Tudo sob controle | Mercado pede e CVM coloca em audiência públic...

Edição 206

Desde o início do processo de privatizações ocorrido na década de 1990, os fundos de pensão passaram a ter uma relevância maior na gestão das empresas brasileiras. Nos últimos anos de economia estável, esse processo se intensificou, e diversas companhias competitivas até mesmo globalmente passaram a ter fundações em seus blocos de controle e, em alguns casos, com assentos nos conselhos de administração. Desde o final de 2008, com a redução do valor das ações na Bolsa, alguns fundos decidiram ampliar sua fatia em companhias do País, como foi o caso da Petros. Já a Previ – líder em participações em empresas – resolveu colocar o pé no freio, por estar desenquadrada em renda variável. Apesar disso, em maio, a fundação foi protagonista de uma das maiores operações de fusão dos últimos anos, a união de Sadia e Perdigão. Com 12% da Brasil Foods, a Previ se tornou o maior acionista individual da nova empresa.Com o barateamento das ações devido à queda da Bolsa no ano passado — e o fato de, mesmo com a recuperação deste ano, os preços ainda não terem retornado ao patamar pré-crise —, na Petros, o momento é de ir às compras. Em julho, o fundo de pensão aumentou de 10% para 15% sua participação na Lupatech e, em agosto, de 6% para 10% na Log- In. A entidade ainda está de olho em novas aquisições, avaliando que, mesmo com a recuperação dos mercados, os valores dos papéis ainda estão baixos. Com um patrimônio de R$ 40 bilhões, a fundação investe 25,49% em renda variável, sendo que, deste total, 15,83% são destinados à participação em empresas.Os maiores investimentos da Petros estão em Petrobras, Perdigão, Vale, Bradesco, Invepar, Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Itaúsa, Lupatech e Paranapanema. Na maioria dessas companhias, a fundação tem assento no conselho de administração. “Mesmo com a crise, não saímos de posições em participações. Pelo contrário, até compramos mais ações da Lupatech. O que temos feito é aproveitar boas oportunidades”, afirma Luis Carlos Afonso, diretor de investimentos. Segundo ele, a fundação deve ampliar a participação em outras companhias das quais já tem papéis, em especial dos segmentos de logística, agronegócio e infra-estrutura.A Funcef é outra fundação que tem aumentado sua participação nas empresas brasileiras, especialmente nos dois últimos anos, explica Carlos Rosa, gerente de participações da entidade. Hoje, o fundo detém fatia relevante de 13 companhias, entre elas ALL, Telemar, Vale, Invepar, TG Participações, Coteminas e Friboi. “Mas esse aumento se deu mais em termos nominais, porque em termos percentuais houve queda já que, em decorrência da crise, o valor de mercado das empresas baixou muito a partir de julho de 2008”, salienta. Com R$ 37 bilhões em patrimônio, em torno de R$ 11 bilhões estão alocados em renda variável. Desse total, um terço corresponde ao mercado à vista, e dois terços à carteira de participações em empresas — o equivalente a R$ 7 bilhões, sendo que R$ 5 bilhões se referem apenas à Vale.Ultimamente, a carteira de participações relevantes tem se destacado na estratégia do fundo. “Ter mais de 5% de uma companhia e participação no bloco de controle, ou no acordo de acionistas, traz um valor agregado maior do que a carteira de giro”, afirma Rosa.Para este ano, a Funcef diz estar avaliando oportunidades. “De uma forma ou de outra, a crise ajudou a se ter preços mais factíveis, e estamos de olho. Mas não há apetite tão grande, por questões macroeconômicas e limites na nossa política de investimento”, diz Rosa. Segundo ele, a Funcef acredita que a economia do País vai bem, mas ainda há risco de contaminação com a crise nas economias desenvolvidas. Sobre as limitações na política de investimento, ele explica que a meta da entidade é ter 40% do patrimônio em renda variável. Atualmente, esse percentual está no patamar inferior de 35% por conta da desvalorização das ações. “Agora, isso não significa que vamos sair correndo para fazer alocações, porque se fizermos um movimento muito forte de compras, quando a Bovespa se recuperar, ficaremos desenquadrados”, completa.
Previ – A Previ, maior fundo de pensão do País, é um bom exemplo de entidade acionista de peso em grandes empresas brasileiras. A fundação detém ações de Vale, Embraer, Perdigão, Telemar e CPFL, para citar algumas. “Temos também 49% da Neoenergia, que controla, entre outros ativos, Celg, Coelba e Cosern, distribuidoras estaduais de energia de Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte. Fora isso, detemos participação na Randon e na Coteminas, além de 40% na Invepar, uma holding da área de concessões que tem o Metrô Rio, a Raposo Tavares e a Linha Amarela entre os ativos”, enumera Joilson Rodrigues Ferreira, diretor de participações da Previ.Por ter uma grande concentração de sua carteira de investimentos em renda variável, a Previ está desenquadrada, pelas regras em vigor para as entidades fechadas de previdência complementar. Em 31 de março deste ano, 59,52% dos recursos estavam em renda variável, o equivalente a R$ 72,397 bilhões, enquanto o limite imposto pela legislação é de 50%. “Estamos nos esforçando para nos adequar, e o prazo para isso, inclusive, foi estendido. O fato é que somos muito grandes, um movimento de venda expressiva poderia trazer perdas ao valor do ativo”, comenta.A questão do desenquadramento motivou o fundo a sair e a continuar saindo de alguns investimentos, inclusive minoritários, em empresas brasileiras. Mas isso não quer dizer que a entidade tenha deixado de fazer compras no mercado. Elas acontecem, mas mais para a carteira de giro. “A nossa indicação por conta do desenquadramento é de desfazimento das posições, mas é preciso ter valor na operação. O momento tem de ser adequado para a saída”, diz Ferreira.
Governança – Uma das vantagens para as companhias em ter um institucional entre seus acionistas é o fato de se tratar de um investidor de longo prazo e não de um especulador. Adicionalmente, é frequente atribuírem ao fundo de pensão um papel de investidor que agrega governança corporativa à companhia. Segundo analistas de mercado, há companhias cuja imagem se valorizou especialmente após receberem aportes de fundos de pensão. Algumas citadas foram Invepar, CPFL e Perdigão.Quando uma fundação entra em uma empresa, trata-se de uma aplicação de dez a quinze anos para maturar, explica Rosa, da Funcef. “Obviamente, se houver oportunidade de saída vantajosa antes disso, ela é feita. Da mesma forma, se uma saída estiver prevista e o mercado não estiver bom, seguramos um tempo.” Nos últimos anos, os fundos de pensão têm aperfeiçoado sua capacidade de participar da gestão de grandes companhias, afirma Afonso, da Petros. “Temos alguns princípios para nós muito importantes, como transparência e boa governança, valores que, para o mercado, são muito positivos”, diz. Para ele, no médio e longo prazo a participação dos fundos nas empresas tende a crescer por conta da estabilidade econômica e pelo fato de a crise não ter afetado o Brasil tanto quanto os demais países. “Além disso, essa própria mudança de patamar de juros nos leva a diversificar.” O aprimoramento da governança corporativa é justamente, na visão da Previ, uma das principais contribuições dos fundos de pensão para com as empresas. Ferreira argumenta que diversas companhias que eram controladas diretamente pela Previ e seus parceiros foram levadas ao Novo Mercado da Bovespa, “já com governança bastante avançada”. “Não temos outro objetivo que não seja fortalecer e valorizar a empresa, porque nosso ganho se dá por meio desta valorização. Não há nenhum outro tipo de relacionamento com a companhia. Isso facilita, porque você consegue separar mais facilmente o papel do acionista do papel do executivo”, afirma. Ferreira conta que a Previ tem apostado muito na profissionalização da gestão das empresas de modo geral. Ele diz, por exemplo, que em nenhuma das companhias em que a entidade possui participação relevante existe um diretor indicado pelo fundo de pensão.Ferreira conta que a Previ tem um manual de governança próprio, por meio do qual a entidade faz indicações às empresas sobre seus conceitos de melhores práticas. Esse código, de acordo com o diretor, não fica só na prateleira. “Promovemos debates com os executivos e conselheiros e apontamos aquilo que, na nossa visão, não está adequado em termos de governança”, acrescenta. “O investidor sabe que naquela empresa não há nenhuma caixa-preta”, opina.
Movimentando a economia – Para Afonso, da Petros, ao investir em empresas, os fundos de pensão estão contribuindo para a expansão da economia. “É um círculo virtuoso. Ao receber recursos de um investidor de longo prazo, a empresa investe, contrata, gera mais consumo”, diz. “E, para o fundo de pensão, gera resultados.” Ferreira, da Previ, completa que o fundo tem um papel importante na geração de riqueza para o Brasil. “Estamos falando de muitos investimentos vitoriosos, e se não fosse o capital da Previ, possivelmente algumas empresas não estariam no estágio em que estão”, afirma. O diretor comenta ainda que, mesmo no que se refere a casos não tão vitoriosos, a fundação raramente abandona seus ativos. “Fazemos de tudo para recuperar o valor das empresas”, diz, citando o exemplo da Kepler Weber, que passou por uma crise posteriormente resolvida. “É claro que a negociação foi dura. Exigimos dos credores alguma flexibilidade.Não foi uma questão da gestão, foi uma crise mais estrutural. E nós conseguimos. Que outros acionistas fariam isso?”, coloca.O diretor cita ainda o caso da Paranapanema. Segundo Ferreira, o endividamento da empresa, de mais de R$ 1 bilhão, foi sanado graças a uma negociação com os credores. “Uma parte da dívida foi paga e a outra, convertida. Hoje a companhia não está mais endividada. Vendemos alguns ativos nesse período, para que nossa estratégia desse certo”, conta, referindo-se à venda da Companhia Paraibuna de Metais para a Votorantim Metais, em 2002, por US$ 100 milhões, e, no ano passado, da Mineração Taboca, para a Serra da Madeira Participações, por R$ 850 milhões mais ajustes.