Como é que se fala?

Edição 173

Há sete anos eles tinham que ensinar os clientes a pronunciar o nome da
marca, mas isso é passado. Hoje a asset administra R$ 2,43 bilhões, dos
quais mais da metade são de fundações

Chô o quê? Essa pergunta era freqüente, mesmo entre as grandes
fundações, quando o pessoal da Schroders começou a visitá-las há cerca
de sete anos para oferecer gestão em renda variável. Completamente
desconhecida por aqui naquela época, mesmo assim a asset inglesa
conseguiu de alguns fundos de pensão mandatos que somaram R$ 10
milhões ao final do seu primeiro ano no Brasil, em 1999. “A vida de uma
asset, no começo, é sempre muito dura”, lembra o diretor comercial da
Schroders Brasil, Adriano Koelle. “A gente tinha, antes de apresentar
nossos produtos, que ensinar a pronunciar o nosso nome”.
Esses tempos mais difíceis parecem ter ficado para trás. Hoje a asset
administra um portfólio de R$ 2,43 bilhões, sendo 65% provenientes de
institucionais locais, 19% de institucionais estrangeiros e 16% da área de
private e varejo. Do total, 92% são mandatos para fundos de renda
variável e 8% para multimercados. Mas, para Koelle, os próximos anos
devem ser ainda melhores, pois a economia brasileira está entrando em
um novo período de juros reais abaixo de 10% ao ano, o que levará o
mercado de investimentos a buscar rentabilidade através de aplicações de
maior risco.
Essa é a especialidade da Schroders. A asset começou a administrar
recursos de terceiros na Inglaterra, em 1922, focada em renda variável.
Hoje ela conta com operações em 12 cidades espalhadas pelo mundo,
incluindo os centros de investimento de Londres, Nova York e Singapura,
administrando recursos de US$ 230 bilhões. Desse total, 70% são
mandatos para ações, 18% para money market e 12% para outros
investimentos, como a área de fundos imobiliários. É o que se chama de
asset especialista, uma área que está em franco crescimento no Brasil.
Nos últimos anos, várias assets foram criadas por aqui com esse foco de
especialização. A maioria voltou-se para montar fundos multimercados
enquanto outras especializaram-se em administrar fundos e carteiras de
ações. É com elas, em grande parte, que a Schroders deve disputar esse
mercado de especialistas daqui para a frente.
Além dessas assets independentes, a única concorrente de peso para a
Schroders é a Legg Mason. Essa empresa norte-americana comprou as
operações do Citicorp no mundo todo no ano passado, tornando-se a
maior gestora de recursos de renda variável do planeta. Porém, ao
assumir as operações do Citi no Brasil, o mercado esperava dela uma
ação mais agressiva na disputa pelos clientes, mas segundo Koelle isso
ainda não aconteceu. “Eles estão surpreendentemente quietos”, diz. “Mas
não acho que continuarão assim, acho que a disputa tende a se tornar
mais acirrada daqui para a frente”.
Do total de recursos administrados pela Schroders no Brasil, pouco mais
de R$ 1,5 bilhão são de fundos de pensão. São 58 fundações que
entregaram mandatos à asset inglesa, basicamente na área de renda
variável. A asset quer dobrar esses números em dois anos, passando para
R$ 3 bilhões em recursos de fundações, com cerca de 120 clientes.
Segundo Koelle, essa é uma meta bastante razoável quando se traça a
perspectiva de aplicações em renda variável das fundações nos próximos
anos.
O total que as fundações alocam hoje em renda variável é muito baixo.
Na média, representam cerca de 15% das carteiras, excluindo desse
cálculo a Previ e as participações estratégicas que algumas detém. Há
muito espaço para crescer, uma vez que nos Estados Unidos e países
europeus essa média é superior a 50% na médias das carteiras. “Vamos
caminhar nessa direção”, diz Koelle.
Mas, no mapa de projeções de crescimento da empresa, não são os
institucionais que estão em primeiro lugar. Na verdade, a asset está
vendo perspectivas ainda mais atraentes em outras áreas, como a
previdência aberta, os regimes próprios e as redes de distribuição de
outros bancos. Na opinião de Koelle, embora haja uma tendência de
migração da renda fixa para a renda variável entre os fundos de pensão,
o número de participantes desse sistema não deve crescer
significativamente nos próximos anos. As grandes estatais não crescem
em números de funcionários, novas estatais não devem ser criadas e as
empresas privadas que estão criando planos de previdência estão
preferindo os planos abertos, diz.
“Acho que os fundos de pensão entram num período de crescimento
vegetativo”, avalia Koelle. Segundo ele, as perspectivas para os regimes
próprios municipais e estaduais são diferentes, são de crescimento, pois
esses planos estão sendo estruturados agora e a maioria está começando
a se capitalizar. No caso das empresas, por causa da flexibilidade da
previdência aberta, a maioria dos novos planos que estão sendo criados
são abertos, avalia.
A Schroders já possui um fundo adequado à lei nº 3.244, que regula os
investimentos dos regimes próprios, e pretende lançar um novo fundo de
ações específico para esse público. Na área de previdência aberta, a asset
está buscando as empresas independentes que operam planos abertos,
como Icatu Hartford, MetLife e Mafre, entre outras, para oferecer gestão
de renda variável. “Vamos brigar para fazer gestão para essas empresas”,
diz.
Mas é na área de varejo que a Schroders está vendo as maiores
perspectivas. A empresa quer oferecer seus fundos ao público através da
rede dos grandes bancos, como já acontece nos Estados Unidos e
Europa. “Apostamos na arquitetura aberta dos bancos, para distribuir os
nossos fundos”, diz Koelle.
Segundo ele, o mercado tem evoluído bastante nos últimos anos e já
permite essa estrutura de distribuição. Os bancos, que não são
especialistas, vão querer ter em sua prateleira produtos de assets
especialistas para oferecer aos seus clientes. Quem não tiver, verá o
cliente ir buscar o fundo de uma especialista no concorrente, avalia
Koelle. “Nossos fundos já se encontram junto aos private, agora queremos
colocá-los junto ao varejo”.
A Schroders está preparando o lançamento de dois novos fundos, um long-
short e um de ações de longo prazo. O desenho do primeiro ainda está
sendo aprovado pela matriz da empresa, em Londres, enquanto o
segundo já está na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Precisamos
de produtos novos para atender as demandas que vão se criar a partir da
queda da taxa de juros”, diz o diretor de gestão da asset, Beto Scretas.
O fundo de ações de longo prazo terá no máximo 10 papéis, voltados
para “achar valor onde quer que ele se encontre”. Sem benchmark, vai
operar sem alavancagem e terá uma carência de 30 dias para resgate.
Sua meta é chegar a R$ 200 milhões em dois anos.
O long-short ainda depende da aprovação da matriz, em Londres. Mas a
Schroders já está buscando um gestor para operá-lo. “Terá que ser uma
pessoa especializada, não dá para colocar uma pessoa de renda variável
para operar um long-short”, diz Scretas. Segundo ele, a estrutura da
Schroders favorece a operação desse tipo de fundo, uma vez que na hora
de casar duas posições, alugando numa ponta e vendendo na outra, o
gestor pode usar o estoque de papéis da própria asset. “Não corremos o
risco de querer tomar uma posição e ficar sem conseguir, pois alugamos
do nosso próprio estoque”, diz.
Segundo Scretas, uma das próximas discussões a se abrir junto aos
fundos de pensão é em relação a investimentos brasileiros no exterior. A
queda das taxas de juros, aliada a uma confortável situação do balanço
de pagamentos, pode abrir essa discussão. “Apostamos que essa
discussão começa logo”, diz.
Outra aposta da asset é na continuidade do processo de abertura de
capital das empresas brasileiras, neste segundo semestre. “Os IPOs (sigla
em inglês para oferta pública de ações) vão continuar neste segundo
semestre, todas no mínimo no nível 2 da Bovespa”.

Schroders no mundo
Ativos sob gestão – US$ 230 bilhões
Reino Unido – 44%
Europa – 23%
Asia – 22%
Américas* – 11%
*inclui Brasil