Edição 88
Quando assumiu a diretoria de recursos humanos da recém-privatizada Companhia Vale do Rio Doce, em meados de 1998, a ex-titular da Secretaria de Previdência Social (SPC), Carla Grasso, teve uma atitude no mínimo inesperada para a direção da empresa. Simplesmente recusou-se a aderir ao plano de benefícios do fundo de pensão corporativo, da mesma forma como outros funcionários recém contratados estavam fazendo. Essa atitude, na verdade, apenas refletia o grau de desatualização do plano (ele havia sido criado 25 anos antes) da Valia. “Assim como eu, a maioria dos novos contratados após a privatização não queria entrar no plano”, conta Carla.
Hoje, passados três anos, o fundo está totalmente reestruturado e não apenas atraiu a adesão de quase todos os funcionários contratados nos últimos anos como também foi além, conseguindo o ingresso de novas patrocinadoras. As mudanças atingiram todas as áreas e serviços do fundo de pensão. Plano de benefícios, estatuto, estrutura organizacional e carteira de investimentos, tudo mudou e incorporou a cultura de uma nova empresa. “Hoje o fundo de pensão e seu plano de benefícios da Vale representam uma moderna ferramenta de recursos humanos utilizada a favor da retenção dos empregados”, afirma Carla. Ela foi uma das primeiras profissionais da companhia a aderir ao novo plano.
O antigo plano de benefício definido, apesar de continuar existindo, cedeu lugar a um novo plano misto, com características de contribuição definida para o benefício programado. A migração foi realizada entre os meses de fevereiro e maio deste ano e a migração atingiu o alto índice de 98,7% dos participantes ativos. “O elevado nível de migração mostrou que o novo plano atende melhor às necessidades e aspirações dos funcionários da empresa”, declara Eustáquio Lott, presidente da Valia.
O novo plano misto, que mantém o benefício definido para os riscos de morte e invalidez, apresenta maior flexibilidade em comparação ao anterior, sobretudo no que diz respeito aos casos de desligamento do funcionário. Se o participante tiver que sair do plano, pode levar uma parte das reservas da patrocinadora, ou então manter os recursos no fundo para obter um benefício diferido (vesting) mais adiante.
O mais importante do processo de criação do novo plano foi a quebra da solidariedade entre os ativos e passivos das diversas patrocinadoras da Valia. “O déficit foi equacionado no momento da migração para os novos planos, que deixaram de ser solidários entre si”, diz Edécio Brasil, diretor de seguridade da Valia. Este foi um dos fatores que ajudaram o fundo de pensão a conseguir a adesão de novas patrocinadoras.
A primeira empresa a definir a entrada no fundo de pensão foi a Ferrovia Centro-Atlântico (FCA). A companhia faz parte do grupo Vale do Rio Doce e deve propiciar a adesão de 2.500 novos participantes para a Valia. Foi criado um plano exclusivo para os funcionários da FCA, já aprovado pela Secretaria de Previdência Complementar.
Agora, a Valia acaba de alcançar a adesão de 7 novas patrocinadoras (ver quadro com lista) e negocia a entrada de outras 6 companhias, todas pertencentes ao grupo Vale do Rio Doce. Essas sete novas empresas, que representam o ingresso de aproximadamente 2.200 participantes, deverão patrocinar um novo plano de benefícios do fundo, denominado Valia Prev. Se, além dessas 7, também as outras 6 que se encontram em negociação aderirem, agregando pouco mais de 2 mil participantes ao fundo de pensão, o quadro total deve saltar para 20 mil de participantes ativos, superando o número de assistidos que hoje é de cerca de 17 mil pessoas.
O objetivo da Valia, no primeiro momento, é esgotar todas as possibilidades de adesão de novas patrocinadoras dentro do próprio grupo Vale. “Estamos primeiramente realizando estudos e negociando com as empresas do próprio grupo, mas no futuro próximo pretendemos sair a mercado”, revela Eustáquio Lott. O presidente da Valia explica que o aumento do quadro de patrocinadoras permitirá a diluição dos custos de administração dos planos devido ao aumento do volume de recursos.
Atualmente a Valia possui um quadro de 106 funcionários, igual ao que havia na época da privatização da Vale do Rio Doce. O número de funcionários, que havia sido reduzido para 92 pessoas no segundo semestre de 1998 com a entrada da nova diretoria, voltou a crescer nos últimos meses devido ao ingresso de novas patrocinadoras.
Investindo em project finance
Não foram apenas os planos de benefícios da Valia que mudaram. As carteiras de ativos também estão modificando seus perfis. Uma das recentes decisões da diretoria do fundo de pensão foi aumentar as aplicações em projetos de infra-estrutura. “Pretendemos promover a migração de parte de nossa carteira de renda fixa para investimentos de project finance”, revela Manoel Cordeiro, diretor de investimentos da Valia.
A Valia já estreou no segmento ao investir aproximadamente R$ 62 milhões no campo petrolífero de Marlim. Neste momento, o fundo está estudando outros projetos de infra-estrutura relacionados ao setor de energia. Desta forma, a Valia segue o exemplo da fundação Petros, que também está realizando uma série de aplicações neste segmento, inclusive no campo de Marlim. “Estamos analisando alguns projetos da própria Vale do Rio Doce e investiremos, assim que houver uma oportunidade atraente”, declara o diretor financeiro.
Ele explica que a maioria do projetos oferecem papéis indexados a índices de inflação, o que é bastante atraente para o fundo de pensão. Isso porque as obrigações atuariais da Valia também estão indexadas à inflação, no caso IGP-DI mais 6% ao ano. Outro papel atrelado à inflação que a Valia tem procurado ultimamente são os títulos públicos indexados a IGP-M. O fundo tem participado dos últimos leilões do Tesouro Nacional em que este tipo de título foi oferecido.
Os fundos de investimentos do fundo de pensão da Vale também vêm passando por uma completa reestruturação nos últimos dois anos. Quando a atual diretoria da fundação assumiu no final de 1998, os ativos da Valia eram administrados por cerca de 40 gestores. “Uma das prioridades foi reduzir a quantidade de gestores com o objetivo de racionalizar a administração dos recursos”, afirma Manoel Cordeiro.
Hoje o fundo de pensão possui 16 gestores e a maior parte dos recursos é administrada através de fundos exclusivos. Os gestores são avaliados constantemente e os que apresentam os piores desempenhos estão sujeitos a substituição.
Novas patrocinadoras
Ferrovia Centro-Atlântico
Urucum
Companhia Paulista de Ferro Ligas
Sibra
Pará Pigmentos
Plano de Saúde dos Aposentados da Vale
Sociedade Mineira de Mineração
Nova Era Silicom