Aplicações vão migrar do CDB para os fundos

Edição 7

A perspectiva de início da cobrança do CPMF em janeiro está animando os
administradores de fundos de investimento

A perspectiva de início da cobrança do CPMF em janeiro está animando os
administradores de fundos de investimento. É que, apesar da imunidade
tributária de que gozam as fundações, especialistas jurídicos avaliam que
elas dificilmente escaparão da cobrança e isso deve incentivar as
aplicações em fundos em detrimento dos CDB, que recolherão a
contribuição a cada vencimento. Nos fundos, o pagamento só se dá
quando é feito o resgate das cotas.
De acordo com dados de setembro da Secretaria de Previdência
Complementar, dos R$ 23,1 bilhões que as fundações tinham aplicados
em ativos de renda fixa quase a metade (R$ 9,8 bilhões) estava nos
fundos de investimento financeiro de renda fixa (Fif), enquanto uma parte
um pouco menor (R$ 8,3 bilhões) estava em CDB e RDB. A aposta do
mercado financeiro é de que, com o CPMF, essa diferença tende a se
alargar muito mais.
Para José Roberto Castro Santos, diretor da Lloyds Asset Management
(LAM), o gestor do fundo de pensão pode até optar por outras
alternativas, como CDB com prazos mais longos, evitando, assim, a
incidência da CPMF a cada 30 dias. “No entanto, como a secretaria
restringe operações de swap nas carteiras dessas entidades, inibe a
possibilidade de fazer arbitragens de indexador e de taxa”, observa.
Deste modo, alongar implica em se amarrar a um só tipo de indexador, o
que não é interessante. Segundo Santos, a saída são os fundos de
investimento que, além de isentos de CPMF, são administrados de
maneira técnica.
O diretor do Banco CCF, Marcelo Guifrida vai na mesma direção. Segundo
ele, “o fundo de investimento pode remanejar a carteira de acordo com
eventuais mudanças no mercado, mas a fundação não poder fazer o
mesmo com o CDB”.

Lançamentos – Diante desse quadro, alguns bancos estão acelerando o
lançamento de carteiras de renda fixa voltadas exclusivamente para
investidores institucionais e os que já têm o produto reforçam os contatos
com os clientes.
Os lançamentos vão desde versões comportadas, destinadas a
simplesmente substituir os CDB, até opções mais ousadas, que incluem o
mercado de derivativos. Os bancos sabem que as novas carteiras irão
disputar espaço com várias já existentes e, para ampliar as possibilidades
de sucesso, se esmeram nas inovações.
O Banco Continental está colocando no mercado três carteiras só para
investidores institucionais. A opção foi oferecer produtos com perfis
diferenciados para que o administrador da fundação possa temperar suas
aplicações com variados níveis de risco.
O Continental Conserver, como o nome diz, é conservador. Aplica os
recursos apenas em papéis públicos (federais, estaduais e municipais) ou
em CDB de bancos públicos. “É direcionado para evitar o risco dos bancos
privados”, diz Eduardo Pereira de Carvalho, presidente do Continental. A
taxa de administração será de 1,2% ao ano.
O Continental Master terá carência de 180 dias e, neste ativo, o banco se
compromete a proteger o capital principal aplicado. Para obter um
rendimento que justifique o prazo mais longo, três vezes o dos Fifs
comuns, até 20% dos recursos serão destinados à renda variável (ações,
índice Bovespa, C bonds e derivativos). “É um fundo para quem busca
resultados de longo prazo, seu objetivo é atuar em mercados de risco,
mas com proteção do principal”, afirma o diretor. A taxa cobrada será de
1,2% mais 20% sobre o que superar o CDI.
O terceiro, Continental Excellence, é mais agressivo. “Vai operar bastante
alavancado no mercado de derivativos”, conta Carvalho. Os títulos públicos
e privados que entrarão na carteira desse fundo servirão de base para
operações no DI futuro, à razão de até 30% do patrimônio. Investimentos
em ações poderão compor até 20% dos recursos.
O executivo acredita que os produtos mais agressivos vão atrair fundações
de maior porte, que têm volume suficiente para diversificar seus
investimentos em renda fixa. As fundações menores tendem a substituir o
CDB por fundos de renda fixa tradicionais.

Quatro novos – Outro que corre para ganhar espaço com a entrada em
cena da CPMF é o IBT Asset Management. A empresa acabou de formatar
quatro fundos de investimento financeiro sob medida para fundações.
Segundo Roberto Nishikawa, diretor executivo da instituição, com a CPMF
deixa de ser compensador investir em CDB. “Para o atual nível de juro, o
impacto da contribuição sobre o rendimento é muito forte”, diz.
A empresa está apostando que a disposição das fundações ao risco
aumentará daqui para frente. Dos quatro produtos de renda fixa que está
lançando, três incluem aplicações em derivativos. A única opção con-
servadora é o IBT DI, com taxa de 1% ao ano mais taxa de performance
de 15% sobre o que exceder o CDI.
Já o IBT Protected Equity T61, embora busque proteção do patrimônio,
tem uma certa dose de risco. Trata-se de um fundo de renda mista, que
investe em renda fixa e coloca um percentual em derivativos. Esse
percentual depende do nível da taxa de juros. Quanto maior ela for, mais
elevado será o volume aplicado em ativos de risco. “Desta forma, o
investidor terá seu patrimônio protegido, mas com potencial de lucro”,
garante o executivo. Como opera sincronizado com o mercado de opções,
o fundo só recebe depósitos nos meses em que ocorre o exercício nas
bolsas de valores. A taxa de administração é de 2% ao ano, sem cobrança
de performance.
Nas outras duas carteiras a ousadia aumenta bem mais. O IBT Volatility
60 e o IBT Asset Alocation 60 tentam obter lucros com a volatilidade dos
ativos financeiros. O primeiro se preocupa apenas com o índice de
volatilidade dos mercados, não importa se para cima ou para baixo, pois
o ganho decorre da movimentação das cotações. O segundo também se
baseia em volatilidade, mas quer mercados com potencial de
rentabilidade e pode alavancar até cinco vezes o patrimônio. Ambos
cobram taxa de 1% ao ano, mais performance de 15% sobre o CDI.
Giufrida, do CCF, fez uma simulação para mostrar o efeito negativo da
CPMF sobre a rentabilidade do CDB a longo prazo. O fundo de renda fixa
do banco dedicado às fundações, CCF Multi, acumulou rendimento de
20,18% em 1996 (até 02/12), enquanto no mesmo período o CDB médio
(taxa Anbid) teria rendido 17,98% caso tivesse sofrido o desconto da
contribuição, diz.

Ações – O dinheiro destinado pelas fundações aos fundos de ações (R$
1,4 bilhão, em setembro) ainda é pequeno em face do que é aplicado
diretamente nas bolsas (R$ 20 milhões). A entrada da CPMF pode
melhorar o panorama para as carteiras de ações, acreditam os bancos.
Tanto que não faltam lançamentos nessa área.
A BBA Capital, empresa de gerenciamento de recursos de terceiros, uma
associação entre o Banco BBA e o Capital Group, dos EUA, está lançando
dois fundos de ações para fundações. Um deles terá perfil de médio e
longo prazos, que se utilizará do método de análise fundamentalista na
escolha das aplicações.
“O outro tentará respeitar a tendência do índice Bovespa, mas sempre
buscando agregar valor”, conta Fernando Yunes, diretor da
instituição. “Com a entrada da CPMF, o apetite dos investidores para os
fundos deve aumentar e, como já somos bem supridos em produtos de
renda fixa, estamos reforçando a área de ações”, afirma.
A partir de janeiro, os fundos de pensão clientes do Banco Real terão à
disposição um fundo indexado ao índice Bovespa, conta Juscelino Florido,
chefe do departamento de investimentos do Banco Real de
Investimentos. “O fundo vai operar 100% comprado”, diz. A intenção é
permitir à fundação operá-lo como se trabalhasse com a carteira do
Ibovespa, comprando quando aposta na alta e vendendo quando acredita
na queda.
Não são poucas as novidades no segmento. O Banco Continental acabou
de criar três carteiras de ações exclusivas para institucionais, com perfis
que vão do conservador ao agressivo. O CCF recentemente criou três
novas carteiras destinadas a esse investidor, uma clássica, uma para o
setor de telecomunicações e uma só com Telebrás. “Talvez seja o primeiro
fundo explicitamente gráfico do mercado brasileiro”, arrisca Giufrida.

CVM – As carteiras voltadas para investidores institucionais estão saindo
em nova versão: a de investidor qualificado. Segundo Ana Maria França,
superintendente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), existem no
orgão 12 pedidos de abertura de fundos com essa modelagem (ver
quadro), três aprovados e um já em funcionamento.
O fundo para investidor qualificado, cujas regras foram aprovadas pela
CVM em setembro, permitem que a fundação use ações que
eventualmente possua em carteira para integralizar cotas. Outro destaque
é o prazo de resgate, que pode ser mais longo que o válido para os
fundos de ações comuns (no máximo, um dia a mais que o prazo de
liquidação das bolsas).