Patrocinadoras migram para previdência aberta

Edição 37

Está aumentando o número de empresas que decidem encerrar seus
fundos de previdência fechada, transferindo os participantes para planos
de previdência aberta, individuais ou empresariais

Está aumentando o número de empresas que decidem encerrar seus
fundos de previdência fechada, transferindo os participantes para planos
de previdência aberta, individuais ou empresariais. As empresas Henkel e
Everedy, que atuam respectivamente nas áreas química e de produção de
pilhas, fecharam suas fundações e transferiram os participantes para
planos abertos.
Elas não estão sozinhas. A Companhia Real de Distribuição e o Grupo
Predileto Alimentos, respectivamente dos ramos de supermercado e de
processamento de alimentos, estão indo pelo mesmo caminho. Elas já
decidiram suspender o funcionamento dos seus fundos de pensão e
estudam a contratação de planos abertos para os participantes. Segundo
o atuário Gehard Dutzman, quatro fundos de pensão que são seus
clientes, também estão se preparando para migrar para a previdência
aberta, em breve.
A explicação mais frequente para esse tipo de mudança está nos altos
custos administrativos dos fundos fechados, principalmente para aqueles
com pequeno patrimônio. “As fundações que não possuem grandes
volumes estão revendo as estratégias de seus planos de previdência”,
opina Miguel Leôncio Pereira, diretor comercial da área corporate da Prever.
A Prever é a segunda maior administradora de previdência privada aberta,
com patrimônio de R$ 712 milhões ao final de maio, dos quais cerca de
50% eram de planos empresariais. Fica atrás apenas da Bradesco
Previdência, primeira do ranking, que possuia patrimônio de cerca de R$ 3
bilhões no mesmo período.
Além dos custos relativamente elevados para as pequenas fundações,
também o aumento da competição no mercado está levando às
mudanças. Muitas patrocinadoras, pressionadas pelo ambiente
competitivo, passaram a concentrar seus esforços na administração do
próprio negócio, cortando pessoal de várias áreas. “Esses processos de
enxugamento de pessoal acabaram reduzindo ainda mais os fluxos de
recursos para os fundos de pensão”, diz Pereira.

Enxugamento – A Previhenkel, antes de seu fechamento, em novembro do
ano passado, já vinha enfrentando o problema dos altos custos
administrativos decorrente de um elevado número de desligamentos de
participantes. “A dificuldade começou em 91, após o desmembramento de
uma parte da patrocinadora que se tornou uma empresa independente, e
foi agravada nos anos seguintes pela implantação de um processo de
enxugamento de pessoal”, afirma Joel Contente da Silva Jr., gerente de
recursos humanos da Henkel.
Após o fechamento do fundo, a Henkel ofereceu aos participantes as
alternativas de resgate dos recursos ou ingresso em planos individuais de
previdência aberta. Houve migração de uma parcela minoritária para as
entidades abertas, pois a maioria optou pelo saque. Cerca de 15% dos
participantes da Previhenkel decidiram transferir os recursos para planos
abertos. Como a migração concentrou-se nos funcionários com maior
tempo de contribuição, foram transferidos aproximadamente 40% do
patrimônio, o que representa um total de R$ 4 milhões.
A empresa fez uma pesquisa de mercado e negociou as melhores
condições em termos de taxas de administração e de retorno com os
fundos abertos. Os escolhidos foram a Prever e o Bradesco. Atualmente,
os ex-participantes da Previhenkel possuem planos de caráter individual,
nos quais a única função da empresa é arrecadar as contribuições do
funcionário direto na folha de pagamento. A multinacional está estudando
a criação de um novo plano de previdência, que pode ser do tipo
empresarial, com uma entidade aberta ou em um fundo multipatrocinado.

Rigidez – No caso da fundação Josaprev, patrocinada por quatro empresas
entre as quais a Real de Distribuição, além dos altos custos
administrativos também a rigidez do sistema influiu na decisão de
encerramento das atividades. Segundo Renato Souza Rodrigues, analista
financeiro da Real de Distribuição e ex-diretor da Josaprev, a empresa
sentia-se como dentro de uma camisa de força, no que se refere aos
investimentos e prestação de contas à SPC.
A fundação, com um patrimônio de R$ 3,8 milhões, está entrando neste
mês de junho com pedido de encerramento junto à Secretaria de
Previdência Complementar. A Companhia Real de Distribuição, que
emprega 3.800 dos 4.500 participantes da fundação, tem a intenção de
oferecer a eles, após a autorização do órgão estatal, um plano
empresarial aberto, enquanto as outras três patrocinadoras (Josapar,
Granja 4 Irmãos e Real Empreendimentos) devem buscar algum plano
multipatrocinado de mercado. A Real de distribuição espera alcançar uma
economia de cerca de 40% com a mudança para uma entidade
aberta. “Após realizar uma comparação de custos, percebemos que no
nosso caso seria mais vantajoso entrar em uma entidade aberta”, diz
Rodrigues.
Para o Grupo Predileto, que também está com um pedido de
encerramento das atividades da fundação Pena Branca na SPC, a principal
dificuldade é a manutenção de um quadro profissional especializado para
cuidar da fundação. O fundo de pensão da empresa, que possui 450
participantes, paralisou a arrecadação de contribuições em outubro do ano
passado e só aguarda autorização da SPC para fechar as portas. “Apesar
da terceirização do ativo e do passivo, ainda assim, o fundo de pensão
exige esforços demasiados, que acabam desviando o foco de atuação da
empresa”, explica Diogo Lopes, gerente de recursos humanos do Predileto
Alimentos.