Dúvidas com Eletrobrás inibem a rentabilidade

Edição 7

Os administradores dos fundos de pensão estão dando especial atenção
às ações de Eletrobrás

Os administradores dos fundos de pensão estão dando especial atenção
às ações de Eletrobrás, a holding do setor elétrico. Aplicar em Telebrás já
não é a única alternativa de liquidez desses investidores e, embora as
ações da empresa ainda concentrem quase 43% do volume financeiro da
Bovespa, os papéis ON e PN de Eletrobrás somam 11%, uma parcela nada
desprezível desse mercado.
O setor é atrativo, mas tem seus problemas, avalia a analista Isabel
Pedrosa, da BBA Capital, empresa especializada na gestão de recursos de
terceiros, uma associação entre o banco BBA Creditanstalt e o Capital
Group, dos EUA.
Segundo ela, devido ao seu peso na composição do Índice, Eletrobrás é
um papel quase que obrigatório para um administrador de carteira. “Ele
somente poderá ficar sem essa ação caso tenha uma outra alternativa
muito boa que, na sua avaliação, possa bater o rendimento de
Eletrobrás”, afirma.
O interesse do mercado pela ação é crescente em razão da perspectiva de
privatização e deve se acentuar no ano que vem, observa Isabel. “Mas
quando se fala em Eletrobrás fica clara a dificuldade em se chegar a um
preço justo”, afirma. Isto acontece porque existem muitas dúvidas quanto
ao processo de venda.
De fato, apesar de ser um dos principais papéis do mercado, Eletrobrás
deve fechar o ano abaixo do Índice Bovespa. De janeiro até o pregão do
dia 18 de dezembro, enquanto o Ibovespa somava 50,6% de valorização
em dólar, o papel PNB da holding do setor elétrico acumulava alta menos
expressiva, de 38%. Abaixo também da maioria das companhias do setor,
especialmente daquelas que já estão com o processo de privatização
adiantado (ver gráfico).
Uma das principais questões levantadas pelo mercado com relação à
empresa é como será feita a venda de seus ativos. “Não está claro como
Furnas, Eletronorte, Eletrosul e Chesf serão privatizadas”, diz.
Para Isabel, os acionistas minoritários estão preocupados com o
tratamento que o governo dará a eles. No caso de pagamento com
moedas podres, por exemplo, dependendo do percentual aceito, pode
haver um impacto negativo muito grande. “Um percentual de 30% na
venda de Furnas, que vale em torno de US$ 8 bilhões, representa US$ 2,4
bilhões”, calcula.

Distribuidoras – Outro ponto importante, segundo Isabel, refere-se à
venda das empresas distribuidoras de energia. Para ela, seria melhor que
esta operação fosse feita antes da privatização da holding. “As
distribuidoras que forem privatizadas terão lucros e, como irão pagar pela
energia comprada, vão engordar o caixa da geradora, que é a Eletrobrás.
Ainda quanto à venda de ativos, outra dúvida é como será feita a
separação dos 50% que a Eletrobrás tem em Itaipu. Também não se sabe
como ficará a área de energia nuclear, que não pode ser repassada para o
setor privado.
A política de tarifas para a geração de energia é mais um ponto de
interrogação. Embora não exista uma regra explícita para o segmento de
distribuição, o setor se sente mais confortável porque tem como referência
a regra válida para a Light e a Cerj, o que não ocorre com a
geração. “Isso tudo atrapalha a avaliação da Eletrobrás”, observa.
De todo modo, o papel tem boas perspectivas de valorização. A empresa
possui o maior ativo de geração de energia elétrica do Brasil – 50% do
setor. Este é um ponto importante, uma vez que a demanda por energia é
crescente e há um potencial déficit a partir de 1998, se novos
investimentos não forem feitos.
Outro aspecto favorável é que, como a tendência do sistema é de operar
no modelo de rede integrada e a Eletrobrás é quem detém todo o know
how para isso, deverá continuar a gerenciar a transmissão, pelo menos
em um primeiro estágio. “Depois, esta parte também poderá ser vendida,
mas por por um bom tempo continuará nas mãos da empresa”, acredita.
A função de “banco” exercida pela holding também é interessante. Isabel
destaca que os empréstimos feitos às empresas do setor no passado, e
que tinham problemas de atraso, estão sendo recuperados em
decorrência das privatizações estaduais.
Como a privatização deverá elevar o grau de transparência do segmento,
diz a analista, os investidores poderão ter mais claro qual o peso na
empresa de cada um dos fatores acima. Desta forma, será mais fácil
chegar a um preço adequado para o papel.
De todo modo, tomando-se o valor de mercado de Eletrobrás mais sua
dívida líquida divididos pela sua capacidade de geração, a avaliação é de
que o papel está 40% abaixo da média das empresas do setor (a maioria
já privatizada) na América Latina, que é um referencial para os
especialistas, diz Isabel.