Edição 338
Sabemos que o principal objetivo do regime de previdência complementar é prover rendimentos adequados para a aposentadoria de cada participante. As contribuições efetuadas ao longo da vida laboral do participante bem como o retorno dos investimentos são os fatores-chave para determinar o valor das aposentadorias. O estudo de caso do Fundo de Pensão do Governo Norueguês (GPFG) mostra que o retorno dos investimentos no longo prazo é impulsionado mais pela estratégia de alocação em classe de ativos dos planos de pensão e menos pela escolha individual de cada ativo.
O GPFG, também conhecido como o Fundo de Petróleo, é atualmente o maior fundo soberano do mundo, com ativos de $1,34 trilhões de dólares. O fundo norueguês foi criado em 1990 para investir as receitas governamentais provenientes das indústrias de combustíveis fósseis em setores considerados mais sustentáveis.
De acordo com o Ministério das Finanças da Noruega e o Conselho Estratégico do Fundo de Pensão do Governo Norueguês, a estratégia de investimento do fundo é sustentada por seis pilares principais:
1 – enfoque em capturar prêmios de risco através da alocação de ativos (multifatores);
2 – crença de que os mercados são largamente eficientes;
3 – compromisso de diversificação;
4 – benchmark claramente articulado;
5 – seleção cuidadosa e monitoramento dos gestores terceirizados;
6 – um compromisso de investimento responsável.
Tradicionalmente, a abordagem de construção de carteiras de investimento tem sido uma abordagem simples baseada em seleção de ativos individuais. Os blocos de construção da carteira são ativos individuais, tais como ações e títulos de renda fixa, categorizados em grupos com base no tipo de instrumento e localização geográfica. Esta abordagem está de acordo com o modelo CAPM onde o único fator de risco corretamente precificado é o beta de um ativo, isto é, sua sensibilidade aos movimentos do mercado, e que a parte não sistemática do risco da carteira pode ser reduzida por meio de estratégias de diversificação.
Porém já tem sido amplamente estudado e evidenciado (Fama-French, 1993 e 2015) que ao contrário do que dita o CAPM, o risco sistemático não pode ser traduzido em apenas um fator de risco, mas sim por vários fatores distintos que impactam os prêmios de risco. Modelos multifatores, ou seja, modelos que afirmam que o retorno de um ativo é sensível aos movimentos de vários fatores (por exemplo qualidade, valor, tamanho, liquidez), ou índices, e não apenas aos movimentos globais do mercado, dão uma dimensão adicional ao risco e retorno das estratégias de investimento.
Desde sua concepção, o GPFG enfocou sua estratégia de gestão na seleção das classes de ativos que acreditam gerar maior prêmio de risco em linha com o modelo de mutlifatores acima descrito. Desta forma, a decisão do percentual investido em diferentes fatores (renda variável x renda fixa; global x local; distintos setores, value x growth etc.) se mostrou determinante para explicar o desempenho bem sucedido do fundo. Um estudo de 2015 (the Norway Model, 2015) mostrou que mais de 66% do retorno do Fundo de Pensão do Governo Norueguês é explicado estatisticamente por fatores de riscos sistemáticos, isto é, pela alocação de ativos.
Fica assim a observação e conclusão que para investidores com longo horizonte de investimentos e substanciais volumes investidos, tais como fundos de pensão, o foco da construção do portfolio deve estar nas classes de ativos escolhidas e em estratégias que melhor capturem as exposições a estas classes de ativos.
Fonte: The Norway Model; David Chambers, Elroy Dimson And Antti Ilmanen; outubro 2011; Asset Allocation of Pension Funds; Melbourne Mercer Global Pension Industry; março 2015
Paula Salamonde é diretora da BlackRock Brasil