Aceprev trava as perdas | Fundação usa opção com barreiras, monta...

Edição 104

O fundo de pensão dos funcionários da Acesita (Aceprev) conseguiu anular suas perdas na carteira de renda variável este ano através de uma operação engenhosa estruturada no mercado de ações. Enquanto o Ibovespa acumulava perda de 21% desde o início do ano até meados de setembro, a carteira de renda variável da Aceprev registrava estabilidade no mesmo período.
A operação, que consiste em uma engenharia financeira entre o mercado à vista e de opções com ações lastreadas em títulos públicos, foi estruturada pelo banco australiano Macquarie e serviu para proteger o capital investido da fundação na renda variável após o início da crise argentina.
A fundação estava com uma exposição alta no mercado de ações até o final de fevereiro, de cerca de 15%, um pouco antes de estourar a crise na Argentina. A Aceprev, assim como a maioria dos fundos de pensão, compraram a previsão consensual de trajetória de alta para o mercado de ações, no início deste ano.
Após o início da crise argentina, em março, a fundação reavaliou suas estratégias e resolveu reduzir sua exposição em Bolsa para proteger os recursos da carteira da renda variável. Além de diminuir de 15% para 10% sua exposição na Bolsa, optou por uma operação sofisticada, que lhe garantiu maior tranqüilidade durante os períodos mais turbulentos da crise, assegura o diretor financeiro da fundação, Fábio Abreu Schettino.
“A operação trouxe uma certa tranqüilidade nos piores momentos da crise e os participantes do fundo puderam perceber o resultado através da variação das cotas diárias, que registraram volatilidade dez vezes menor do que a variação do Ibovespa”, conta o diretor da Aceprev.
A operação montada pelo banco Macquarie garantia que o capital total investido fosse preservado. Ou seja, se a operação não resultasse em lucro nenhum, a fundação sairia, no final do período contratado, no mínimo com os recursos que foram alocados na operação.
Para conseguir esse resultado mínimo, é feita uma compra dos títulos públicos com o principal investido. O montante a ser aplicado em papéis públicos num determinado período é convertido a valor presente, o que permite uma sobra de recursos que é aplicada em derivativos.
Na prática, a fundação trocou o risco da renda variável por um risco de renda fixa. A operação, denominada opção com barreira, limita a perda até um determinado patamar de preços, explica o diretor do Macquarie, Alexandre Fogliano. Neste caso, a Aceprev limitou a perda para baixo, já que a Bolsa apontava para uma tendência de queda, confirmada nos meses seguintes.
Para baixo, o Ibovespa poderia chegar a zero que a fundação não perderia nada, já que o capital investido na operação estava assegurado com a compra de papéis públicos. No caso de trajetória ascendente do Índice Bovespa a fundação ganharia no intervalo entre 14.000 e 23.040 pontos. Em alguns momentos as cotas diárias foram positivas, mas o Ibovespa acabou devolvendo os ganhos. No dia 10 de setembro, o Ibovespa atingiu a sua marca mínima no ano, de 11.903 pontos.
Segundo o diretor financeiro da Aceprev, graças à operação será mais fácil cumprir a meta atuarial da fundação, que é o INPC mais 6% ao ano. A Aceprev investiu na operação cerca de R$ 20 milhões, 11% do patrimônio da fundação, de R$ 190 milhões.
A fundação, que havia obtido alguma “gordura” no mercado de ações nos dois primeiros meses do ano, realizou lucros assim que o cenário externo deu sinais de que iria piorar e reduziu sua exposição em Bolsa de 15% para os atuais 10%. “Se tivéssemos mantido a mesma exposição na Bolsa e não realizado a operação teríamos comprometido o cumprimento da nossa meta atuarial”, diz o diretor da Aceprev.
Segundo ele, a fundação está avaliando a possibilidade de montar outra operação, desta vez tentando antecipar alguma rentabilidade caso as expectativas de que a Bolsa entre em trajetória de alta nos próximos meses se confirme. “Naquele momento, nos protegemos de uma queda abrupta da Bolsa, agora pretendemos lucrar com uma eventual recuperação do mercado de ações”.

Especialista no mercado de opções
O banco Macquarie é bastante atuante nos mercados de ações de países emergentes, especialmente na montagem de operações estruturadas com opções nos mercados de Hong Kong, Austrália e África do Sul. Essas operações consistem na combinação de instrumentos de aplicação entre os mercados à vista e de derivativos. Os ativos para a montagem das operações podem ser ações, café, metais, moedas, entre outros.
No mercado europeu tem presença maior em Londres e Frankfurt e no continente americano atua nos Estados Unidos, Canadá, Argentina e Brasil, onde está há quase dois anos. O banco tem também uma forte atuação no Japão, onde mantém uma parceria com o Mizuho. Outra especialidade do banco australiano é na gestão de fundos de infra-estrutura, que participam com 30% das suas receitas totais do banco. As operações com renda variável participam com mais 30%.
O Macquarie, com ativos totais de US$ 15 bilhões, comprou a divisão do Bankers Trust na Austrália, em junho de 1999. Em dezembro daquele mesmo ano o banco iniciou suas operações no Brasil desenvolvendo inicialmente produtos de gestão de risco no setor agrícola. Seus clientes são basicamente do segmento private e investidores institucionais. A aplicação mínima para essas operações estruturadas são de R$ 200 mil. As taxas de administração são de 0,15% para as operações estruturadas com ações, metade das taxas praticadas nos fundos de ações tradicionais.