Edição 353
A Índia tem 1,4 bilhão de pessoas e está ultrapassando a China como o país mais populoso do mundo. O continente africano tem outro 1,4 bilhão de pessoas.
Não se pode ver a Índia como um país exótico, pois na verdade está cada dia mais integrado ao mundo. Também não se pode olhar a África apenas com olhos do passado.
Demograficamente, a população da Índia tem em média 28 anos de idade, ou seja, dez anos mais jovem, em média, que a população chinesa. A economia da Índia tem crescido a 6,5% ao ano e, até 2030, será a terceira maior do mundo.
Como nos advertiu a professora Mariana Faiad em recente seminário no Instituto San Tiago Dantas, a Índia vai muito além do estereótipo da “terra da yoga” ou dos “gurus”.
Governada por décadas pelo Partido do Congresso, com forte viés estatizante, a partir do início dos anos 1990 a Índia começou a abrir sua economia.
É verdade que dentro da Índia há várias Índias, pois apresenta grandes desigualdades socioeconômicas, étnicas, religiosas e linguísticas, para não se falar de um regime de castas que ainda resiste. Entretanto, trata-se de um País que está em franco desenvolvimento, com a rápida ascensão de uma grande classe média ansiosa por mais consumo e mais integração. São famosos os Institutos de Tecnologia, que produzem quadros e lideranças pelo mundo afora, tendo como exemplos o CEO da Microsoft e do Grupo Alphabet (Google).
Ao participar do Fórum Econômico de Davos, em janeiro de 2023, Natarajan Chandra, CEO do Grupo Tata, um dos maiores do país, afirmou que “a digitalização da economia indiana levará à sua formalização”.
Hoje, sob o Governo do Primeiro-Ministro Narendra Modi, do Partido do Povo Indiano, apesar de algumas políticas internas polêmicas e conservadoras, a Índia tem conseguido manter uma política externa de não alinhamento automático, ora flertando com os Estados Unidos, ora reafirmando vínculos históricos com a Rússia, e sempre mantendo uma relação de desconfiança com a China.
Ao lado do Brasil, a Índia faz parte do BRICS. Na Presidência rotativa do G20, sediará neste ano o encontro entre os países membros e, certamente, fará desse evento uma chamada de holofotes para sua gradual inserção no tabuleiro global das grandes economias.
Outra região que merece nossa atenção é a África, um continente de 54 países, dos quais vale destacar a África do Sul, Nigéria (com a mesma população do Brasil), Quênia, Egito, Tanzânia e Angola.
Os laços históricos e as afinidades culturais entre Brasil e África são importantes e merecem ser cultivados. Porém, é preciso olhar para a frente e fazer com que tais vínculos funcionem como um positivo ponto de partida, identificando oportunidades de negócios.
Por ser a região geográfica com a população mais jovem do mundo (em média 19 anos de idade), a África pode ser um dos protagonistas em temas como transição energética, mudança climática e inovação. A cada ano, dezenas de milhões de pessoas são integradas ao mercado de consumo.
É fato que vários países da África enfrentam enormes desafios, alguns deles parecidos com os do Brasil, como acentuada desigualdade social, crescimento assimétrico, violência e crises episódicas na governança política. Esse é o lado bastante conhecido e exponencializado pela grande mídia. Vários países, assim como nós, são produtores e fornecedores mundiais de commodities.
Por outro lado, há experiências muito positivas na África e que podem ser compartilhadas com o Brasil. O Quênia, por exemplo, tem se destacado por várias iniciativas no campo da inovação, com muitas startups e algumas empresas unicórnios a cada ano. A indústria do cinema da Nigéria (Nollywood) já tem muito a nos ensinar para uma economia do entretenimento. O turismo da Tanzânia chama a atenção pelo seu crescimento. A África do Sul, país de Nelson Mandela e Elon Musk, é um centro irradiador de experiências no mercado financeiro. O Egito tem procurado se situar como um hub entre o continente e o Oriente Médio.
Como diria o diplomata e historiador Alberto da Costa e Silva, entre o Brasil e a África há apenas um “rio” chamado Atlântico.
Índia e África não podem ser vistas como regiões exóticas e distantes. Sem preconceitos, constatamos que há em tais regiões, assim como no Brasil, jovens ávidos por conhecimento, empreendedores dinâmicos e uma luta incessante para superar atrasos históricos e construir um novo amanhã.
Nos campos da saúde, indústria farmacêutica, sistema previdenciário, seguro, energia, mercado de capitais, resolução de conflitos, agricultura e indústria do entretenimento, tem muita coisa que pode ser objeto de relações do Brasil com a índia e com a África.
Adacir Reis é presidente do Instituto San Tiago Dantas de Direito e Economia, sócio do Escritório Adacir Reis Advocacia e ex-Secretário de Previdência Complementar