Edição 18
A Força Sindical vai apresentar em seu congresso nacional, proposta para
a criação de quatro fundos de investimentos com recursos dos
trabalhadores
A Força Sindical vai apresentar em seu congresso nacional, que ocorrerá
nos dias 6 e 7 de agosto, em São Paulo, proposta para a criação de
quatro fundos de investimentos com recursos dos trabalhadores. A
entidade contratou a RC Consultores, do economista Paulo Rabello de
Castro, que será a responsável pela formatação dos produtos e pelo
aconselhamento na gestão dos recursos.
Segundo o presidente da Força Sindical, Luís Antônio de Medeiros, a
intenção é criar na mente do trabalhador brasileiro um espírito poupador,
preparando-o para a etapa seguinte, das aposentadorias pagas
exclusivamente por fundos de pensão. A Força Sindical congrega hoje 800
sindicatos com, aproximadamente, 11 milhões de filiados. A exemplo do
Sindicato do Bancários de
São Paulo (ver Investidor Institucional nº 16), a Força também quer
alterações na legislação dos fundos, para que eles também possam ser
patrocinados por sindicatos.
Conforme Paulo Rabello de Castro, os produtos estão sendo chamados de
Clube de Investimento do Trabalhador (CIT) e, em princípio, serão
configurados em três modalidades e administrados por três bancos de
investimentos distintos. O primeiro desses CIT a ser oferecido ao
mercado, através da rede do banco escolhido para administrá-lo e dos
sindicatos filiados à Força, já está quase pronto e terá um perfil
conservador para garantir uma rentabilidade acima da poupança mas sem
risco. O objetivo é captar R$ 50 milhões num primeiro momento.
Nem Rabello nem Medeiros revelam os nomes dos bancos com os quais a
Força Sindical está negociando o lançamentos dos CIT. Sobre o banco que
fará o lançamento do primeiro produto, adianta: “é um banco de
abrangência nacional, com mais de 150 fundos em sua carteira”.
Caso esse primeiro produto conquiste a confiança dos trabalhadores, que
tanto poderão ser filiados à Força como à qualquer outra representação
sindical, a entidade vai oferecer o segundo produto. “Já existe proposta
de um administrador internacional, que terá a missão de pensar em um
tipo de aplicação com ênfase global, diferente do Fundo de Investimentos
no Exterior”, diz Rabello.
Segundo ele, como o Brasil está se abrindo ao mundo através da redução
das tarifas comerciais, o trabalhador-investidor poderia optar por um
produto que não o obrigue apenas a aplicar em fundos de títulos públicos
do país no exterior, como é o caso do FIEX. “É mais do que legítimo o
brasileiro ter a possibilidade de proteger o seu pecúlio com aplicações
globais, sem estar restrito às modalidades de investimento existentes no
país”, explica. Esse segundo CIT, de acordo com o economista, deverá ter
um perfil de risco intermediário, pois precisará estar alavancado em
moedas estrangeiras.
Bolsas – A terceira etapa do processo de consolidação do CIT será a
criação de um fundo de pecúlio com aplicações em ações de empresas
brasileiras listadas nas bolsas de valores. No entanto, para chegar nesse
nível, Rabello entende que o trabalhador já deverá estar habituado a uma
poupança de longo prazo. Esse clube de investimentos, assim como os
anteriores, deverá ter uma carência mínima para o resgate das
cotas. “Para o fundo de ações a carência será bem maior do que as
exigidas para os outros, e ele terá uma volatilidade maior no curto prazo”,
diz.
A Força Sindical espera que, com esses três produtos, os trabalhadores
possam ganhar força para participar das privatizações em curso no país.
Luís Antônio de Medeiros quer ver aprovada pelo governo a proposta do
ministro do Planejamento, Antônio Kandir, de transformar o débito que a
União tem com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em
moedas de privatização, idéia da lavra de Rabello de Castro.
O sindicalista, que acredita que os CIT são o embrião de uma nova
modalidade de fundos de pensão, aposta que eles se tornarão em pouco
tempo uma importante alavanca de desenvolvimento econômico
popular. “No futuro, a previdência será regida apenas pelos fundos de
pensão, por isso vamos funcionar como um animador desse processo”,
explica.
Para chegar a tal estágio, a Força Sindical deverá convencer seus filiados
de que não haverá ingerências na administração do dinheiro aplicado por
eles. Rabello de Castro explica que na formatação do estatuto desses
quatro CIT haverá uma diferença: “será introduzido uma cláusula que
obrigará a formação de um conselho supervisor, que representará os
participantes junto ao banco para verificar os seus procedimentos de
prudência e as metas de rentabilidade especificadas para o fundo”, diz.
Esse conselho terá como presidente um membro da Força Sindical e,
segundo Rabello, servirá de ponte entre os trabalhadores e os
administradores dos recursos. Não está previsto, por enquanto, nenhuma
remuneração para esses conselho e nem para a entidade, que segundo
Rabello, trabalha mais no lado político no sentido de incentivar e preservar
os direitos dos trabalhadores.
No estatuto, também deverá estar previsto a forma como as aplicações
serão realizadas. Segundo Rabello, se o trabalhador tiver todas as
informações necessárias ele é quem irá modular o seu plano e, para isso,
a intenção é ampliar o leque de opções para que ele escolha um ou vários
fundos, de acordo com o seu grau de agressividade ou conservadorismo.
Para planejar o marketing inicial ele não descarta a possibilidade de
serem criados sorteios, como os existentes nos planos de
capitalização: “pode haver um apelo dessa natureza”, calcula. “Mas, o
mais importante é fazer com que eles entendam que precisam se
autoproteger, deixando de lado o pensamento de que o governo é o deus
providenciador do seu futuro”, alerta.