Edição 351
Qualquer economia depende para investir de poupança interna, na falta dela teremos que recorrer à poupança externa. As necessidades básicas da população, além do financiamento da saúde, educação, moradia popular, dentre as várias tarefas do estado brasileiro, limita os investimentos em obras de infraestrutura necessárias.
Vou procurar mostrar aqui como a poupança interna – no caso, a poupança previdenciária dos trabalhadores nos seus fundos de pensão –, podem ser inseridos nesse processo.
Fundamentalmente investindo suas reservas financeiras na economia real.
Quando investimos na economia real geramos novos empregos, que geram renda, que por sua vez geram consumo, que automaticamente estimulam a produção, gerando crescimento, que por consequência aumenta a renda, criando as condições para um crescimento sustentável.
Portanto, o investimento dos Fundos de Pensão em infraestrutura, e na capitalização das empresas, ambos geram o impulso necessário para que esse processo aconteça.
Sim, aqui temos o círculo virtuoso. A questão é: como inserir o fundo de pensão de forma proativa nesse círculo?
No Brasil nós temos hoje aproximadamente 273 Fundos de Pensão Fechados com empresas patrocinadoras, plano de instituidores, entes da união, estado e município, com cerca de 2.893 milhões de participantes ativos; mais 682 mil participantes assistidos (aposentados), e 197 mil pensionistas. Sendo que no conjunto, esses fundos de pensão têm reservas no valor aproximado 1.3 trilhões de reais.
Apesar de que, em algumas décadas não termos ampliado nossa participação no PIB, hoje o patrimônio dos Fundos de Pensão no Brasil representam 13,4% do produto interno bruto do país. E por que não estamos inseridos nesse processo de forma mais significativa?
Basicamente a resposta está na taxa básica de juros da nossa economia que paga por meio dos títulos públicos (inflação mais 6%aa) o suficiente para batermos nossas metas atuariais, levando automaticamente à direção dos nossos investimentos para esse segmento. Ainda que todos saibam que no longo prazo, essa taxa de juros não deva se manter, é o que leva no futuro, os gestores a uma inexorável necessidade de diversificação em outros segmentos que respondem por retornos maiores.
Os fundos de pensões brasileiros têm a maior parte dos seus investimentos aplicados em Títulos Públicos e em Renda Fixa, ao redor de 80%. Considerando dados da própria Secretaria de Previdência Complementar – do Ministério do Trabalho e Previdência. A composição da carteira de investimentos (em junho de 2022) era: 62% investido em Títulos Públicos; 14% em Renda Fixa, (CDBs, Títulos de Privados); 13% em renda variável; 5% em imóveis, 6% em outros – (Private Equity, Fundos Imobiliários, FIPS, Fundos de Investimentos, Multimercado).
O capital acumulado em Previdência Privada nos países desenvolvidos serve de alavanca econômica para seu crescimento – nos Estados Unidos (o maior deles), Reino Unido, países nórdicos –, supera os respectivos PIBs; nos Estados Unidos o montante é de 169% do PIB. E seus investimentos estão alocados 34% em ações de empresas por meio das bolsas de valores, participando da capitalização das mesmas e assim, gerando riqueza e empregos.
Outro segmento que também investe na economia real são os chamados investimentos alternativos (Fundos de Private Equity, Hedge Funds, Real Estate) entre outros, tendo em sua maioria retornos superiores ao segmento de ações (com retornos no longo prazo), neste segmento, o volume de investimentos, pasmem, é o maior: próximo de 43%. Para completar, a alocação em letras e títulos (renda fixa) é de 21%, e somente 2,3% em dinheiro e depósitos.
No Brasil, são os Fundos de Pensão Fechados que têm vocação para investimentos de mais longo prazo e na medida em que os retornos dos investimentos pertencem às reservas dos participantes, a busca de retornos superiores na economia real é que irão viabilizar o equilíbrio atuarial nos Planos de Benefício Definido ou benefícios maiores nos Planos de Contribuição Definida. Este casamento de interesses os impulsiona a serem players qualificados na busca de geração de riqueza, criando as condições de alavancarem este círculo virtuoso, gerando riqueza e empregos e ao mesmo tempo remunerando o capital dos trabalhadores acumulado em suas entidades de previdência, gerando retornos acima das suas metas atuariais para garantir no futuro os pagamentos de seus benefícios.
Fábio Mazzeo é associado à Fram Capital e ex-presidente da Fundação Metrus (1995 a 2015)