Edição 62
Entre as vantagens das indexadas estariam seu baixo custo administrativo
e a facilidade de compreensão por parte do participante
A administração passiva ou indexada de carteiras de renda variável, que
busca perseguir o mesmo desempenho de um determinado índice de
ações, começa a se popularizar entre investidores institucionais brasileiros.
Nos últimos meses, pelo menos dois fundos de pensão de grande porte,
Funcef (da Caixa Econômica Federal) e Fundação Cesp (de empresas de
energia elétrica paulistas) manifestaram sua intenção de vincular parte de
seu portfólio de ações a esses índices, o que deverá elevar
significativamente o volume de recursos administrados com esse objetivo,
no Brasil.
A fundação Cesp está analisando indexar ao Ibovespa uma parte de sua
carteira de ações, que representaria algo em torno de R$ 70 milhões (ver
Investidor Institucional nº60), ou quase 90% dos R$ 80 milhões que
constituem o valor total de seu patrimônio aplicado em renda variável.
Já a Funcef iniciou em junho uma concorrência para terceirizar toda a
carteira de renda variável, que hoje é de cerca de R$ 1,2 bilhão. Desse
total, entre 30% a 40% ficará indexado, parte ao Ibovespa e outra parte
ao IBX, informa o diretor financeiro da fundação, Humberto Magalhães.
Primeiros passos – A administração indexada começou a dar os primeiros
passos no Brasil a partir de meados dos anos 90, refletindo, tardiamente,
uma tendência de crescimento desse tipo de gestão de recursos que se
desenvolvia nos Estados Unidos desde o início da década. O motivo
remete à uma discussão do mercado norte-americano, onde alguns
especialistas afirmam que os fundos passivos tenderiam a se igualar aos
ativos no longo prazo.
“Os administradores, em geral, têm muita dificuldade em bater
consistentemente o mercado. No Brasil, poucos conseguiram superar o
Ibovespa, analisando períodos mais longos”, afirma o sócio-consultor da
Rocca, Prandini & Rabbat, Marcelo Rabbat. “São poucos os gestores ativos
que agregam valor”, concorda o gerente de investimentos da fundação
IBM, Marcelo Mancini.
Uma das primeiras fundações a implementar a gestão passiva de renda
variável no Brasil foi a Previd-Exxon. No início de 97, a entidade entregou
parte de sua carteira ao então banco Icatu (hoje Icatu Investimentos). De
acordo com o diretor comercial da Icatu Investimentos, Carlos Garcia, a
demanda por esse tipo de gestão ficou mais forte a partir do ano
passado. “Até há pouco tempo, o mercado brasileiro não tinha cultura de
carteira indexada. Mas o crescimento nos Estados Unidos e também a
proliferação de consultores de investimentos ajudou a difundir essa cultura
aqui”, relata. “Com isso, alguns investidores perceberam que poderia
fazer sentido ter uma parte de seu portfólio indexado”, acrescenta Garcia.
Custo menor – Outro ponto fundamental para entender o aumento do
interesse pela gestão passiva de portfólios de ações é que a taxa de
administração é menor que a da ativa, por exigir menor empenho e
especialização do gestor. Além disso, essas taxas são baixas porque,
caso contrário, “comeriam” a rentabilidade da carteira, e
consequentemente ficariam abaixo do índice.
Segundo Marcelo Rabbat, a gestão indexada custa, em média, 0,3% ao
ano, enquanto a ativa gira em torno de 2% ao ano, levando em
consideração as remunerações fixas e por performance. “O gestor ativo,
muitas vezes, se beneficia apenas por causa da alta da bolsa. Quando o
mercado está em baixa, também ganha”, observa. “Na administração
passiva, a palavra-chave para ganhar dinheiro é o volume administrado”.
Ele chama atenção, ainda, para os parâmetros utilizados pelos gestores
de recursos para estabelecer as taxas de performance. “Tem gente que
usa benchmark de renda fixa para cobrar performance em renda variável,
por exemplo, colocando uma taxa de performance para o que passar de
INPC mais 6% ao ano. No primeiro semestre desse ano, a bolsa subiu
bem mais que isso, e o administrador se deu bem só vendo a bolsa subir
na frente dele”, enfatiza.
Um terceiro ponto favorável às carteiras indexadas – pelo menos para os
gestores de recursos de terceiros, entre os quais se incluem os fundos de
pensão – está em poder transferir toda a responsabilidade pelos
resultados ao comportamento do próprio mercado. Ou seja, ninguém
poderá responsabilizá-los de ter feito esta ou aquela operação errada,
favorecido alguém ou alguma empresa, ou mesmo haver terceirizado a
gestão contratando um mau administrador.
“A indexação no asset alocation de uma fundação elimina o risco da
gestão, deixando apenas o risco de mercado”, observa o diretor comercial
da Dreyfus Brascan, Roberto Pitta. “Além do que os fundos ativos vêm
perdendo dos índices nos últimos anos”, lembra ele.
Aposta na indexação-A Dreyfus Brascan, por sinal, entrou no Brasil no ano
passado com um marketing fundamentado justamente na gestão
indexada de portfólios, apostando no crescimento desse segmento. A
empresa, que segundo Pitta está próxima de alcançar R$ 1 bilhão em
recursos de terceiros, contabiliza R$ 90 milhões em carteiras passivas de
três fundações.
Vincular o desempenho dos investimentos aos índices também facilita a
vida daqueles fundos de pensão que dão ao participante a possibilidade
de escolher o perfil do seu portfólio.
A fundação IBM é uma das que adotou essa fórmula para o seu plano de
contribuição definida, que tem hoje um patrimônio de cerca de R$ 230
milhões. Desse total, os R$ 30 milhões aplicados em renda variável estão
indexados ao Ibovespa. Os outros R$ 200 milhões estão investidos em
renda fixa, conforme escolha dos participantes, e acompanham o CDI,
informa o gerente de investimentos, Marcelo Mancini.
“Por um custo bem mais barato, damos ao participante a rentabilidade do
Ibovespa, que é razoável para ele, sem a complicação de explicar porque
num mês a rentabilidade ficou acima ou abaixo do índice. É mais fácil
para ele acompanhar o investimento, porque nos meios de comunicação
só se fala em Ibovespa”, explica Mancini.
A fundação IBM foi uma das pioneiras na adoção de carteiras passivas,
em outubro do ano passado, também para o plano de benefício definido
que gerencia. Em 97, a entidade encomendou um estudo à empresa de
consultoria de investimentos americana Barra para analisar a rentabilidade
de suas carteiras, distribuídas entre vários administradores, entre os anos
de 93 e 96. A conclusão foi de que, no acumulado do período, eles
perderam dos índices que procuravam superar.
Para torná-las indexadas, o fundo escolheu o índice Morgan Stanley
Capital International (MSCI) para balizar o desempenho de R$ 150
milhões em ações, por ser um indicador de âmbito internacional. “O risco
do plano de benefício definido é da patrocinadora, que é internacional”,
explica. “O MSCI tem menos papéis que o IBX e um risco/retorno
parecido”, compara.
De acordo com o diretor de institucionais da Unibanco Asset Management
(UAM), Ailton Garcia, outras quatro entidades fechadas de previdência,
clientes da empresa, preparam-se para seguir o exemplo da IBM em seus
planos de contribuição definida com livre-escolha do perfil da carteira. Mais
uma vez, o motivo é a facilidade de entendimento. “É mais fácil para o
participante acompanhar a rentabilidade quando a administração é
indexada”, explica.
O diretor comercial da CCF Brain, Silvio Fleury, concorda. “Os fundos de
pensão querem que sejam respeitados os percentuais que configuram as
opções dos participantes”, afirma. “Mas as consultas por administração
indexada têm aumentado em geral”, acrescenta.
Apesar de ser um segmento em franca expansão, são poucos os
administradores que estão participando da disputa pelas carteiras
passivas, pelo menos por enquanto. Alguns, porque não querem. Outros,
porque não têm histórico nesse tipo de empreitada, que é um dos pontos
fortes considerados pelos investidores institucionais na alocação de seus
recursos.
Alocação segmentada – O modelo de terceirização adotado pela Funcef é
um exemplo. A fundação está procurando espelhar a composição do
mercado, quanto às formas de gestão, selecionando os melhores de cada
segmento. “A alocação da nossa carteira vai refletir o desenho do
mercado, que hoje tem predominância da administração ativa. Temos
uma carteira grande, de 120 papéis, e decidimos pulverizá-la baseada em
portfólios bem definidos”, explica, referindo-se também às carteiras de
segunda e terceira linha, que serão entregues a empresas especializadas.
Segundo Marcelo Rabbat, embora seja aparentemente simples, indexar
requer modelos matemáticos para determinar a composição de ações que
melhor reflita o índice. O mais óbvio é comprar exatamente os mesmos
papéis que o integram, o que se chama tecnicamente de “réplica total”. A
questão é que, como os índices têm, em geral, ações de baixa liquidez,
essa técnica só funciona para fundos de baixa movimentação.
Uma outra técnica é conhecida como “amostragem estratificada”. Baseia-
se numa carteira ideal com apenas as 20 ações mais negociadas do
mercado. A terceira maneira usada para replicar um índice, de acordo com
o consultor, é chamada de “portfólio sintético”: uma composição de swap
de CDI contra Ibovespa, futuros e opções de índice. “Mas ela ainda não é
usada no Brasil”, afirma Rabbat.