Edição 25
Os títulos de renda fixa estão em alta junto aos fundos de pensão
Os títulos de renda fixa estão em alta junto aos fundos de pensão. Depois
de um longo período no qual as fundações estavam evitando a compra
direta desses papéis, substituindo-os por fundos de investimento (que
não pagam CPMF a cada operação), eles voltaram à moda. Agora, as
fundações estão preferindo diretamente os papéis, porque a rentabilidade
que oferecem permite compensar o CPMF.
Os fundos de renda fixa, que carregam títulos do passado com taxas de
juros mais caixas que as atuais, acabam com isso comprometendo sua
rentabilidade atual. Eles não são capazes de aproveitar ao máximo as
altas taxas de juros pagas pelos títulos pré-fixados de longo prazo,
públicos e privados, que as fundações estão considerando o melhor
investimento do momento.
“Já que a única vantagem dos fundos é o CPMF, para quê vamos ficar
pegando taxa de administração, se só vamos resgatar esses títulos lá na
frente?”, pergunta José Domingos, diretor financeiro da Forluz. Ele avalia
que as taxas pagas pelos títulos compensam o pagamento do CPMF, o
que joga por terra o principal atrativo dos fundos de investimento.
Segundo Domingos, sobretudo os fundos mútuos deixam de ser
interessantes nesse momento., Por terem necessidade de liquidez no
prazo de resgate, em geral de 60 dias, eles estariam impossibilitados de
colocar títulos de longo prazo em sua carteira, deixando então de ganhar
no futuro, se as taxas de juros caírem logo.
“Nós temos fundos mútuos e exclusivos, mas daqui para frente, com os
novos recursos que estão entrando, nós mesmos vamos comprar pré-
fixados de seis meses para aproveitar as altas taxas que estão pagando”,
conclui.
Também o Instituto Aerus resolveu atuar por conta própria no mercado de
renda fixa, e já comprou US$ 50 milhões em títulos pré-fixados de seis
meses, conta José Alberto Teixeira, diretor financeiro da entidade. “Antes,
não comprávamos títulos pré-fixados, porque teríamos que pagar CPMF a
cada renovação. Agora, por terem prazos mais longos, esses títulos
ficaram viáveis pra nós”, diz.
Sem resgates – Segundo ele, a compra direta nesse momento é a melhor
opção. “Alguns fundos com certeza ainda têm em sua carteira títulos
antigos, com juros menores, e podem ainda ter sua performance
prejudicada, mesmo que por pouco tempo”, explica. Apesar disso, o Aerus
não fez nenhum resgate nos seus fundos exclusivos, que respondem pela
maior parte dos seus investimentos em renda fixa. “Não sacamos porque
seríamos penalizados pelo CPMF”.
Mas, para quem decidiu montar um fundo exclusivo agora, essa pode ser
uma boa alternativa. “Estamos partindo para fundos exclusivos, para tirar
o máximo proveito das altas taxas dos títulos pré-fixados de longo prazo,
públicos e privados, com a vantagem do CPMF”, conta Wilson Barcellos,
operador de renda fixa do Real Grandeza.
Entretanto, por ora, a fundação vai priorizar os investimentos nesse fundo,
em detrimento dos fundos mútuos, nos quais chegou a ter quase 100%
de sua carteira de renda fixa. “No fundo exclusivo não estamos presos
aos prazos de resgate e temos mais liberdade para fazer o que a gente
quer. Nós vamos escolher o que queremos colocar na carteira”,
complemente.
Para Álvaro Andrade, assessor da diretoria financeira da Regius, fundação
do BRB, as fundações têm que tomar muito cuidado na hora de analisar
os CDBs e RDBs de longo prazo, algumas poderiam se empolgar comas
taxas oferecidas por alguns papéis de má qualidade, deixando de analisar
bem o seu risco. Segundo ele, muitas instituições financeiras ficaram
abaladas com a crise. “Os tomadores que oferecem pouco risco e mesmo
o governo já estão encurtando o prazo de vencimento”, alerta.
Na verdade, por trás dessa estratégia das fundações, pode estar também
o desejo de retomar o controle de suas aplicações daqui em diante. Assim
como o Real Grandeza, a fundação Copel também quer decidir o que
colocar na carteira do fundo exclusivo, e para tanto está reformatando um
dos fundos que já tinha.
Fundo gaveta – “Fizemos um acordo comum de nossos administradores
no qual nós mesmos vamos fazer a aplicação e o fundo apenas liquida,
assim podemos fugir do CPMF. É uma experiência que pretendemos
fazer”, conta o diretor financeiro Cláudio Tostatos. Antes, assim como na
maioria dos fundos exclusivos, quem escolhia a carteira era esse
administrador, cujo nome não foi revelado.
No caso da Centrus, o fato de não participar de nenhum fundo, nem
exclusivo nem mútuo, acabou jogando a favor da fundação, que por esse
motivo não sofreu perdas em sua carteira de renda fixa. “Nossa carteira é
composta basicamente por debêntures, RDBs e CDBs de longo prazo,
indexados pela TR ou Anbid e mais alguma coisa, e por isso
acompanhamos a subida dos juros”, comemora Flávio Roberto de
Carvalho, diretor financeiro da fundação.
Ele ressalta que não é contra a participação das fundações em fundos,
mas como a Centrus já tinha como estratégia a compra de papéis de
longo prazo, acabou descartando esse tipo de aplicação. “Os fundos não
comportam esse tipo de aplicação, conclui”.