Aportes bilionários aos planos | Sem confiança para investir nos ...

Edição 234

 

Companhias abertas planejam aumentar significativamente as contribuições para os fundos de pensão em 2012. Na última semana de janeiro, 11 empresas norte-americanas anunciaram aportes que somam US$10,8 bilhões. Cinco delas planejam contribuir em 2012 com US$ 1 bilhão ou mais para cada um de seus planos do tipo Benefício Definido (BD). São elas a Ford Motor, a Boeing, a Verizon Communications, a Raytheon e a Honeywell International.

As motivações para a realização de tais aportes, que visam cobrir déficits atuariais dos planos, são o alto nível dos caixas das companhias, aliado às taxas de juros praticamente nulas das aplicações de curto prazo no mercado dos EUA. Ao invés de deixar o dinheiro parado ou investir na expansão dos negócios, as empresas preferem contribuir para os planos de benefícios.

A Ford é a que pretende fazer o maior aporte entre as companhias pesquisadas. A empresa planeja direcionar US$ 3,5 bilhões para seus fundos de pensão ao redor do globo, dos quais cerca de US$ 2 bilhões serão destinados aos planos de benefícios das unidades dos Estados Unidos. A Boeing pretende contribuir com US$ 1,5 bilhão para seu fundo de pensão, que acumula patrimônio de US$ 49,3 bilhões para os planos do tipo BD. A Verizon e a Ratheon estimam aportar valores semelhantes para seus fundos em 2012, em torno de US$ 1,2 bilhão. Por fim, a Honeywell tem a intenção de destinar algo entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão.

Bob Collie, estrategista chefe de institucionais da Russel Investments, diz que está verificando uma tendência de crescimento das contribuições nos últimos anos, e que deve continuar em 2012. Com base na análise de 16 grandes fundos de pensão, que administram planos do tipo BD com recursos acima de US$ 20 bilhões, o especialista mostra que os aportes estão aumentando desde 2008, quando totalizaram US$ 8,5 bilhões. Em 2009, houve um salto para US$ 21 bilhões, e as estimativas apontam que em 2010 e 2011 ficaram entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões.

Uma das razões para essas grandes contribuições é o patamar da taxa de juros no País, segundo Michael Schlachter, diretor de investimentos da Wilshire. “As aplicações das empresas estão rendendo zero, enquanto seus planos de benefícios estão ganhando 7% ou 8%, ou algo assim”, afirma Schlachter. “Com o dinheiro você pode contratar pessoas, investir, ou colocar no plano. Por que não adiantar os aportes para o fundo de pensão?”, questiona.
Outra motivo que incentiva as companhias a realizar contribuições extraordinárias é que os caixas das empresas estão nos níveis mais elevados de todos os tempos. E enquanto os recursos ficarem aplicados em fundos conservadores de curto prazo, não estarão ganhando praticamente nada, concorda Schlachter.

A Ford, por exemplo, estava com US$22,9 bilhões em dinheiro e títulos negociáveis no fechamento de 2011, contra US$ 20,5 bilhões um ano antes. “A maioria das companhias está registrando recorde seus caixas e não há confiança para reinvestir nos negócios”, disse Kevin McLaughlin, consultor senior da Mercer LLC, de Nova York.

Muro das contribuições – O aumento das contribuições não é surpresa na opinião de Alan Glickstein, consultor senior da Towers Watson. As regras de capitalização dos planos, de acordo com o Pension Protection Act de 2006, combinadas com a crise financeira dois anos mais tarde, rebaixaram as taxas de juros para os menores níveis históricos. Isso provocou o que o especialista chama de o “muro das contribuições”.

As novas regras previam, entre outras obrigações, a redução gradual das metas atuariais dos planos de benefícios. “Está começando definitivamente em 2012 e deve provavelmente durar ainda alguns anos mais”, diz Glickstein. “Enquanto nos adaptávamos às novas regras de financiamento dos planos de benefícios, infelizmente veio a crise econômica e acentuou as dificuldades para as patrocinadoras”, completa.

No final de 2011, o déficit global dos planos de benefícios da Ford era de US$ 15,4 bilhões, dos quais US$ 9,4 bilhões correspondiam aos planos dos EUA. E a meta atuarial caiu para 4,64% em comparação com 5,24% do ano anterior.
Já a meta atuarial do plano da Boeing passou de 5,3% para 4,4% no final do ano passado. “Os déficits no fim de 2011 eram tão expressivos quanto no final de 2009”, lembra McLaughlin. “É um momento decisivo: devo financiar o déficit hoje ou no futuro? Eles estão preferindo pagar hoje do que alongar as contribuições para os próximos anos”, explica.
Outra opção é esperar até setembro para realizar as contribuições extras. É o que a Russel está recomendando a seus clientes, revela Collie. Setembro representa o último prazo para o fechamento do caixa anual.