Fundos de pensão dividem a cena com o capital externo

Edição 41

A privatização da Telebrás marca uma nova etapa na participação dos
fundos de pensão na venda de empresas estatais

A privatização da Telebrás marca uma nova etapa na participação dos
fundos de pensão na venda de empresas estatais. Daqui para a frente, a
presença marcante dessas entidades no processo de privatização deve ser
substituída por uma atuação mais tímida, analisa Carlos Garcia, diretor do
banco Icatu, que atuou como adviser das fundações em boa parte dos
leilões.
O motivo é que as fundações já teriam gasto quase tudo o que podiam na
compra de empresas estatais, e agora têm que ser mais seletivos na hora
de fazer novos investimentos . “Os fundos de pensão podiam imobilizar
capital até um determinado limite. A tendência a médio prazo é de que a
participação deles nas privatizações diminua, e a dos investidores
estrangeiros vai continuar crescendo”, acrescenta.
Além disso, a venda da Telebrás foi um dos últimos grandes negócios de
privatização. A maior parte dos próximos leilões são de menor porte, com
algumas exceções, como é o caso de Furnas.
Até o ano passado, entretanto, a participação dos fundos de pensão nos
leilões foi, sem dúvida, fundamental para viabilizar o programa. Em 97,
fizeram parte do consórcio vencedor na Vale do Rio Doce e na Companhia
Paulista de Força e Luz – CPFL, dois dos leilões mais importantes do país,
em parceria com grupos nacionais e estrangeiros.
No início do programa de privatização, quando o investidor estrangeiro
ainda olhava para o mercado brasileiro com cautela, as fundações
atuaram como protagonistas decisivas em muitos casos. Um bom
exemplo é o da Acesita. A empresa foi vendida em pedaços e, só na hora
de fechar o acordo de acionistas, os fundos perceberam que detinham o
controle da empresa.
Em 1995, as fundações ganharam também o controle da Escelsa, só que
dessa vez de modo mais organizado. Através da formação de uma
empresa de participações, a GTD, fizeram parceria com bancos nacionais –
reunidos no consórcio Iven – para comprar a empresa.

Espaço dividido – Depois disso, os investidores institucionais brasileiros
começaram a ter que dividir espaço com os estrangeiros, disputando ou se
aliando a eles. “A possibilidade de ter parceiros nacionais foi importante
para atrair o investidor estrangeiro, que agora já ganhou mais confiança
para entrar no país”, opina Garcia.
Já na Telebrás, vários grupos internacionais entraram na disputa sozinhos
e a participação dos fundos ficou ofuscada em relação ao volume total de
negócios. Compraram apenas três das doze telefônicas – Telemig Celular,
Tele Norte Celular e Tele Centro Sul, que representaram cerca de R$ 3
bilhões de um leilão que rendeu R$ 13 bilhões.
Paralelamente à entrada dos investidores estrangeiros, e também em
consequência disso, a atuação dos fundos de pensão nos leilões foi
mudando. De acordo com Garcia, as fundações não querem mais deter o
controle das empresas, como ocorreu no passado, mas influenciar nas
decisões em busca de melhores resultados para o seu investimento.
Dessa preocupação deriva outra influência positiva dos fundos nas
empresas privatizadas, a profissionalização da gestão. “O interesse das
fundações é garantir ganhos no longo prazo para saldar seus
compromissos previdenciários”, afirma.
Do ponto de vista dos fundos de pensão, as privatizações foram uma
oportunidade de investir em ativos de longo prazo, raros no Brasil. “Um
fundo de pensão nos Estados Unidos ou Inglaterra pode investir em títulos
com prazos longos e baixa volatilidade. No Brasil, só mesmo através das
concessões, que têm prazos de até 30 anos, para se conseguir isso”.
A partir do final do ano passado, as fundações menores, que
anteriormente haviam ficado à margem do processo de privatização,
também começaram a se beneficiar do negócio. Foi quando começaram a
pipocar os leilões de empresas regionais, de menor porte, mas com
elevado potencial de retorno.
Essas fundações estiveram presentes na venda de empresas de
eletricidade como a Energipe (Sergipe) e a Cosern (Rio Grande do Norte),
e arremataram essa última, com parceiros bem maiores que elas. “As
fundações pequenas começaram a participar sem a presença das grandes,
como aconteceu por exemplo na Escelsa, que tem fundos de vários
portes”, complementa Carlos Garcia.
Segundo ele, elas devem continuar aproveitando essas oportunidades. O
banco Icatu está assessorando um grupo de fundos do sul para participar
da Gerasul, entre outras privatizações que estão programadas para o
setor elétrico da região.