Edição 1
O crescimento dos fundos mútuos transferiu mais riscos para as famílias,
segundo Henry Kaufman, presidente da Henry Kaufman & Co., de Nova
York
O crescimento dos fundos mútuos transferiu mais riscos para as famílias,
segundo Henry Kaufman, presidente da Henry Kaufman & Co., de Nova
York.
Antes, as famílias poupavam em bancos e companhias de seguro, agora,
cada vez mais, o fazem em fundos mútuos, declarou recentemente
Kaufman ao Fórum de Economia Comportamental na Universidade de
Harvard.
Segundo reportagem publicada pelo Pension & Investment, ele explica
que os bancos e as companhias de seguro assumem os riscos de
investimento e os isolam das famílias, mas os fundos mútuos repassam
os riscos aos cotistas.
“Quando os mercados financeiros enfrentam problemas, o banco central
socorre os bancos e existe um sistema de suporte às companhias de
seguro, mas não há nada semelhante para socorrer os fundos mútuos”,
diz Kaufman.
Longo prazo – “Existem 100 milhões de detentores de cotas de fundos
mútuos hoje em dia. Os representantes dos fundos afirmam que os
investidores são de longo prazo e não abandonarão o setor caso o
mercado decline. Mas isso ainda não foi comprovado”, diz. Kaufman
observa que esse é um grupo heterogêneo e questiona: em caso de um
movimento de venda geral no mercado, os investidores ficarão passivos?
Talvez os mais jovens, mas e quanto aos de meia idade? O veredicto não
foi dado”, alerta.
Para ele, os fundos mútuos contribuem para a volatilidade do mercado e a
tendência é de que continue assim no futuro. “Nos últimos 20 anos
assistimos à securitização maciça dos ativos financeiros”,
observou. “Houve expansão acelerada dos instrumentos de crédito
comercializáveis que podem entrar e sair das carteiras de investimento à
grande velocidade”.
Cada vez mais as instituições de poupança são obrigadas a reajustar os
ativos da carteira ao preço de mercado e esta é uma maneira de encurtar
os horizontes de investimento. Quem faz reajuste a preço de mercado já
apurou lucro ou prejuízo e acaba se orientando mais para o curto prazo.”
“Existe a crença de que uma vez que se tenha feito esse acerto, a carteira
de investimento estará ajustada a um preço pelo qual pode ser liquidada.
Isso pode acontecer em algumas épocas. Mas qual o volume que pode
ser liquidado, especialmente em tempos adversos, em oscilações voláteis
de mercado?
Segundo Kaufman, o que há é uma ilusão de liquidez dentro do setor de
fundos mútuos. “Tecnicamente, é fácil para um fundo resgatar cotas dos
investidores, mas a menos que tenha liquidez substancial, ele precisará
vender ações ou bônus. A questão é saber se o mercado consegue
funcionar sob tais circunstâncias”, diz.
Esse aumento de risco no setor doméstico também levanta dúvidas sobre
qual será o comportamento das famílias, caso o valor de seus ativos
venha a cair. “Será que o consumo do setor doméstico, que tem sido um
dos fatores mais estáveis na economia, declinará?”, questiona Kaufman.
Avi Nachmany, diretor de pesquisa da Strategic Insights, de Nova York,
afirma que o setor de fundos mútuos tem evidências suficientes para
prever o que os investidores farão. Em cada mercado declinante desde a
década de 1960, segundo ele, os investidores resgataram menos durante
o período, e não o oposto. Até no Japão, o resgate diminuiu no mercado
em queda, acrescentou. “Isso faz parte da psicologia dos investidores.
Quando as pessoas não sabem o que fazer, fazem menos”, explicou ele.
Ele afirma que o setor de fundos mútuos vem registrando mudanças
estruturais. Agora, mais de 50% dos ativos de contas de ações estão em
contas de aposentadoria isentas de impostos, que são ativos mais
estáveis. “Essas alterações tornaram as atividades do ramo mais
complicadas”, afirmou.
Geoffrey Bobroff, presidente de Bobroff Consulting, de East Greenwich,
Rhode Island, não é tão otimista. Segundo ele, na década de 80 as
pessoas saíram do mercado de ações assim que conseguiram compensar
parte de suas perdas da década anterior.
Classificação – “Hoje os fundos mútuos são uma parte essencial da
estrutura financeira dos Estados Unidos”, afirma. “Temos a imprensa, com
suas edições diárias. Atualmente, obtém-se relatórios de desempenho
todos os dias.”
Bobroff afirma que os investidores praticamente adotaram uma atitude de
dependência cega em entidades como a Morningstar Inc., a empresa de
classificação de fundos mútuos, sediada em Chicago.
“Não sabemos o que acontecerá se as estrelas (que classificam os fundos)
forem retiradas rapidamente. A maior parte do dinheiro vai para os fundos
com classificação de quatro ou cinco estrelas”, comenta Bobroff.
“Provavelmente, teremos uma rápida correção, o que será salutar. Mas
tenho dúvidas se os investidores terão paciência para acompanhar uma
correção lenta”, diz o especialista.