Investidores buscam as aplicações pós-fixadas

Edição 42

Cautela é a ordem do dia nos investimentos das fundações em renda fixa

Cautela é a ordem do dia nos investimentos das fundações em renda
fixa. Depois do aumento dos juros no final do ano passado, em
consequência da crise asiática – que levou à desvalorização das aplicações
que pagavam taxas anteriores à mudança – as fundações estão
procurando aplicações de renda fixa pós-fixadas, indexadas ao CDI. Elas
permitem acompanhar o aumento das taxas de juros, se houver, evitando
os problemas do passado.
No final de 97, o Banco Central determinou que os bancos adequassem a
rentabilidade dos fundos de renda fixa às novas taxas de juros, que
subiram de patamares de 20% para 40% ao ano. Com isso, a
rentabilidade das cotas desses fundos – nos quais as fundações tinham
investido a grande maioria dos seus recursos – despencou. Houve até
mesmo casos em que ela ficou negativa. Agora, com a nova crise nas
bolsas, ninguém quer correr esse risco. “Há o temor da alta dos juros
entre os investidores”, diz Wanderley Silva, diretor-adjunto do ABC Brasil.
A Faceb, fundação da Companhia de Energia de Brasília (CEB), já colocou
cerca de R$ 18 milhões em fundos de renda fixa conservadores e
indexados ao CDI. Esses recursos antes estavam investidos em CDBs pré-
fixados, que começaram a vencer a partir de julho, conta o
superintendente da entidade, Ricardo Mansueto. “De agora em diante, só
faremos operações pré-fixadas”, diz.
A fundação tem ainda outros R$ 18 milhões em CDBs pré-fixados, que
deve direcionar para fundos indexados ao DI nos próximos meses. No
total, esses títulos chegaram a representar 25% do seu patrimônio, que
no final de julho era de R$ 153 milhões.
Outras fundações estão fazendo o mesmo. No final de 97 e início desse
ano, muitas delas carregaram seu portfólio de títulos pré-fixados, privados
ou públicos, por causa das altas taxas de juros. Agora, com o vencimento
desses papéis, estão migrando para aplicações pós-fixadas. A Eletros, da
Eletrobrás, é uma delas. “A maior parte da nossa carteira de renda fixa
hoje está pós-fixada”, conta Luís Guilherme Pinto, gerente de
investimentos da entidade.
No início do ano, entretanto, a Eletros resgatou cerca de R$ 10 milhões
das aplicações de renda variável que tinha sob administração externa para
investir em títulos públicos federais, que pagavam taxas ao redor de 35%
ao ano. A soma representava 25% das carteiras terceirizadas. “Foi uma
estratégia acertada”, avalia.

Oportunidade – Com a crise das bolsas, a Eletros também aproveitou uma
outra oportunidade de aplicação pós-fixadas, que não as indexadas ao
CDI. Participou dos leilões de NTNs cambiais, papéis emitidos pelo
governo que rendem uma taxa de juros fixa mais variação cambial.
De acordo com o gerente da Eletros, entretanto, a fundação não está
apostando numa desvalorização cambial. “Essa operação é uma espécie
de seguro que estamos dando aos participantes, embora o nosso passivo
não esteja atrelado ao dólar. Mas, caso haja desvalorização cambial, o
participante vai ganhar do mercado. Se isso não acontecer, a diferença em
relação ao CDI será pequena”, explica. A comparação se baseia na
cotação das taxas pré-fixadas no mercado à vista, para o período de um
ano (a partir do início de setembro) e na projeção de variação cambial
para o mesmo período.
Além de possibilitar uma rentabilidade extra para os participantes, esses
títulos são um investimento seguro. “Os títulos públicos federais são uma
aplicação mais segura que o CDB. Em épocas de crise, como já vivemos,
nunca se sabe o que pode acontecer com as instituições financeiras, ainda
mais porque o nível de inadimplência está cada vez mais alto”, opina.

Cambiais – As NTNs cambiais compradas pela fundação, que têm
vencimento para o final de 99, pagavam uma taxa de juros fixa ao redor
de 16% mais a variação cambial. Até o final de agosto, esses papéis já
respondiam por cerca de 6% do seu patrimônio.
Já a Desban, fundação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais,
encontrou outra maneira dar um ganho extra aos seus participantes. Para
acompanhar uma possível queda nos juros, que será acompanhada pelas
aplicações pós-fixadas, a entidade pretende operar no mercado futuro,
para garantir o nível atual das taxas.
A idéia é comprar contratos futuros de DI que tenham taxas iguais ou
maiores que as atuais, explica Nivaldo Coimbra de Paula, analista da
fundação. “Com o DI futuro evitamos a curva de descida dos juros, se eles
caírem. E se subirem, estamos com nossa renda fixa pós-fixada, e por
isso vamos acompanhar o movimento”, acrescenta.