Cenário externo deve ajudar, mais uma vez

Edição 176

Robert Van Dijk – diretor-superintendente da Bram – Bradesco Asset
Management

Mundo – As perspectivas para o ano de 2007 são no geral positivas. Nos
Estados Unidos, a recomposição de renda derivada do fortalecimento do
mercado de trabalho e do recuo dos preços da energia dará suporte para
os gastos de consumo, compensando parte dos efeitos negativos gerados
pela contração do setor de construção civil e de produção de veículos. A
economia norte-americana deve seguir em desaceleração moderada até
meados do ano quando voltará a ganhar fôlego, a medida que o ajuste
no setor imobiliário tenha se esgotado. A inflação norte-americana tende
a perder fôlego em decorrência da menor utilização de capacidade
instalada, reduzindo as incertezas em torno dos futuros movimentos da
política monetária praticada pelo FED (Federal Reserve – o banco central
dos Estados Unidos). A Ásia deve manter um ritmo firme de expansão. No
Japão, investimentos em alta e o crescimento dos gastos das famílias
farão a economia consolidar um ciclo de reaquecimento que se esboça há
quase um ano. O dilema na China continuará sendo excesso de
crescimento e não falta dele. A Europa tem demonstrado um vigor até a
pouco desconhecido. O crescimento da zona do Euro deve se ressentir do
aperto monetário em curso e da necessidade de fazer ajuste fiscal nas
principais economias, mas a recomposição da confiança do consumidor e
do empresariado e a expansão dos gastos de investimento atuarão como
importante contrapeso, definindo um limite à desaceleração a ser
observada. Trata-se de um cenário de expansão ainda que a taxas mais
moderadas, como aliás convém à necessidade de reduzir a distância entre
o ritmo dos últimos anos e o crescimento potencial sustentável no longo
prazo.

O Brasil – O Brasil se beneficiará novamente deste cenário. As nossas
exportações devem mais uma vez registrar elevação, ainda que em ritmo
mais modesto do que o que prevaleceu nos anos recentes. Os indicadores
de solvência externa seguirão se fortalecendo. Não faltará liquidez para
que as necessidades brasileiras em moeda forte sejam financiadas,
mesmo ante a possibilidade das importações crescerem mais
agressivamente. É bastante razoável trabalhar com a possibilidade das
reservas internacionais crescerem além do nível atual recorde de US$ 83,5
bilhões e conseqüentemente prever que o ambiente é amigável para que
a moeda brasileira siga apreciada. O consumo doméstico se manterá na
trajetória ascendente em resposta à recomposição da renda, à expansão
do crédito, à consolidação dos patamares elevados de confiança e em
especial, refletindo os efeitos dos cortes de juros. As expectativas de
inflação ganharam ancoragem mais robusta depois de quatro anos
consecutivos de desinflação e três anos recorrentes em que a meta de
inflação foi cumprida. Estamos falando de um ambiente onde o balanço
de riscos ainda é favorável para que o COPOM (Comitê de Política
Monetária) adote cortes adicionais da SELIC. Há que se considerar no
entanto, que desde setembro de 2005, quando deu-se o início da
distenção da política monetária, os juros básicos sofreram redução de 650
pontos base, e hoje a SELIC de 13,25% corresponde ao menor patamar
de juros nominais de todo o período pós hiperinflação. Os cortes de juros
daqui para frente tendem a se dar em ritmo mais lento e terão magnitude
mais modesta do que o que já foi posto em prática. O Banco Central
recorrentemente cita nas atas o fato da SELIC estar cada vez mais
próxima do patamar de equilíbrio de longo prazo, o que requer maior
parcimônia nos ajustes a serem feitos.

Os investimentos – Nesse contexto, os ganhos financeiros deverão ser
perseguidos em operações distintas das que convinham a um cenário de
juros que foram reduzidos a partir de um patamar elevado. Assim como
nos países de economia mais avançada, prevalece a tendência da
rentabilidade das aplicações em juros perderem competitividade. Os
ganhos virão de posições onde a exposição ao risco é maior. Tanto risco
de crédito quanto de mercado. Trata-se de uma nova realidade que
impõem maior sofisticação aos produtos financeiros. Tendem a ganhar
espaço as aplicações estruturadas construídas com posições em mercados
diversos. Nos tempos que virão, a agilidade será ainda mais vital, assim
como informação e pesquisa capazes de traçar cenários com acuidade
para se fazer a adequada alocação dos ativos e identificar eventuais
mudanças de tendências, que se constituirão peça-chave para a decisão
de rebalancear a composição dos portfólios.

Os riscos – Em âmbito externo, é bom lembrar que o próprio FED frisa que
há riscos da inflação não convergir no tempo adequado para patamares
considerados compatíveis com a estabilidade intertemporal dos preços. No
Brasil, os indicadores de investimento ainda não consolidaram uma
tendência firme de recuperação a passos sincronizados com a perspectiva
de expansão futura da demanda. São riscos que devem gerar volatilidade.
É exatamente por isso que mesmo ante à perspectiva de que os juros
rumarão para patamares menores, aplicações conservadoras sempre
deverão participar com um percentual do patrimônio. Devemos lembrar
ainda que também conta para a boa definição da composição do portfólio,
a estrutura do passivo do detentor do recurso bem como a destinação
futura que ele pretende dar ao dinheiro que hoje está aplicado.