Administrar poucos papéis é mais rentável

Edição 4

Fundos de pensão com mais de uma centena de ações diferentes na
carteira começam a se tornar coisa do passado

Fundos de pensão com mais de uma centena de ações diferentes na
carteira começam a se tornar coisa do passado. O processo de
modernização da economia também afeta o setor, aumentando a
necessidade de reduzir custos administrativos e de melhorar a
performance dos investimentos. Fundações constituídas há
aproximadamente 20 anos são particularmente afetadas, pois vêem o
horizonte de pagamento de benefícios se aproximar velozmente,
elevando ainda mais as exigências de rentabilidade. Operar com um
portfólio mais enxuto está na ordem do dia de muitas entidades.
Uma das mais adiantadas nesse processo é Fundação Cesp: de meados
do ano passado para cá, diminuiu em quase 25% a quantidade de
ações. “Agilidade é fundamental para maximizar ganhos e uma carteira
muito grande é um fator limitante”, diz Adelmo da Costa Teves Júnior,
coordenador da área de investimentos da fundação. Até mesmo a gigante
Previ, cujas necessidades de enquadramento – devido ao elevado
patrimônio – a obrigam a uma diversificação maior, estuda a viabilidade
de uma redução a partir do ano que vem. Segundo João Bosco Madeiro da
Costa, diretor técnico da Previ, a fundação investe hoje em 120 papéis e
há espaço para a diminuição, caso o estudo confirme sua avaliação incial
de que existem empresas demais na carteira.
“Primeiro vamos traçar um mapa geral de todas as posições existentes,
identificar as melhores opções e depois decidir o que fazer com as ações”,
afirma o diretor da Previ. Embora o diretor considere que existem papéis
em excesso na carteira, ele acredita que seria prematuro afirmar que o
estudo recomendará o seu encolhimento.

Reduzir – No entanto, mesmo com um volume financeiro tão grande – US$
7 bilhões, 48% do patri- mônio total da fundação – ele afirma ser possível
trabalhar com um número menor de papéis. “Temos ações cujo volume
aplicado está abaixo de 1%, distante do limite máximo de 5%”, explica. A
principal razão para o ajuste, de acordo com Costa, é a dificuldade de
acompanhamento das empresas. “Com 120 papéis, seria preciso uma
equipe muito grande para se obter uma análise eficaz e o custo disso é
alto”, diz. O estudo estará concluído até dezembro, a tempo de ser
examinado pela diretoria nas reuniões que definirão as metas para o ano
que vem.
Para Teves Júnior, da Fundação Cesp, vários motivos levaram ao
redesenho da carteira de ações da entidade. O tamanho do mercado
brasileiro, pequeno em relação ao volume de recursos dos investidores
institucionais, e a concentração em poucos papéis e investidores exigem
uma atenção maior dos administradores. “No Brasil não se pode
simplesmente comprar um papel e esquecer, mesmo dentro de uma
perspectiva de longo prazo, e com uma carteira menor o
acompanhamento é mais preciso”, afirma. Além disso, com a mudança
no panorama econômico, decorrente do processo de globalização, surgiu a
necessidade de se reposicionar os investimentos. Setores que não se
adaptaram deixaram de ser interessantes e outros se destacaram pois
ganharam competitividade tanto no mercado interno como no externo,
justifica.
Segundo Teves Júnior, o momento atual é de maturidade dos planos
previdenciários, principalmente os de benefícios definidos, o que eleva a
necessidade de maior retorno dos investimentos. “Quando o sistema
começou, a expectativa de início de pagamento dos benefícios era de 30
anos e hoje os planos já têm uma média de 20/25 anos, ou seja, o
objetivo está bem mais próximo”, observa.
A carteira de ações entra aí como um fator decisivo, uma vez que
apresenta maior potencial de ganho que as aplicações de renda fixa. Mas
como também exibe risco maior, demanda mais atenção do
administrador. “ Para se obter o nível de eficiência desejado sem pressão
sobre os custos administrativos, só mesmo trabalhando com um portfólio
mais concentrado, que permite maior especialização, precisão das
informações, melhor qualidade de análise e agilidade na tomada de
decisão”, completa.
O tamanho reduzido do mercado e a alta concentração em poucos papéis
foi a principal dificuldade encontrada pela fundação para levar adiante a
operação de enxugamento, explica Teves Júnior. “ Das 540 empresas
registradas em bolsa, cerca de 120 tem negociação diária e apenas 49
possuem boa liquidez, porque integram a carteira do índice Bovespa”,
diz. Apesar desses entraves a reestruturação da carteira da fundação, que
começou em abril do ano passado, está bastante adiantada.
A partir da constatação de que o formato ideal para a carteira de ações da
entidade exigia a redução do número de empresas, o primeiro passo foi
efetuar uma avaliação das perspectivas macroeconômicas e uma análise
de quais as áreas mais promissoras da economia. Em seguida foi feita
uma redefinição de setores e seus percentuais de participação na carteira.
O passo seguinte foi a análise das empresas desses setores que seriam
mantidas ou compradas, seus percentuais de participação e a definição
das que seriam descartadas. A operação do plano começou efetivamente
em junho.
Naquela época, a carteira de ações da Fundação Cesp era composta por
103 empresas distribuídas em 23 setores. Quase um ano e meio depois,
conta com 16 setores e 78 empresas, 41 delas componentes do índice
Bovespa. Ao longo de 1995, devido ao momento difícil pelo qual passava
o mercado de ações em consequência da crise do México, detonada no
final do ano anterior, a carteira até cresceu antes de começar a
encolher. “A baixa dos preços favorecia a compra, por isso privilegiou-se a
aquisição dos papéis desejados para depois, em momento mais oportuno,
iniciar a venda”, conta.
“A idéia é chegar a 50 papéis e 10 setores”, afirma. Atingida essa meta, o
ajuste será revisto e pode até ser indicada nova redução no número de
ações, o que não implica em desinvestimento na área, observa. Ainda há
espaço para uma concentração ainda maior na carteira, que hoje está em
US$ 600 milhões e representa 21,86% das aplicações totais da fundação.
Do final do mês até meados de novembro os dirigentes da fundação,
entre eles os membros do comitê de investimentos, participarão de uma
maratona de palestras com economistas e consultores.
Segundo Teves Júnior, será traçado um quadro das perspectivas políticas
e econômicas para o ano que vem e é com base nelas que será definida a
política de investimentos da entidade para 1997. Teves Júnior,
particularmente, acredita na continuidade da queda dos juros reais no ano
que vem. Com isso, o diferencial de rentabilidade teria de ser retirado do
mercado de ações. “Mas, mesmo que se decida pela alocação de mais
recursos às bolsas, o conceito de diminuição das empresas na carteiras
não muda”, garante.
Os pequenos fundos de pensão também têm o cuidado de concentrar a
carteira em um menor número de papéis no intuito de melhorar a
rentabilidade. “Para se correr o risco do mercado de ações, que é alto
comparado ao de renda fixa, é preciso que o percentual de ganho seja
compensador”, diz Ricardo Sampaio Corrêa Filho, diretor do Feniprev,
fundo múltipatrocinado operado pelo banco Fenícia. Para ele, é possível
obter um ganho diferenciado trabalhando com poucas ações, desde que
bem escolhidas.
Embora tenha um percentual pequeno, 11%, do patrimônio de US$ 20
milhões investido em ações, o fundo já sofreu da tendência ao inchaço
comum dos fundos maiores. “ Há dois anos tínhamos de 12 a 15 papéis”,
diz. Parece pouco diante da expressividade de fundos como a Previ, mas
é bastante em relação ao tamanho da carteira. Representa praticamente o
dobro da posição atual, que oscila entre 6 e 7.
“Há cerca de 10 anos, prevalecia o conceito de que se tinha de trabalhar
com um número muito grande de ações para diluir o risco, mas isto está
mudando”, diz. Embora limitasse o risco de perdas, a diversificação
acabava minimizando o efeito do bom resultado que um ou outro papel
pudesse apresentar. “Uma alta explosiva em uma única ação tem pouco
efeito sobre o global da carteira”, diz. “Da mesma forma, se o
administrador é ruim, os erros não aparecem, mas o que ocorre hoje é
que as grandes fundações estão motivadas a melhorar cada vez mais a
performance”, completa.
O problema do risco pode ser contornado se o gestor acompanhar de
perto as empresas que integram a carteira e isso só se obtém com um
número menor de papéis, garante o diretor.

Alongamento – De acordo com o diretor, o cenário para o ano que vem
favorece as aplicações em bolsa. Isto porque, a taxa real de juros deve
continuar cedendo, forçando os administradores a alongar as aplicações
de renda fixa e buscar a renda variável para alavancar a lucratividade. O
risco do mercado de ações tende a ser bem menor daqui para frente,
acredita. “As empresas que tinham de se ajustar ao plano Real já o
fizeram”, diz.
Diante desse quadro, o patrimônio da Feniprev destinado às ações vai
pular dos atuais 11% para entre 20% e 25%, conta o diretor. Mesmo
assim, o número de empresas na carteita não deve passar de 10.