Edição 16
A indústria brasileira de fundos situa-se hoje entre as dez maiores do mundo, e está se internacionalizando
A indústria brasileira de fundos situa-se hoje entre as dez maiores do mundo, e está se internacionalizando. No final de abril último, o patrimônio dos fundos mútuos de investimento tocava nos R$ 132 bilhões, um crescimento espantoso de 187% em relação ao final de 1984, quando tinha R$ 46 bilhões. Os recursos dos fundos de pensão chegavam a R$ 77,7 bilhões no final de março (ver quadro na pág. 12), contra R$ 71,9 bilhões três meses antes.
Esse crescimento dos recursos institucionais tem despertado a cobiça de fulgurantes nomes da área de administração de recursos de terceiros no mundo todo. “Temos sido procurados por vários importantes player do mercado internacional, interessados em estabelecer negócios no Brasil”, afirma o vice-presidente senior de uma das mais renomadas empresas de análise de portfólios, a Barra Inc., Fernando Lifsic. Segundo ele, “ou são grandes instituições, ou são menores mas muito especializadas e conceituadas em gestão de recursos”.
Um informativo que a Lopes Filho, uma empresa de rating, distribuiu recentemente aos seus clientes, afirma que grande parte dos bancos brasileiros está hoje conversando com potenciais parceiros estrangeiros. “Depois da entrada do HSBC, quase todos os grandes bancos começaram a levar a sério a necessidade de buscar parcerias internacionais”, diz uma fonte do setor bancário.
A Fidelity Investment, a maior administradora de recursos dos Estados Unidos (ver quadro nesta página), anunciou há um mês sua disposição de operar no Brasil. Nos Estados Unidos, a empresa administra U$ 522 bilhões em recursos de terceiros. Segundo o diretor-executivo da empresa no Brasil, Randolph Clark, a empresa estaria conversando com bancos locais para, eventualmente, conseguir canais de distribuição para seus produtos. Ele não quis adiantar os nomes dos “dois ou três bancos com os quais estamos conversando no momento”.
Outro que anunciou que passa a operar no Brasil como administrador de recursos de terceiros, a partir de outubro, é o J.P. Morgan. Com quase trinta anos de casa (é o líder em fusões e aquisições na América Latina), visará os investidores institucionais. Em todo o mundo, o Morgan administra recursos em torno de US$ 213 bilhões. Os motivos que levaram o Morgan a tomar essa decisão são óbvios: com a inflação em baixa, as aplicações em títulos de renda fixa estão deixando de ser um bom investimento e os endinheirados começam a pensar em contratar um bom administrador que lhe ofereça melhores rentabilidades em fundos de ações.
Previdência – A briga por esse mercado deve ficar ainda mais forte com a definição das novas regras na área de previdência. Além do Fidelity e do Morgan, também a Prudential Securities e a Merryl Lynch (US$ 332 bilhões e US$ 196 bilhões em recursos administrados de terceiros, nos Estados Unidos) vão começar a oferecer os seus serviços aos investidores institucionais brasileiros.
A Alliance Capital Management, que administra US$ 182 bilhões em recursos de terceiros nos Estados Unidos, associou-se ao BCN e criaram no Brasil a BCN Alliance Capital Management. O presidente da nova empresa é o executivo Roberto Fonseca, que antes do lançamento oficial da empresa evitava dar qualquer declaração sobre seus objetivos. As administradoras inglêsas, Fleming e Hot Shields, também estariam à procura de sócios locais.
“Eles terão pela frente uma concorrência acirrada”, prevê Fábio Witaker Vidigal, do Banco Patrimônio, que tem 50% do seu capital nas mãos do Salomon Brothers. “Os clientes já estão maduros, com um nível de informação melhor do que há alguns anos e também existe muita gente competente atuando no mercado”, avisa. A parceria, Salomon/Patrimônio, começou em 1988 mas a consolidação da joint-venture ocorreu só em 1991. Em dezembro de 1994 começaram a administrar recursos de terceiros e, de lá para cá, já captaram US$ 1,6 bilhões, dos quais 40% com investidores institucionais.
Além da estabilização da moeda, das privatizações e da perspectiva de crescimento econômico, a cultura empresarial brasileira abre um leque de possibilidades a bancos e financeiras americanas e inglesas, afirma o diretor executivo do Itaú Bankers Trust (IBT), Roberto Nishikawa. “Essa proximidade de culturas faz com que o Brasil abra um porta enorme para futuros negócios”, diz.
O IBT, uma parceria entre o Itaú e o Bankers Trust, começou a operar em dezembro do ano passado, após seis meses de negociação entre os sócios. Hoje, administra US$ 270 milhões em recursos de terceiros.
Com 65 anos de vida, o Bankers tem escritórios em 55 países. Cerca de 90% dos recursos que administra no todo provêem dos investidores institucionais. No Brasil, o banco já conquistou a conta de, pelo menos 15 fundos de pensão. “Esse é o nosso foco”, diz Nishikawa, que não teme a concorrência. “Tem lugar para todos”, diz.