Edição 362
Escrevo esse artigo nos dias finais de 2023, momento em que tudo indica que os resultados das EFPCs serão positivos no ano, superando as metas atuariais – talvez não os benchmarks de mais curto prazo, mas as metas estão, seguramente, bastante bem encaminhadas.
Apesar disso, não se pode dizer que o ano foi simples! No mercado local, devemos lembrar as incertezas quanto ao arcabouço fiscal e quanto à reforma tributária, além das pressões sobre o Banco Central. Por ora, todos esses temas estão aparentemente superados, mas todos eles trouxeram volatilidade ao mercado e, talvez, ainda possam vir a trazer.
Inegavelmente, o que pautou o mercado financeiro esse ano foi a curva de juros americana, por vezes mais volátil que a brasileira. É simples olhar para o histórico recente dessa curva e verificar que, em 12 meses, o mercado financeiro mudou radicalmente de opinião sobre o seu comportamento em pelo menos 4 ocasiões.
Mais recentemente, com a crença de que não há, definitivamente, necessidade de manter os juros tão altos por tanto tempo, os investimentos voltaram aos ativos de risco, contribuindo para excelentes resultados. Mas será que isso mudará o rumo dos investimentos em 2024?
Por enquanto, parece-nos que a resposta é negativa. O consenso de mercado ainda aponta para juros altos no ano que vem, com inflação bastante controlada, o que gera um juro real bastante elevado – talvez menor do que o juro real de 2023, mas ainda assim suficiente para o atingimento das metas.
Em razão disso, e considerando as diversas incertezas que ainda pairam sobre o mercado, não temos visto incremento relevante de risco nas políticas de investimentos. Alguns ajustes finos, é claro, sempre são bem-vindos. Mas ainda não esperamos, pelo menos para o início do ano que vem, mudanças estruturais no risco das carteiras das EFPCs.
Por outro lado, temos visto especial atenção quanto aos limites (ou “bandas”) das classes de ativos mais arriscadas – Renda Variável, principalmente. Ainda que todos os estudos demonstrem a inviabilidade prática de “timming” de mercado, a questão aqui parece um pouco distinta.É inegável que, nos últimos anos, o mercado tem estado muito mais volátil do que em anos “normais”. A pandemia nos deixou um legado, em termos econômico, de alinhamento de ciclos dentre os diversos países, o que não é usual. Esse alinhamento tem potencializado os efeitos de crises regionais, e o mercado está, certamente, muito sensível a isso.
Com tamanha volatilidade, não surpreende o fato de as EFPCs trabalharem com limites mais amplos para as classes de ativos, com o intuito de fazer ajustes pontuais em sua alocação ao longo do ano. Não se trata de querer antecipar movimentos táticos de curto prazo, mas sim de ter maior flexibilidade de adaptação aos diversos cenários possíveis.
Também temos visto maior atenção aos controles de risco, em especial no caso de crédito, provavelmente em função da série de eventos a que assistimos ao longo de 2023. Controle de risco é sempre importante, mas certamente volta à pauta como tema principal em momentos como o atual para o mercado de crédito privado no Brasil.
Entraremos em 2024 com pés no chão e preparados para diversas possibilidades. Como sempre, não temos como controlar o que vai acontecer, mas acredito, sinceramente, que as EFPCs estão cada vez mais preparadas para navegar em mares diversos. Que tenhamos todos uma boa jornada.
Guilherme Benitez é sócio e diretor da Aditus Consultoria Financeira