Edição 9
Transparência, menos burocracia, economia de custos e fuga da CPMF
Transparência, menos burocracia, economia de custos e fuga da CPMF.
Estes são alguns dos motivos que estão levando várias fundações a trocar
a carteira administrada de ações que mantém junto a instituicões
financeiras por fundos de ações carteira livre. Algumas entidades, contudo,
resistiam a idéia de direcionar seus recursos a uma aplicação coletiva,
mesmo que voltada exclusivamente para elas, com receio de perder o
controle da carteira.
Isso agora pode mudar. A resolução 258 da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), de 22 de janeiro, pavimentou o caminho em direção
aos fundos ao permitir que os investidores institucionais possam deter
mais de 50% das cotas desses produtos, o que era vetado até então. A
partir de agora, os bancos já podem criar fundos de renda variável nos
quais a fundação seja a única cotista, como ocorre com os fundos de
renda fixa exclusivos, proibidos para investidores comuns, mas liberado
pelo Banco Central para os institucionais (Circular 2738 de 23/01/97).
O patrimônio dos fundos carteira livre, que terminou janeiro acima dos R$
4 bilhões – uma captação líquida superior a R$ 1 bilhão no mês–, deve
crescer ainda mais com a entrada dessa nova modalidade de fundo. As
fundações já se mostram sensíveis ao novo produto. “Estamos estudando
a transformação de nossas duas carteiras administradas em fundos
exclusivos de renda variável”, conta o diretor financeiro da Fapes (BNDES),
Carlos Tadeu Moreira Ribeiro. Segundo ele, o fundo tem várias vantagens,
como a diminuição da burocracia, economia de custo e de tempo.
Outras fundações, menos temerosas de perder o controle de suas
aplicações, tomaram a decisão de migrar para o segmento de fundos
entre dezembro e começo de janeiro, antes, portanto da resolução da
CVM.
“Transferimos todos os recursos de nossas cinco carteiras administradas
para fundos de ações carteira livre destinados a fundações”, conta o
diretor financeiro da Fungrapa (Centrais Elétricas do Pará), Itamar
Magalhães. Ele redistribuiu cerca de R$ 18 milhões, o equivalente a 31%
do patrimônio, entre os fundos de oito instituições financeiras.
Dois motivos levaram a fundação a se decidir pela mudança: reduzir
custos de modo a se adequar à Resolução 176 e escapar da cobrança da
CPMF, que incide a cada movimentação da carteira de ações.
“Sem essa medida, a fundação teria de deixar de aplicar em ações porque
o impacto da 176 levou nossos custos de 10% da receita para 14% e
poderia crescer ainda mais”, afirma. Ele explica que o fundo de ações
representa economia, porque é menos burocrático, e a taxa de
administração é deduzida da cota.
Além da redução significativa na papelada interna e da diminuição do
impacto da CPMF, o diretor financeiro da Fundação Copel (Companhia
Paranaense de Energia), Nelson Marquardt, vê mais uma vantagem na
migração para o fundo de ações carteira livre para institucionais: a
possibilidade de integralizar cotas com as próprias ações da carteira
administrada.
A fundação já aplica parte dos quase R$ 170 milhões que possui em
renda variável em fundos de ações, mas quer transferir suas carteiras
administradas para esses novos lançamentos. Segundo o diretor, a
fundação está avaliando as propostas de vários bancos e tem uma
preocupação especial: “sob vários aspectos, o fundo é melhor que a
carteira administrada, mas tem de ter transparência”, observa. “Os bancos
estão sendo bastante ágeis em lançar produtos de acordo com as
necessidades das fundações”, diz.
O Banco Sudameris, por exemplo, já está oferecendo às fundações fundos
de renda variável exclusivos, que o diretor da área, Eduardo Santalúcia,
prefere chamar de personalizados. O banco se propõe a criar quantas
carteiras de fundos de ações carteira livre as fundações quiserem. “Cada
fundo de pensão pode ter o seu”, diz.
Ele conta que, embora possa ser de um único cotista, o fundo tem de ser
aprovado pela CVM e ter suas cotas e balanços publicados, como qualquer
outro fundo. O custo disso tudo sairá da taxa de administração que, como
tudo no relacionamento entre bancos e fundações, é negociável.