Produtor lança novos fundos para cinema

Edição 27

A partir de março desse ano, os investidores interessados em diversificar
suas carteiras com papéis do setor cinematográfico, devem contar com
novos tipos de fundos

A partir de março desse ano, os investidores interessados em diversificar
suas carteiras com papéis do setor cinematográfico, devem contar com
novos tipos de fundos. O produtor Renato Bulcão está acertando com dois
bancos, cujos nomes ele não quer revelar, os detalhes finais da
formatação de dois fundos de investimentos, que irão financiar produções
para o cinema.
Segundo Bulcão, a indústria cinematográfica americana apresentou, no
ano passado, um lucro líquido de 8%. No Brasil, por tratar-se de um
mercado novo, a expectativa de rentabilidade é maior. “O cinema nacional
está se desenvolvendo, as redes de TV a cabo também, e tudo isso faz
do Brasil um mercado de grande potencial”, analisa Renato.
Para Renato Bulcão, o cinema nacional já está maduro para começar a
andar sozinho, sem as muletas dos incentivos fiscais da lei do
audiovisual. “Vamos mostrar, com os fundos de investimento em
entretenimento, que o cinema é um bom negócio”. Dos dois fundos que
ele está formatando, um é aberto e o outro fechado, sendo que o
primeiro terá entre 80% e 85% em renda fixa e o restante em produções
audiovisuais. O segundo, com prazo mínimo de resgate de dois anos,
aplicará apenas nesses projetos. “O fundo fechado será integralizado com
títulos de renda fixa, que serão vendidos à medida em que comecem a
aparecer projetos interessantes para investir”, explica Renato.
Os fundos de investimento em entretenimento ja existem na Europa e
Estados Unidos há muitos anos. No Brasil, foram aprovados pela CVM em
1992. Suas carteiras de investimentos podem incluir desde produções de
alto risco até produções pré-vendidas, nas quais as redes de TV ou
cinema se comprometem a comprá-lo depois de pronto. “Nos EUA,
existem fundos bilionários que investem no máximo 1% de seu
patrimônio num único filme. É como se furassem poços para encontrar
petróleo: muitos estão secos, outros têm um pouco e alguns superam
todas as expectativas”, ilustra.
Uma das boas possibilidades para a indústria cinematográfica no exterior
foi aberta pela lei de reconversão da dívida externa, que permite aos
compradores estrangeiros de filmes brasileiros pagarem a fatura com
títulos da dívida externa nacional, comprados com deságio e entregues
pelo valor de face. O produtor nacional, de posse desses títulos, converte-
os pelo valor nominal. Segundo o primeiro-secretário do Sindicato da
Indústria Cinematográfica, Leonardo Monteiro de Barros, o objetivo do
governo brasileiro, ao conceber a lei da reconversão, era reduzir o seu
déficit de US$ 650 milhões na balança de pagamentos no item audiovisual.
No ano passado, as exportações brasileiras de audiovisual somaram
apenas US$ 38 milhões – sendo US$ 35 milhões em novelas da Globo. Do
outro lado da balança estão as remessas de royalties de filiais de
multinacionais de entretenimento, compra de programação estrangeira e
pagamento de direitos sobre sinais de Tvs a cabo.

Incentivo – Mas, para Barros, essa situação deve começar a mudar esse
ano. “Esperamos chegar a US$ 100 milhões em exportação de produtos
audiovisuais nos próximos anos”. Ele aposta no incentivo fiscal para
aproveitar esse mercado. Está trabalhando em um fundo cuja carteira seja
composta de Certificados de Investimento Audiovisual, instrumento criado
pela lei do audiovisual, aprovada no final de 1993.
Essa lei permite às empresas abater 100% dos investimentos em filmes,
desde que não ultrapasse 3% do seu IR. Além disso, os certificados
oferecem ainda uma participação nos lucros do filme, da qual sairia o lucro
dos investidores do fundo. O Quatrilho, o primeiro filme financiado com
esses certificados, já deu um retorno de 65% desde o seu lançamento,
em 1994.
A viabilização do fundo do Sindicato depende, entretanto, de algumas
mudanças na lei do audiovisual, explica Barros. Pela lei, o investimento no
Certificado só pode ser feito via compra direta. Segundo ele, esse tipo de
fundos permitirá a ampliação da base de investidores nesse mercado.
Segundo Barros, o número de investidores tem crescido progressivamente
desde 94, e as perspectivas para 98 são boas. “O que esperamos é um
aumento da base de investidores. Hoje, cerca de 700 empresas investem
em filmes, e acreditamos que esse ano serão 1.500”.
Já quanto ao volume de investimentos, as perspectivas não são muito
otimistas. A crise da Ásia deu um susto no final do ano e prejudicou a
captação, que normalmente apresenta um movimento mais forte em
dezembro. ”Ainda não temos os dados fechados mas estimamos que a
captação de 97 deve repetir os resultados de 96, quando alcançou R$ 52
milhões”.
A longo prazo, o desafio para os produtores é conseguir caminhar com as
próprias pernas até o ano 2.003. É a data prevista para o fim da lei do
audiovisual, que viabilizou a maioria dos filmes produzidos a partir de
1994.