Atrás de mais patrocinadores | Multipatrocinado da fundação de Fu...

Eduardo Garcia

Edição 245

Mesmo com rentabilidade bem acima das metas atuariais em 2012, o clima é de redução dos custos administrativos na Real Grandezal, fundo de pensão que reúne participantes de Furnas Centrais Elétricas e da Eletronuclear, além da própria fundação. A medida faz parte de um projeto que pretende abrir a entidade para o multipatrocínio e tem a pretensão de administrar planos de benefícios para outras empresas, além do grupo de Furnas. “Queremos deixar tudo em ordem para garantir competitividade à casa”, afirma o diretor de investimentos, Eduardo Garcia.

A orientação que surgiu no início do ano passado tem como foco a expansão da base de patrocinadoras e de participantes. Hoje a fundação conta com três planos: benefício definido (BD), contribuição definida (CD) e um plano de saúde. Segundo Garcia, este processo de ampliação não é fácil, pois existe a necessidade de quebrar barreiras burocráticas e enfrentar a morosidade das discussões sobre a nova estrutura, mas que as novas regras devem ser votadas pelo conselho em até três meses. Sobre as novas adesões, o dirigente prefere não arriscar um número.

Com uma equipe de investimentos de 14 profissionais, entre analistas, operadores e controladoria interna, a Real Grandeza conta com 12 mil participantes e realiza a gestão de um patrimônio de R$ 12 bilhões. A maior parte da carteira de investimentos, cerca de 90%, conta com gestão interna e a fundação não cogita a contratação de novos funcionários.

Para a validação de cenários internacionais, a equipe de investimentos utiliza os serviços de consultoria macroeconômica da MCM Consultores Associado. A avaliação trimestral de performance é feita pela PPS e o desenvolvimento do estudo de ALM (Asset Liability Management) é realizado pela Towers Watson.

A situação geral dos planos da fundação é superavitária. As reservas da fundação contam com um superávit atual de pouco mais de R$ 2 bilhões (já considerando a redução de 0,25 ponto da meta). No plano BD, o corte de INPC mais 6% foi para 5,75% ao ano, válido a partir de 2013. O executivo prevê que não será difícil reduzir a meta em 0,25 ponto a cada ano, segundo as novas regras aprovadas pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC).

Garcia ressalta que teria condições de reduzir diretamente, se necessário, para 4,5% ao ano, sem qualquer aporte especial de participantes ou patrocinadores, mas que optou pelo corte gradual, seguindo as possibilidades da nova regulamentação do Conselho Nacional de Previdência Complementar aprovado em dezembro de 2012. Esta primeira redução de 0,25 ponto representou um aumento do orçamento de R$ 300 milhões anuais. Se for projetado sem considerar a atualização atuarial, o corte da meta provocará o aumento de mais R$ 1,5 bilhão da necessidade de reservas até 2018.

Política de investimentos – Em 2013, a direção do fundo de pensão prevê consolidação de sua posição em estruturados (com destaque em private equity e multimercados) e ampliação da carteira de ações. O executivo conta que há pelo menos quatro anos as estratégias da casa são projetadas para se adaptar ao cenário com queda dos juros no mercado interno. Há oito anos, a grande aposta do fundo foi no alongamento da renda fixa (títulos federais), o que lhes rendeu folga para transitar nesta nova realidade econômica.

Entre 2006 e 2007, o alongamento do perfil da carteira de títulos públicos, trocando posições de curto prazo para posições de longo prazo, sobretudo com vencimentos a partir de 2030, também ajudou para que a saúde financeira atual fosse garantida. “Estamos colhendo os frutos desta estratégia antiga, mas isso é uma faca de dois gumes, porque agora tenho que realocar em outro tipo de ativo, o que gera uma necessidade de diversificação que tenho tido dificuldade em encontrar no mercado”. Por isso, desde 2010 a fundação tem revisitado e reconstruído estratégias, não abandonando antigas posições.

Com o novo patamar dos rendimentos ligados aos títulos públicos, a fundação tem buscado uma diversificação gradual. De acordo com o diretor, apenas este ano a entidade deixou um limite de R$ 400 milhões para a compra de FIPs, mas tem problemas para encontrar produtos no mercado que se adequem “ao manequim” da fundação. “Trabalhamos com regras de risco e de governança conservadoras e rigorosas, o que acaba tornando essa seleção mais difícil”, diz. Apesar disso, a fundação não pretende abandonar essa linha mais rígida de avaliação das oportunidades. Essa administração diferenciada é feita pelo comitê de investimentos.

A escolha da tese de investimento atual se baseou em reestruturação da escolha dos papéis. Em estruturados, por exemplo, eles saíram de 1,1% para uma carteira de 4% e com possibilidade de mais 3% em investimentos.

Aluguel de ações – Em paralelo às estratégias já conhecidas, outras apostas antes menos relevantes ganharam importância. O uso do aluguel de ações, uma invenção interna da Real Grandeza desenvolvida em conjunto com o custodiante do Bradesco, trouxe o sistema de balcão para uma plataforma de negociação eletrônica, mantendo a transparência do processo.

O Bradesco seleciona as propostas e oportunidades lançadas por corretoras já aprovadas pelo fundo, feito um leilão, e a taxa máxima oferecida vence a disputa de aluguel que dura 30 dias. O papel é alugado sem riscos de perda, ganhando apenas com a oscilação de preços do mercado. No total, o fundo de pensão emprega R$ 2,2 bilhões em ações, dos quais 70% da carteira segue o IBrX e 30% está focada em papéis de empresas relacionadas a economia doméstica e ao aquecimento do consumo interno como Droga Raia, Drogasil, Lojas Renner e BRFoods. São evitadas ações de empresas afetadas por fatores externos como Vale e Petrobras.

A iniciativa deve gerar até R$ 6 milhões sem gerar a perda dos papéis e com uma movimentação rastreada. A opção que antes era considerada marginal, só se tornou realidade por reproduzir com clareza o modelo de governança e segurança de ativos exigidos também nas outras modalidades de investimentos. O valor pode parecer pequeno, mas dentro do novo cenário dos juros, qualquer rentabilidade adicional ganha em importância.