Ainda sem convencer | Fundações continuam insatisfeitas com Ibove...

Cristiano BotelhoPaulo de SáBernardo GomesEdição 253

 

As alterações anunciadas pela Bovespa em relação à composição do seu principal índice, o Ibovespa, não devem ser suficientes para fazer com que os fundos de pensão voltem a olhar com carinho para o que já foi, por muito tempo, a principal referência do mercado acionário do país. As alterações foram decididas em função da sua excessiva volatilidade, decorrente do peso relativo alcançado pela ações das empresas do grupo X, de Eike Batista.

“Mesmo com essa mudança a gente não passou a considerar o Ibovespa como uma opção. Na realidade, utilizamos atualmente o IBrX, mas vemos que o IBrX também não é um índice ideal, por não refletir muito bem a economia. É um indice concentrado, de uma maneira geral ele não é tão diferente do Ibovespa”, afirma Tiago Ribeiro Costa, diretor de controle de investimentos da Funepp, fundo de pensão dos funcionários da Nestlé.
O Ibovespa foi o índice que recebeu mais críticas nos últimos meses por conta de sua antiga metodologia, que considerava o grau de negociabilidade do ativo para escolher quais seriam seus integrantes, frente ao valor de mercado (free float) que passa a valer a partir de 2014. No entanto, isso não significa dizer que os agentes do mercado estão satisfeitos com as opções domésticas de índices disponíveis nas prateleiras.
“A gente aqui na fundação entende que um índice mais interessante seria o MSCI Brasil, mas temos algumas dificuldades na utilização desse índice, até por não ser um índice público calculado pela própria Bolsa”, pondera Costa.
O monopólio que existe da Bolsa brasileira em relação aos índices que são negociados internamente é visto pelos gestores das fundações como um empecilho para que tenhamos referências mais aderentes às necessidades que se fazem presente.
Para o diretor da Funepp, o mais adequado seria utilizar a composição de um mix de índices da Bovespa, para tentar captar os diversos segmentos, o que também não é uma tarefa fácil, uma vez que fazer a gestão de um mix de índices de Bolsa tem sua complexidade.
“No nosso ponto de vista diferentes estratégias estão fazendo sentido, mas vemos que tem essa dificuldade bastante grande de correlacionar estratégia com o índice, e muito provavelmente aqui, assim como em outras entidades, vamos adotar uma estratégia sem um índice específico para seguir”, pontua.
A Funepp vai realizar um estudo de ALM (Asset Liability Management) para avaliar as possibilidades da renda variável nos próximos períodos, que deve contar com uma parcela do IBrX, um mix de small caps, e alguns outros índices, como os de governança e valor.

Índices inteligentes – “A parte de índices no Brasil é mal feita, não temos nenhum índice muito representativo. Já fizemos várias analises com o índice de dividendos da Bovespa, por exemplo, e não achamos que é um bom índice para ser utilizado na nossa carteira. A negociabilidade ainda tem um peso muito forte na metodologia”, diz Paulo de Sá, gerente executivo de investimentos em renda variável da Fundação Cesp.
No exterior, destaca Sá, temos visto uma demanda crescente pelos ‘índices inteligentes’, que são produzidos por grandes casas como o Morgan Stanley (responsável pelo MSCI Brasil) e o FTSE (responsável pelo referencial europeu FTSE-100, da Bolsa de Londres), que unem dados de mercado com dados fundamentalistas.
“Esses índices seriam ótimos. Os maiores fundos de pensão do mundo têm volume suficiente para pedir índices personalizados, de acordo com as características das carteiras deles. Não temos ninguém que faça isso no Brasil, mas se tivesse, poderíamos unir algumas fundações e montar índices mais representativos das nossas carteiras do que esses que são divulgados pela Bovespa”, pondera o gerente da Fundação Cesp.

Ibovespa zerado – Embora admita que a nova metodologia do Ibovespa tenha melhorado com as mudanças anunciadas, Paulo de Sá não pretende voltar a olhar para o índice no curto prazo. Pelo contrário, o fundo de pensão da Cesp tem um fundo de Ibovespa passivo, que chegou a ter uma alocação de R$ 800 milhões, que agora está em torno dos R$ 40 milhões, e que vai ser zerado nos próximos dias.
“Entre agosto e setembro, por decisão do comitê de investimentos já zeramos a posição em OGX. Ainda continuamos com o Ibovespa, mas sem a OGX. Se a companhia tiver algum problema maior, de recuperação judicial, falência, os participantes vão direto perguntar se temos papel em carteira. Se respondermos que sim, mas em um fundo passivo, eles não vão entender, vão questionar porque tínhamos um fundo com OGX, então em última instância, se tivesse algum problema a gente é responsabilizado. A decisão de tirar a OGX é justamente para evitar problemas até de imagem”, fala o gerente executivo.
O benchmark utilizado hoje pela Funcesp é o IBrX, e uma reavaliação a respeito do Ibovespa vai acontecer na fundação apenas em maio do ano que vem, quando as novas regras para o Ibovespa passam a valer integralmente.
“O rebalanceamento realmente trouxe algumas coisas melhores, como excluir as ‘penny stocks’ [ações com valor abaixo de R$ 1,00], que já são pleitos antigos do mercado. Com essa nova metodologia, a OGX nunca chegaria ao peso que tem hoje. Agora, se vamos voltar a ter o Ibovespa como benchmark interno eu não sei. Vamos ver com o tempo. Já adotamos o IBrX, e acho que ele reflete bem mais hoje o que é uma carteira de um fundo de pensão do que o Ibovespa”, diz Sá.
Mesmo o IBrX, que tem sido o índice mais utilizado pelas fundações para balizar seus investimentos, está longe de ser uma unanimidade e atender plenamente aos anseios dos diretores responsáveis por fazer o dinheiro dos participantes dos planos render adequadamente.
“Estruturamos alguns mandatos que possuem o IVBX-2 como benchmark, porque ele corta as maiores ações da Bolsa, incluindo Petrobras e Vale. Esses papéis apresentavam perspectivas de resultados ruins, e estávamos querendo diminuir a exposição a eles no primeiro semestre, mas é dinâmico”, pondera Cristiano Botelho, analista de investimento da Economus.

Gestor elogia – Ainda que, pelo retrato traçado com as fundações, o Ibovespa continue pouco atrativo, gestores de assets demonstram maior entusiasmo com as mudanças promovidas pela Bovespa.
“Faço muita estratégia de Long & Short, faço carteira contra índices, e todo o problema do índice futuro está dificultando muito esse tipo de estratégia, na verdade está inviabilizando, porque dado o deságio que o índice negocia por causa do custo de arbitragem, o índice está batendo quase 30% de deságio anualizado. Não tenho como carregar uma carteira durante um ano, e se bater o índice em 30%, sair no zero a zero. Não existe pagar esse custo”, explica Bernardo Gomes, gestor de Long & Short da BBM Investimentos.
O problema, diz o especialista, está relacionado justamente com a composição do índice em vigor até então, com papéis como o da OGX, que ganham peso no Ibovespa por estarem em situação econômica-financeira difícil. A liquidez de seus ativos aumenta substancialmente principalmente por conta dos fundos passivos.
“Isso faz com que o índice tenha mais exposição a esse tipo de ativo do que a empresas com desempenho saudável. Isso acaba aumentando seu ‘market cap’. A Bolsa verificou essas distorções e vai adotar um critério híbrido para tentar evitá-las”, pondera Gomes.
A nova composição do índice vai levar em conta a negociabilidade, mas também a evolução do valor de mercado das ações. “Acho que é uma boa saída para o mercado. Vai melhorar a qualidade, vai se aproximar de um índice, em termos de critério, como o S&P 500, e vai voltar a ser tanto um ativo como um derivativo mais utilizado no mercado”, diz o gestor da BBM.