Edição 125
Um dos temas que vem ganhando importância junto aos dirigentes de fundos de pensão, principalmente depois que a inflação voltou a dar sinais de alta, é a necessidade de estabelecer uma política de casamento entre os ativos e os passivos de longo prazo. Uma política adequada nessa direção pode ajudar muito os dirigentes das fundações, principalmente da área de investimentos, a levar em conta os compromissos futuros da entidade na hora de decidir a alocação dos seus recursos.
Mais conhecido pela sigla inglesa ALM (Asset Liability Management), o casamento dos ativos aos passivos atuariais de longo prazo tem ganhado cada vez mais espaço entre as conversas dos dirigentes de fundos de pensão. “Acreditamos que, a partir do ano que vem, o ALM se tornará o tema da moda entre todos os investidores que tem passivos de longo prazo”, avalia o diretor da consultoria Risk Control, Mathias Fulda. “O ALM vai ser o que foi o VAR na segunda metade da década passada”.
Segundo Fulda, o ALM só não é ainda o tema de conversa de nove entre dez dirigentes de fundações porque neste ano eles tiveram outras prioridades, como a implantação do Demonstrativo Analítico de Investimentos e de Enquadramento das Aplicações (DAIEA) e a contratação de auditorias de gestão, exigidos pela SPC. Mas, feitas essas mudanças, a bola da vez deve ser o ALM, prevê Fulda. “Eles precisaram primeiro colocar a casa em ordem, para depois partirem para uma modelagem do tipo ALM”, diz.
O que a ALM traz de novo? Bem, basicamente é uma estratégia de gerenciamento dos investimentos que pensa não apenas no melhor retorno ajustado ao risco, mas também aos passivos de longo prazo. Para isso, sua implantação pressupõe um levantamento completo dos passivos da fundação, incluindo os seus benchmarks e a sua maturidade, a partir dos quais é definida uma política de investimentos. “Os institucionais devem atrelar, o mais que puderem, a sua política de investimentos aos prazos e aos indexadores dos seus passivos”, explica Fulda.
Segundo ele, uma das razões que deve impulsionar a demanda por ALM é que os planos dos fundos de pensão estão tornando-se mais maduros, alguns entrando numa fase onde os pagamentos dos benefícios já supera o ingresso de contribuições. “Traçar uma política de investimentos que leve em conta o perfil dos passivos é fundamental nessa fase”, diz Fulda.
Ele exemplifica como a adoção de um modelo desse tipo pode fazer toda a diferença dentro de estratégia de um plano. Uma diretoria de investimentos que comprasse apenas CDI, imaginando estar fazendo uma boa gestão, na verdade estaria colocando o fundo numa situação de alto risco. Isso porque estaria levando em conta apenas a qualidade do ativo e não a qualidade do passivo, com seus benchmarks e seus prazos. Enquanto o governo estiver pagando taxas de juros generosas, que cobrem a meta atuarial e ainda permitem folga, o fundo provavelmente não teria problemas, mas no momento em que as taxas caissem ele poderia ter problemas e não conseguir pagar seus custos nem seus benefícios.
Numa situação oposta, ao levar em conta os passivos de longo prazo, a diretoria de investimentos poderia optar por comprar títulos indexados ao IGP-M com vencimento em 2031, desde que essa fosse uma necessidade de cobertura de benefícios. Claro que isso poderia representar uma volatilidade enorme para a carteira, se marcada a mercado, mas bem compreendido esse é o papel livre de risco para aquela fundação. “A ALM leva em conta as necessidades específicas da fundação e não apenas o retorno ajustado ao risco”, explica a diretora de risco da Risk Control, Eduarda de la Roque.
Segundo ela, assim como o cálculo do do VAR passou a ser oferecido pelas assets para os clientes institucionais, é provável que nos próximos anos também a ALM passe a ser oferecida. Para isso, as assets teriam que contratar empresas especializadas na prestação desses serviços, uma vez que, diferentemente do cálculo VAR que é algo mais “standarizado” e depende apenas de sistemas, uma política de ALM é feita analisando o caso de cada fundação. “Não dá para apertar um botar e ter pronta a política de ALM de uma fundação, como se faz com o VAR”, diz Eduarda.
Ela reconhece que as últimas novidades na área de gestão, tanto as exigidas pela SPC quanto as implantadas pelo mercado, aumentaram o custeio do plano das fundações. Mas, na sua opinião, isso deveria ser lançado como despesa administrativa de investimentos, uma vez que seu objetivo é dar mais segurança e transparência à alocação dos ativos. “Deveria ser visto como uma espécie de seguro, você paga algo agora para evitar problemas no futuro”, diz.
Influência limitada nos planos CD
A política de ALM para os planos de investimento tem uma eficiência grande quando se trata de planos de benefício definido (BD), mas tem uma utilidade bem mais limitada quando se trata de planos de contribuição definida (CD). Isso porque esses planos, a rigor, não possuem um passivo atuarial, representado por um determinado nível de benefícios a pagar aos seus funcionários no futuro. O CD irá pagar aos funcionários aquilo que cada conta individual do plano render, dependendo inclusive do perfil de risco escolhido por cada funcionário.
“Mas, mesmo sendo um plano CD, a fundação tem um compromisso moral com um determinado nível de benefícios. Tanto que os planos CD tem uma meta implícita, como referência”, diz a diretora de risco da Risk Control, Eduarda de la Roque.
Além disso, segundo ela, a maioria dos planos CD são, na verdade, planos mistos, uma vez que tem uma fase claramente de acumulação até a data da aposentadoria e a partir daí há a compra de uma renda certa ou de uma renda vitalícia e ele se transforma em BD. “Concordamos que no CD, durante a fase de acumulação, a busca da rentabilidade assemelha-se mais ao que acontece num investimento comum, que é maximizar o retorno ajustado a um determinado nível de risco, mas na segunda fase volta a ser um BD com todas as suas necessidades de casamento do ativo ao passivo”, diz ela.