Ano difícil para as fundações | Em meio às turbulências do mercad...

Edição 120

O ano de 2002 não está sendo fácil para as fundações. Primeiro, foi a tungada da cobrança do Imposto de Renda, que retirou do sistema quase R$ 6,5 bilhões, até o final de maio. Depois, quando as fundações começaram a ensaiar os primeiros passos para investir no exterior, por meio dos Fiex, os bancos estrangeiros divulgaram seus relatórios deixando de apontar o Brasil como um investimento atraente, gerando a primeira onda de oscilação dos mercados. Isso detonou a disparada do risco-país, que foi se agravando por conta do crescimento da candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva. É que o mercado questionava seu compromisso com a rolagem e o pagamento da dívida pública. Para finalizar, no final de março, o Banco Central resolveu antecipar a data de marcação a mercado dos papéis dos fundos de renda fixa, gerando prejuízos elevados para muitas fundações.
Com tudo isso, muita gente achou que os fundos de pensão quebraram a cara. Digamos que eles estão com algumas escoriações sérias, mas a verdade é que, em meio a tanta confusão, eles também estão achando maneiras de reduzir as perdas e até encontrando oportunidades para ganhar algum dinheiro.
Na Fundiágua, a primeira fundação a aplicar em Fiex, as perdas teriam sido bem maiores caso o gerente de investimentos, João Fernando Cravos, não tivesse comprado ao mesmo tempo opções de futuro de C-Bonds. “Nossas perdas no Fiex foram pequenas, mas se não tivéssemos feito a operação com os C-Bonds, as perdas teriam chegado a 10%”, diz Cravos.
Além das perdas com os Fiex, minimizadas pela acertada decisão de baixar de R$ 5 milhões para R$ 2,5 milhões as aplicações nesse tipo de fundo (em função do início do estresse do mercado), a Fundiágua também perdeu com os seus fundos de renda fixa. “Imaginávamos que todos os nossos DI eram marcados a mercado, mas não eram”, afirma Cravos. Neste caso, a perda chegou a quase 1% da carteira total do fundo de pensão.
Soma-se a isso tudo o sofrimento da fundação com os seus fundos cambiais e indexados ao IGP-M. Pelas contas do gerente, se esses papéis fossem vendidos agora haveria diminuição entre 3% a 4% dos ativos da fundação, que são da ordem de R$ 100 milhões. “Mas, como eles vão permanecer até o vencimento, o prejuízo não vai se realizar”, afirma.
Para a Caixa dos Empregados da Usiminas, as turbulências abriram espaço para uma rodada de investimentos. Aproveitando os preços atraentes, a fundação comprou ações da Petrobras na última semana de junho. Segundo o diretor de investimentos da fundação Usiminas, José Roque Rossi, o vai-e-vem do mercado financeiro já faz parte da rotina das fundações. “Todo ano tem uma novidade”, diz.
O fundo de pensão Ceres também foi às compras, aplicando R$ 6 milhões em ações da Petrobras, Copel e Telemar na última semana de junho. “Temos de aproveitar essas janelas de oportunidades para aquisições”, diz o diretor de investimentos da Ceres, Cleuber Oliveira. Ele prevê uma recuperação no mercado de renda variável, que deverá possibilitar uma inversão na atual situação de prejuízo da carteira de ações no semestre, fechando o acumulado do ano com lucros.
Outra aposta da Ceres foi em papéis prefixados. “Fizemos compras de CDBs com boas taxas”, diz Oliveira, que ainda não contabilizou como ficará o rendimento da renda fixa no fechamento do semestre. No acumulado do ano, até abril, a rentabilidade da carteira ficou em 5,89%. Segundo ele, a fundação foi impactada pelo início da marcação a mercado das LFTs, que poderia levar a perdas de R$ 250 mil, numa carteira total de R$ 30 milhões, caso fossem vendidas hoje. “Mas, como não iremos vender, as perdas não irão se realizar”, diz.
Também a Eletros, avaliando que os juros já tinham chegado a patamares muito altos em junho, aproveitou para prefixar sua carteira no mercado de DI futuro. No curtíssimo prazo, a operação foi satisfatória, já que as taxas de juros começaram a recuar no mercado, com a notícia de uma folga maior na meta de inflação para 2003. Na área de renda variável, a opção do gerente de investimentos da fundação, Luiz Guilherme Nobre Pinto, foi manter a posição. No ano, até o dia 26 de junho, a carteira de renda variável acumulava perdas de 9,75%.

Preparação para provável queda dos juros
As freqüentes declarações dos presidenciáveis contra o atual patamar das taxas de juros, apontadas de forma quase unânime como as vilãs do desaquecimento econômico do País, leva a crer que o vitorioso das próximas eleições, qualquer que seja ele, buscará induzir os juros a patamares mais baixos. Com isso, a vida fácil dos fundos de pensão, de buscar sua meta atuarial nas aplicações baseadas em títulos do governo federal – que pagam bem e oferecem pouco risco –, pode estar no fim.
Para o diretor-superintendente da fundação da IBM, Geraldo Teixeira Garcia, caso isso venha mesmo a ocorrer, a opção será reforçar as aplicações em bolsa. “O mercado acionário será uma grande oportunidade, mas queremos a liquidez das bolsas. Por isso, não vamos entrar em participações em empresas”, afirma Garcia.
Na Eletros, a política de investimentos que deverá ser adotada a partir de 2003 é, na verdade, uma extensão da atual, garante o gerente de risco da fundação, Jair Ribeiro. Ele não aposta numa explosão da bolsa e o tom dos investimentos na área de renda variável deve ser ainda de cautela. “Em 2003 devemos manter a posição em renda variável, mas se ela cair, como caiu neste ano, utilizaremos a proteção dos títulos cambiais”, diz Ribeiro.

Almoço express na Fundiágua
As turbulências do mercado, que afetam as carteiras de investimento das fundações, estão mexendo também com a rotina das pessoas que trabalham nas suas áreas de investimento. Na Fundiágua, o tempo gasto pelo gerente de investimentos, João Fernando Cravos, para a realização de tarefas de rotina foi encurtado para que ele pudesse dedicar mais tempo ao mercado financeiro. Desde que começou o estresse do mercado, há cerca de três meses, seu horário de almoço foi reduzido a, no máximo, meia hora.
Cravos confessa sentir receio de ficar uma ou duas horas longe do terminal (da mesa de operações): “Posso perder uma boa oportunidade de negócio ou então não presenciar a piora de uma situação”, diz. “Eu fico com um olho no noticiário e outro no terminal”.