Softwares alerta para aplicações indesejadas

Edição 13

Qualquer vendedor de seguro de vida sabe que nada se compara a um
pouco de temor para aumentar as vendas

Qualquer vendedor de seguro de vida sabe que nada se compara a um
pouco de temor para aumentar as vendas, e isto também acontece com a
administração de fundos. “Pareceria estranho que um patrocinador de
plano de pensão baseado em Toledo, Ohio (EUA), reagisse ao que Nick
Leeson fez em Cingapura”, afirma James Darr, vice-presidente executivo
da State Street Bank & Trust Co., referindo-se ao operador trapaceiro que
destruiu a casa Barings, um caso que ganhou as manchetes dos
jornais. “Mas não é diferente do proprietário de imóvel que ouve falar de
um furto em uma cidade a 80 quilômetros de distância e chama a
empresa de segurança”.
Darr está explicando o esforço do State Street e de um punhado de outros
bancos de custódia, incluindo Northern Trust Co., Mellon Trust, Chase
Manhathan Bank e Bankers Trust Co., para comercializar uma série de
produtos que permitem aos patrocinadores de planos de pensão
monitorar o que está acontecendo em suas carteiras de investimentos,
informa reportagem da revista Institucional Investor, dos Estados Unidos.
Como consequência dos escândalos que envolveram a Baring’s, o
Condado Orange e os fundos de pensão Robert Maxwell, “durante os
últimos dois anos, as pessoas começaram a se focalizar na área de onde
estão vindo os riscos e querem mais controle sobre suas carteiras de
investimento”, afirma Kathleen Barchick, sócia sênior da Wilshire
Associates, firma de consultoria de Los Angeles.
O temor principal é que um gerente de investimento faça uma aposta
errada ou uma aposta não sancionada em um título exótico, que poderia
custar muito dinheiro ao patrocinador de plano.
Mas os executivos de fundos de pensão não estão preocupados apenas
com seus planos. Desde o caso Maxwell, os diretores de planos de pensão
e fideicomissos na Inglaterra são pessoalmente responsabilizados por
contas administradas inapropriadamente.
Apesar de que versões experimentais de programas de monitoramento de
carteiras começaram a surgir em fins de 1995, somente agora os bancos
de custódia estão sendo pressionados por clientes a acelerar sua
utilização.

Faça logo – Elisa Spain, vice-presidente sênior para desenvolvimento
estratégico de produtos da Northern Trust, observa: “Nossos clientes são
unânimes. Disseram-nos: ‘é a coisa mais importante em que estão
trabalhando. Faça-a e faça-a logo’ ”.
Até agora os patrocinadores de planos tiveram de folhear manualmente
os relatórios de negociação para se certificarem de que os gerentes de
seus investimentos estavam cumprindo suas diretrizes. O atraso e o tédio
frequentemente resultaram em monitoramento ineficaz. Agora, os
custodiantes estão se aproveitando dos avanços em software orientados a
objeto e em arquitetura de servidor para automatizar o trabalho e permitir
o policiamento em tempo real a partir da escrivaninha do cliente.
“Isso reduz a intensidade manual do processo de monitoramento”,
declara Marti Wein, vice-presidente de operações do Common Fund, que
supervisiona cerca de US$ 17 bilhões em 26 fundos de investimento. O
Common Fund, que sofreu perdas de US$ 137 milhões devido a
operações não autorizadas efetuadas por uma firma que administrava seu
programa de financiamento de títulos, foi um dos primeiros a adotar o
programa do Mellon.
Dependendo da urgência do patrocinador de plano, um custodiante pode
alertá-lo para as irregularidades na sua carteira de investimento por meio
de ícones que piscam na tela de seus computadores, por e-mail ou por
mensagens enviadas aos seus bips. “De uma maneira ou de outra, logo
que um investimento viole as diretrizes, a campainha toca”, assinala Alex
Over, diretor administrativo responsável pelo grupo mundial de produtos
de custódia do Bankers Trust.

Pecaminosas – As áreas que os patrocinadores de planos querem ver
monitoradas envolvem não apenas as questões legais ou
regulamentadoras, mas também as diretrizes de investimento que eles
impuseram aos seus gerentes. Por exemplo, os patrocinadores de planos
pedem aos seus bancos que vigiem as operações que são investimentos
proibidos, como os bônus Brady, “ações pecaminosas” (empresas de
cigarros, bebidas alcoólicas, jogo) e derivativos. Também procuram
rastrear níveis de caixa e distribuições de ativos.
Dependendo das necessidades do cliente, o Mellon acompanha de cinco a
300 parâmetros diferentes. Seus alarmes podem ser acionados se for
detectado que um gerente de carteira de grande porte está inflando os
retornos com a inclusão sorrateira de investimentos de pequeno porte na
carteira, afirma William Pryer, chefe dos serviços de investimentos do
Mellon, ou se um gerente de fundo de crescimento está acumulando
ações cujos índices de preços/lucros excederem o nível pré-estabelecido.
Em uma guinada irônica, os bancos de custódia afirmam que
provavelmente utilizarão esses programas para monitorar sua própria
condução dos investimentos de clientes. Afinal, a preocupação de hoje
com a administração de riscos é acionada, pelo menos parcialmente, por
prejuízos incorridos pelos programas de financiamento de títulos dos
custodiantes.
Brian Williams, gerente financeiro dos fundos de pensão da IBM Corp., na
Inglaterra, é o primeiro cliente local de monitoramento do Northern
Trust. “É uma proteção adicional, e o achamos bastante útil”, diz Williams,
que supervisiona US$ 4,4 bilhões em ativos de planos de pensão. Em fins
do ano passado, o fundo de pensão da IBM na Holanda também aderiu
ao serviço.
Até agora, várias dezenas de patrocinadores de planos ao redor do mundo
usam programa de um ou outro custodiante. O número seria maior,
segundo os bancos de custódia, se não estivessem controlando o acesso
e moldando o software de acordo com as necessidades específicas de
cada cliente. “Se esses serviços conseguirem fazer o que alegam para a
administração de riscos”, afirma Carol Proffer, diretora administrativa da
Mercer Investment Consulting, “então creio que serão muito atraentes”.
Sem dúvida, nem todos estão impressionados com as ofertas. “Não vimos
nada surpreendente nesses programas”, declara Virgil Abesamis, co-
gerente do grupo de serviços de custódia da Callan associates, outra firma
de consultoria de contas de custódia. “Não é nada tão importante que é
preciso assinar o serviço agora”.
Entretanto, isso poderá mudar em breve, já que os custodiantes estão se
apressando a melhorar seus software. No próximo conjunto de
lançamentos de programas, mudarão a ênfase de monitoramento: de
cumprir diretrizes para acompanhar a volatilidade e avaliar o desempenho
em relação ao custo.
O software atualizado do Northern, previsto para este trimestre, ajudará os
patrocinadores a avaliar a qualidade e as características das aplicações em
suas carteiras bem como a qualidade das execuções. Enquanto isso, com
o incentivo de Wein, do Common Fund, o Mellon está tentando encontrar
meios mais simples de exibir arquivos de modo que os usuários não
precisem ficar grudados às telas de seus computadores. A idéia é que o
programa fique atrelado a um programa utilitário, que roda durante a
madrugada para que um relatório das exceções às diretrizes fique
disponível no começo do expediente seguinte.

Alarme – Embora os atuais programas apenas examinam as carteiras
depois que os negócios são executados, no futuro o software poderá soar
alarmes que impedem os gerentes de concluir transações proibidas.
A grande dúvida para os custodiantes é se os patrocinadores de planos
pagarão pelos serviços ou esperam obtê-los de graça. “Esperamos poder
cobrar pelo produto”, diz Over, do Bankers Trust.
Os custodiantes estão cobrando tarifas que variam de apenas US$ 20 mil
até cinco vezes este valor, dependendo da sofisticação do programa, mas
Abesamis, da Callan, declara que “os patrocinadores de planos
definitivamente os querem de graça”. Williams, da IBM, observa: “Creio
que estaremos dispostos a pagar algo”. Quando indagado sobre o valor,
ele simplesmente diz: “É ainda muito cedo para isso”.
Até que ponto as violações a que esses programas se destinam a detectar
são generalizadas? A maioria dos custodiantes reluta em calcular, mas
reservadamente confirmam numerosos exemplos de negociação por
gerentes de fundos de investimentos não autorizadas antes que seus
clientes percebessem o que estava acontecendo. “No meio do mês, pode
haver anomalias, e no fim do mês, tudo volta ao normal”, relata Pryor, do
Mellon, acrescentando: “Algumas dessas coisas podem ser corretas. Mas
os clientes querem ser informados a respeito”.
A introdução de programas de monitoramento levanta outra dúvida
complicada: esse é o primeiro passo dos custodiantes para se expandir
para o negócio de consultoria?
Inicialmente, o Northern Trust considerava seu programa de
monitoramento apenas outro instrumento de análise para oferecer aos
clientes, mas agora o banco está usando-o para contornar o
relacionamento com consultores. O Northern já analisa e ajusta as
diretrizes de investimento dos clientes e recomenda formas de promover
melhor desempenho.

Vantagem – Ao atuar nessa área sensível, os bancos têm uma vantagem
singular: seu acesso a informações. Todos os dias, só o State Street
relaciona os preços de cerca de 350 mil títulos no mundo todo, um volume
a que poucas firmas de consultoria, se é que há alguma, ou fornecedores
de software conseguem se igualar.
Mesmo assim, as firmas de consultoria provavelmente não desaparecerão.
A Barra, por exemplo, está preparando um programa para prever o que
acontecerá se as diretrizes de planos de pensão forem violadas. A Barra
pode ajudar seus clientes a decidir se os riscos da violação de diretrizes
são bastante graves para justificar a ação. “Estamos usando os próprios
ativos nas carteiras de investimento, e não a análise baseada em
retornos”, explica Lisa Baker-Stanton, a diretora de serviços de
patrocinadores da empresa. “Será mais eficaz em previsão”.
Apesar de que os grandes custodiantes reconhecem que seus novos
serviços poderão provocar protestos entre as firmas de consultoria e os
gerentes de fundos, eles acreditam que estão acrescentando um serviço
valioso. Entretanto, Over, do Bankers Trust, soa positivamente “orwelliano”
quando diz que os gerentes de fundos agora têm “um grande irmão que
os vigiam. Estamos nos transformando em policiais de investimento”.