíveis em ações, a Celos possui cerca de 10% de papéis ordinários da Celesc. Mas o setor elétrico não trouxe só perdas para a Celos, que lucrou com os papéis de Cemig. No ano passado, mantinha R$ 1,27 milhão em papéis preferenciais da Companhia Energética de Minas Gerais e encerrou 2001 com o mesmo percentual investido – cerca de 3,4% dos 39% aplicados no setor elétrico – e R$ 1,52 milhão nesses papéis. Um ganho financeiro de quase 20%.