Edição 195
Investidores munidos de recursos e bom-senso podem aproveitar a falta
de liquidez para fazer boas compras
Em meio à crise de crédito iniciada há pouco mais de um ano nos Estados
Unidos, a falta de liquidez em muitos segmentos de mercado pode gerar
oportunidades de longo prazo para gestores de recursos que estejam
dispostos a garimpá-las entre a montanha de investimentos depreciados.
Com a escassez de dinheiro rondando as principais empresas de Wall
Street, especuladores pensam duas vezes sobre os custos de
alavancagem e investidores tradicionais fogem dos riscos; como
conseqüência, a liquidez vem encolhendo nos mercados de crédito,
levando a spreads mais amplos e conduzindo os preços dos papéis a
níveis de verdadeiras barganhas. Os spreads pagos em dívidas de alto
rendimento subiram 175 pontos-base desde maio, para 812 pontos-base,
o equivalente a mais de três vezes o menor nível de todos os tempos, de
214 pontos-base, verificado em junho de 2007, segundo o índice High-
Yield Master da Merrill Lynch & Co.
A falta de liquidez cria um ambiente desfavorável para quem precisa sair
do mercado com pressa, mas também proporciona potenciais
recompensas para aqueles que estão munidos de dinheiro, paciência e
bom-senso para realizar análises fundamentalistas. “O dinheiro é rei
neste mercado. Mas você tem de estar disposto a gastá-lo quando
detectar as oportunidades”, disse Zane Brown, proprietário e estrategista
de renda fixa na Lord Abbett & Co. Ele ressaltou ainda a importância do
conhecimento de alguns fundamentos quando se parte em busca de
barganhas. Brown cita como exemplo sua própria companhia, que conta
com US$ 100 bilhões em ativos sob gestão e, recentemente, comprou
papéis de dívida municipal com um bom desconto porque o detentor
anterior dos títulos de alta qualidade precisava levantar recursos
rapidamente para participar de uma nova emissão. Ele comenta que
algumas partes do mercado de crédito, atualmente machucado pela
carência de liquidez, envolvem altos spreads que parecerão bastante
recompensadores quando a tempestade financeira terminar.
Um bom indicador para o mercado de títulos de dívida é o apetite dos
investidores por novas emissões. Este ano, até o dia 8 de agosto, as
emissões norte-americanas de bonds corporativos de alto rendimento
despencaram 61% na comparação com o mesmo período de 2007, para
US$ 35,8 bilhões, enquanto as emissões de bonds com investment grade
tiveram queda de 15%, para US$ 457 bilhões, de acordo com
levantamento da consultoria Dealogic. O volume de novos títulos
lastreados em recebíveis (asset-backed securities – ABS) caiu 79%, para
US$ 123,1 bilhões. Já as emissões de papéis com recebíveis ligados a
hipotecas foram atingidas em cheio pelo aprofundamento da crise
imobiliária – sendo que as operações com papéis ligados a hipotecas
comerciais declinaram 97%, para US$ 5,2 bilhões, ao passo que os títulos
de hipotecas residenciais caíram 77%, para US$ 126,9 bilhões.
Impactos da liquidez – A liquidez – ou a falta dela – é um importante fator
que influencia no spread entre os preços de compra e venda para os
mercados de bonds municipais, governamentais ou corporativos, de
acordo com o estudo “Liquidity in U.S. Fixed-Income Markets”, de autoria
do professor de finanças Sugato Chakravarty. “Ela importa simplesmente
porque uma melhor liquidez implica em um menor custo de negociação”,
explicou Chakravarty.
O sentimento dos participantes do mercado é de que, conforme as
notícias negativas forem acabando e os investidores não ficarem mais
esperando um novo esqueleto aparecer no armário, a liquidez voltará e
recompensará aqueles que retornaram antecipadamente ao mercado que
estava desamparado. “A liquidez é a causa e o efeito das decisões que os
gestores tomam. A relativa ausência de liquidez é uma das razões pelas
quais grande parte dos participantes do mercado está mais receosa, e
essa é uma das razões pelas quais a liquidez diminuiu”, disse Ty
Anderson, chefe global da área de estratégia para títulos de alto retorno
na DB Advisors.
Mas alguns mercados estão, de longe, muito melhores do que outros
quando se fala em liquidez. “Agora, o mercado de papéis conversíveis
está mais líquido do que o de títulos de alto rendimento. Este é um dos
poucos mercados que permanecem abertos hoje em dia”, afirmou Tracy
Maitland, presidente da Advent Capital Management LLC, que tem US$ 4,2
bilhões em ativos sob gestão. Maitland aponta as oportunidades de
mercado, citando o retorno de -7,18% obtido pelo índice Merrill Lynch All
Convertibles nos primeiros sete meses de 2008 contra o rendimento
negativo em 12,65% registrado pelo índice S&P 500.